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Rota 66 – Caco Barcellos. Análise de um impressionante livro.

Rota 66 – Caco Barcellos. Análise de um impressionante livro.
  • Publicado em: fevereiro 27, 2018

“Cuidado, pessoal, lá vem vindo a veraneio. Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho.
Com números do lado, e dentro dois ou três tarados Assassinos armados, uniformizados.”*

*O clip de Veraneio Vascaína está no final do post!

Essa estrofe poderia ser o início do livro que vou falar um pouco agora, mas esse refrão está alguns anos à frente, composto por Renato Russo e Flávio, que após uma suposta história de abordagem policial no início da década de 80 sofrida por Renato, surgia uma das músicas mais icônicas sobre o veículo mais demito sobre a radio patrulhas da rua de Brasília e São Paulo pelas décadas a frente após a sua criação.

Rota 66 é um livro sobre a polícia que mata no estado de São Paulo, uma obra elaborada e idealizada pelo estudo do repórter Caco Barcellos, um retrato real e documentado por fatos e provas levantadas diretamente pelo os arquivos do Estado de São Paulo, durante sete anos de trabalho com muitas dificuldades e principalmente pela vivência, destes casos de perto. Caco Barcellos traz desde o período da formação da tropa de elite do ano de 1970 até meados de 1990 os dados mencionados no Livro!

O livro tem a abertura com uma perseguição de carro alucinante e uma dramatização de roteiro de filme. Essa história será o pano de fundo e que será desembaraçada durante quase todo o livro. Neste início, Caco descreve a perseguição entre o fusca azul de Noronha e seus amigos, jovens da classe média, que após tentarem roubar um toca fita, são perseguidos pela tropa de elite de policiais de São Paulo a ROTA que tem como sua marca a Veraneio Vascaína e o histórico de mortes mais elevado do que os tempos de ditadura. Essa perseguição tem o cenário das ruas do centro de São Paulo, e o desfecho mais aterrorizante que já li em um livro.

Quando comecei a leitura já tinha uma ideia do que iria encontrar, mas não com tantos detalhes e narrativas, que me deixaram indignado e ao mesmo tempo assustado. O primeiro pensamento que tive é que poderia ter sido eu em um dos casos ou ter algum conhecido retratado pelo livro, por ser morador de uma periferia de Osasco e tão próximo a alguns casos que Caco descreve no livro. A minha segunda impressão foi o adjetivo forte empregado por Caco aos policiais da ROTA, “Matadores”; essa palavra me deixou realmente impressionado, por saber que não tivemos e não temos uma polícia efetiva e honesta, mas que nunca na minha análise de cidadão da própria periferia, iria colocar esse adjetivo que traz, como as Letras de Renato e Flávio, a conotação de assassinos e tarados, homens que serão em seus registros de carreira policial retratados como heróis, só por terem ao seu lado a Lei.

Os registros colocados no livro demostram o que sabemos que na realidade das ruas e das periferias a classe que mais sofreu é a dos pobres, devido a cor da pele e da localização geográfica de onde moram, mas não deixando de lado os jovens como Noronha e seus amigos e os próprios policiais que também sentem na carne a dor da perda e do descaso do Estado, quando são envolvidos do outro lado da história.

Caco Barcellos deixa bem claro que a grande maioria dos policiais não segue a cartilha adotada pelos matadores. Estes têm como padrão de conduta os mesmos do regime militar deste período e que se estenderão até o final da década de 80, onde é comum a tortura e a descaracterização das cenas dos crimes. Muitos destes casos de assassinatos gerarão condecorações e elogios aos Matadores que iriam levar ao crescimento na carreira de policial e dar a possibilidade de conseguir cargos públicos no futuro, como Secretários do Estado, Vereadores e Deputados.

Ao final do livro me senti parte de uma sociedade carente de justiça, plena de muita dor, por saber que o Estado foi omisso no passado e que os homens que deveriam proteger, assumiram a vontade de matar para satisfazer seus egos e conseguir crescer através de mortes de inocentes ou daqueles que mereciam o julgamento justo da sociedade.

Infográficos pelo jornal Estadão

http://infograficos.estadao.com.br/especiais/rota-66-confissao/noite-do-crime

Written By
Marcos Santiago

Contador de Formação. Agora vai... Vai, criança Beija-flor, ô ô. Voar no azul do infinito .Quem semeia paz e amor (paz e amor). Faz o mundo mais bonito. Se esta via fosse minha. Eu mandava ela brilhar. Com as cores do meu mundo de alegria Só pro tempo não parar

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