Resenha das edições de Planeta Hulk 1 e 2, da editora Salvat.
Esta é uma das edições mais icônicas do Hulk. A trama aborda uma das maiores traições de maior impacto que li até hoje nos quadrinhos, arquitetada pelos Illuminati, um grupo constituído por Reed Richards, Tony Stark, Namor, Raio Negro e Doutor Estranho. Juntos, eles mandam o Gigante Esmeralda em missão fora da Terra, mas a verdade é que por trás disso tudo estava, infelizmente, o banimento do Hulk (não aprovado por Namor). A nave que o levara para a missa fora programada para enviá-lo a um longínquo e calmo planeta onde, presumivelmente, a paz finalmente englobaria o monstro.
Mas é nos detalhes que o demônio se esconde…
O Êxodo forçado leva o Golias a um planeta, porém bem diferente daquele imaginado por seus algozes. Lá, Hulk se vê diante de uma nova Roma Imperial, um lugar onde a violência rege e a escravidão ainda é lei. Mas estamos falando do Hulk, certo? O que poderia intimidar ou parar o mais temido herói da Terra? Alguns “pequenos” detalhes surgem, sendo responsáveis pelo curvar do Hulk.
Frente a um universo novo, repleto de criaturas tão poderosas quanto ele, o ex-Vingador descobre que é preciso aprender a sobreviver. Preso, torturado e limitado por um artefato que o obriga a obedecer, o Hulk é transformado em um objeto de entretenimento para um público sedento de sangue.
Assim como ocorreu no filme Gladiador, de Ridley Scott, o que vemos em Planeta Hulk é a verdadeira jornada do herói. O monstro se transforma em esperança conforme as agruras vão lhe moldando o caráter. Essencialmente, há a metamorfose de uma criatura indomável para um líder tribal. A jornada em questão diz respeito aos ritos de passagem que moldaram o Gigante. O roteirista nos leva a crer que esta foi uma espécie de purgatório, uma senda que é indispensável para mostrar as duas faces de uma moeda cuja cara já era do conhecimento do Hulk, porém ele nunca vira a coroa.
Um épico precisa de coadjuvantes e é aí que entra um grupo de párias, também escravos, que se tornam aliados do Hulk. Óbvio que as diferenças geram alguns entraves iniciais, porém nada que os impeça de enxergar que, juntos, são mais fortes. Esse pacto é forte a ponto de transpor mundos e crenças.
Em meio a tantos danos e agruras está faltando citar a fonte de tamanho caos: o Imperador, o temido Rei Vermelho. Este é outro ponto muito próximo à visão de Ridley. O Imperador é uma criatura fraca em sua essência, que se vale de uma armadura e seu exército para impor o medo. Commodus, no filme Gladiador, é um bom lutador, mas nada que mereça destaque. Sua maior qualidade é o dom de manipular o medo de um povo oprimido. Isto também ocorre em Planeta Hulk, talvez com mais crueldade ainda. O Filho de Sakaar, como é conhecido o Imperador, governa pela morte. Tribos são exterminadas para seu prazer. Escravos são jogados em arenas para sua diversão. Essencialmente, ele é um tirano que arquiteta sua manutenção do poder ao preço do fim de incontáveis vidas… até a chegada do Golias Verde.
O escravo e seu mestre são postos em uma mesma arena para lutar. Entretanto, como anteriormente dito, o Hulk está sob o controle de um dispositivo que o impede de reagir à altura. Mesmo assim eles combatem em igualdade de condições, até que ambos são feridos no rosto. Derrotado, o Hulk e seus companheiros de escravidão são mandados para uma prisão cujos trabalhos forçados e os monstros que lá vivem, provocam a morte da maioria de seus condenados.
Desconsiderem, por favor, a animação com o mesmo nome. Ela tem um tom bem mais brando e coloca no lugar do Surfista Prateado uma versão do Thor.
A graphic novel é infinitamente melhor.
Só que estamos falando de um dos mais poderosos seres do universo Marvel…
O que vocês verão a partir daí é uma ascensão fantástica, onde a raiva incontrolável é balanceada por um senso de sobrevivência e justiça. Essa “evolução” também ocorre com um dos aliados do Hulk.
A verdade é que o roteirista Greg Pak bebeu de muitas fontes e, felizmente, soube conciliá-las com a mitologia do Gigante Esmeralda. Essencialmente, seu trabalho ganhou ares de um clássico quando unido ao traço de Carlo Pagulayan, responsável por captar com brilhantismo as cenas de ação e ódio indescritíveis e, em contrapartida, os momentos – breves – de paz e amor que Hulk (e Banner) viveram.
Agora, se não quiserem ler um Spoiller nível máximo, parem por aqui…
Não pararam? Ok. Agora é por sua conta e risco.
Hulk consegue derrotar o tirano Rei Vermelho, o Imperador de Sakaar. Ele também obteve o coração da principal guerreira do Rei, Caiera, a Fortaleza. Juntos, Caiera e o Holku (como também é conhecido) tornam-se rainha e rei de Sakaar, trazendo a paz de volta ao planeta. Mas é sobre o Hulk esta história e, como sempre, os finais felizes não são algo a se pensar.
Um núcleo de dobra da nave que o exilou tem seu motor comprometido. Apesar da paz e da reconstrução da cidade e das vidas no planeta, este problema gera uma explosão de nível nuclear, o que provoca a morte de milhões de seres, incluindo a rainha Caiera.
Alguns sobreviventes aparecem. Entre estes os aliados de Hulk, seus companheiros do Pacto de Guerra. Diante de tal desolação e com o coração corrompido por um ódio nunca sentido, Hulk e seus aliados partem para a Terra. É hora da vingança. É hora de mostrar que nada, nada na Terra pode parar um monstro que bebeu, brevemente, da fonte da felicidade e a teve roubada.
É hora do Hulk contra o Mundo. Mas esta é uma história a ser contada aqui… em breve.
P.S: espero sinceramente que a Marvel aproveite o potencial desta trama de forma correta um dia. O uso de parte dela em Thor – Ragnarok ficou fraca e não trouxe nada do drama que envolve o arco Planeta Hulk. A animação foi realmente mais simples e menos violenta para que o público infantil pudesse ter acesso, o que implica em dizer que, até hoje, não tivemos uma adaptação correta dessa história.