Híbridos é um documentário que tem um alcance bem maior do que aparenta.
Produzido por Fernanda Abreu e dirigido pelos franceses Priscilla Telmon e Vincent Moon, o documentário toma como base a diversidade religiosa brasileira. Mais do que apenas falar sobre as várias vertentes religiosas de nosso país, Híbridos traça paralelos entre as religiões de forma extremamente inteligente.
País religioso.
O Brasil é um país diferenciado. Apesar de ter uma maioria católica (segundo o Censo), a quantidade de evangélicos, espíritas, judeus, muçulmanos, praticantes de religiões africanas e outra infinidade de denominações religiosas é grande. Mais do que isso, o país é multirracial, laico e permite a livre expressão, inclusive a religiosa.
E qual é o destaque de Híbridos em relação aos outros filmes e documentários que abordam o tema da espiritualidade brasileira? O longa-metragem tem a coragem de destacar as similaridades entre algumas religiões brasileiras, incluindo os rituais indígenas. Isso acontece sem que haja ofensas ou privilégios à fé praticada por qualquer grupo que seja.
O importante, segundo o filme e segundo meu pensamento, é frisar que a fé é destinada a aproximar o ser humano do mundo espiritual, das divindades ou divindade, conforme o credo.
Rituais.
Priscilla Telmon e Vicent Moon foram muito inteligentes ao compor as cenas de forma que as partes mais fortes fiquem na mente do espectador e, pouco depois, quando entra outra religião, é possível associar as partes iguais ou parecidas.
Alguns exemplos claros são:
No candomblé pessoas “recebem” o santo e giram enquanto falam de forma incompreensível. Em contrapartida, em um grupo evangélico, mulheres giram e gritam enquanto exorcizam demônios. As atitudes e gestos são muito parecidos.
A igreja católica se vale do incensário em seus rituais. De forma similar, grupos de umbanda usam os “defumadores”, basicamente a mesma peça que é chamada de incensário pelos católicos.
Cristãos chamam Deus de O Todo Poderoso. Indígenas o chamam de Grande Espírito.
Rituais de exorcismo são praticados por cristãos, índios e evangélicos. O passe espírita é usado para limpeza espiritual e corporal, assim como alguns índios se valem dos pajés para remover maus espíritos.
Preciso destacar os rituais de alimentação dos orixás que existem nas religiões afro. Esse ritual é praticamente o mesmo descrito no Velho Testamento quando Deus pede que sejam feitos sacrifícios em holocausto. Alguns ofertam alimentos, enquanto outros optam por sacrificar animais.
Os Brasis.
Somos um povo multicultural, cheio de diferenças que fazem com que mineiros sejam muito diferentes dos gaúchos, por exemplo. Essa diversidade também está presente nas religiões. Nosso país é continental, recebe muitos imigrantes e, ao longo do tempo, foi mesclando culturas e comportamentos. Na fé isso também não é muito diferente.
Elementos de costumes europeus, africanos, italianos, japoneses e tantas outras culturas do mundo estão presentes na nossa formação como povo. Hoje, é possível dizer que no Brasil tem a população mais homogênea do mundo, ainda que traços regionais indiquem a origem das pessoas.
A fé também sofreu com essa miscigenação. Culturas fundidas ao longo de gerações, dogmas absorvidos no todo ou em parte. Não é possível descrever um brasileiro com precisão, tal é a variedade e diversidade dos humanos. Rituais de uma “seita” foram incorporados pelo passar do tempo. A diversidade é própria de um povo composto por pessoas tão diferentes, porém unidas por suas fés.
Papel da fé.
Estar perto de Deus ou seja qual for o nome usado para designar o ser superior que criou ou coordena nosso mundo é algo quase universal. Buscamos por alento através da fé. A fé que crê no invisível, que promete recompensas aos bons, que repugna o mal.
Híbridos é um achado por não ter medo de destacar os sacrifícios dos fiéis, a vontade incontrolável dos que querem uma benção, as nuances para que seja feito o contato com o Criador, a luta pela cura de um mal que aflige o crente.
De todas as definições de fé, creio que a mais correta seja esta: a fé é o freio moral e espiritual para nossos instintos destrutivos, não importa qual a cor, raça ou credo.
O projeto “Híbridos”
Híbridos não se restringe ao filme. Hoje, Híbridos online significa: 51 rituais, 94 filmes, 75 álbuns de música, 36 entrevistas (e algumas mais por chegar). É a maior base de dados sobre a cultura espiritual brasileira já feita, disponível gratuitamente sob licença Creative Commons.
Então, acesse os links acima e desfrute de ótimas entrevistas, cenas em locações verdadeiras e obras que servirão para consultas das futuras gerações. No final do post há uma programação especial para o morador do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal que deseja assistir performances ao vivo, ver o filme e acompanhar debates sobre a obra.
Enfim, são muitos os destaques que vocês verão em todo o documentário. Tudo de forma muito suave e silenciosa. Depoimentos são desnecessários, já que as imagens e as ações das pessoas falam por si.
O lançamento oficial do filme no Brasil é em 15 de março de 2018 e depois, em outras partes do mundo.
PROGRAMAÇÃO
★ MARÇO ★
15 • Lançamento do filme nos cinemas do Rio de Janeiro e São Paulo. Programação completa em breve!
15 • Performance Híbridos AO VIVO no Teatro Cacilda Becker, Rio de Janeiro
17 • Performance Híbridos AO VIVO em colaboração com Leão Etíope do Méier e Projeto Cinemão na Praça Agripino Grieco, Méier (RJ)
28 • Exibição do filme na Mostra do Filme Livre seguida de debate, no CCBB, 18:30 (RJ)
31 • Performance Híbridos AO VIVO com Ilú Obá de Min no Viaduto do Chá (SP)
★ ABRIL ★
04 • Exibição do filme na Mostra do Filme Livre seguida de debate, no CCBB, 19:00 (SP)
24 • Exibição do filme na Mostra do Filme Livre no CCBB, 19:00 (DF)
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