As aventuras do Capitão Cueca é uma animação para quem ainda mantém seu lado criança vivo, inclusive as próprias crianças, já que algumas querem ser adultas antes do tempo. O filme é um achado que tem inspiração na inventividade existente em obras como Calvin e Haroldo, O fantástico mundo de Bobby e outras similares.
A origem desta aventura está nos quadrinhos. A HQ original é de autoria de Dav Pilkey e mostra exatamente aquilo que está no longa-metragem. No Brasil as edições do Capitão Cueca foram publicadas pela Cosac & Naify (aliás, estão em promoção pela www.amazon.com.br).
Agora, feitas as devidas apresentações, vamos à análise da animação…
A história.
As aventuras do Capitão Cueca não se restringem apenas ao herói. Na verdade, o herói é fruto da imaginação de dois meninos que são a última fronteira entre a opressão na escola que estudam e o direito à liberdade de expressão. Essas crianças são George e Harold (ou Jorge e Haroldo na versão dublada), os responsáveis pela criação do Capitão e também os donos da Treehouse Comix, Inc. a “editora” onde são produzidos os quadrinhos do herói.
Mas, mais do que parceiros de quadrinhos, George e Harold são amigos verdadeiros. Eles se conhecem desde o jardim de Infância e têm algo em comum: o bom humor. Para alguns, esse humor é usado de forma exagerada, porém eles precisam enxergar o lado divertido das coisas (e às vezes produzir essa diversão) para se manterem lúcidos. A escola em que estudam – Jerome Horwitz – é conduzida com mãos de ferro pelo diretor Senhor Krupp. Krupp é o típico ditador cujas vontades são soberanas.
Basicamente, a animação mostra a “guerra” entre os dois alunos e o diretor. Basicamente…
Tra-la-laaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
O personagem criado pelos meninos se chama Capitão Cueca. A escolha do nome e do visual do personagem é uma sátira aos heróis (Marvel, DC, Dark Horse e outras editoras) cujos uniformes parecem ter uma cueca por cima das roupas. Logo, vestir-se apenas com uma cueca não é algo tão estranho em um mundo onde homens usam suas cuecas por cima das calças.
O herói tem o poder de voar, superforça e é muito bem humorado. Pena que ele existe apenas na imaginação dos garotos. Ou será que não?
Criando o mito.
Cada história do herói é uma versão dos garotos de sua própria realidade. Algumas servem para avacalhar com o plantão dos opressores, outras são puramente entretenimento. Entretanto, cada uma delas serve para aliviar a rotina puxada dos estudos em uma escola rígida, assim como dar vazão à enorme criatividade deles.
E ser criativo é algo que não fica restrito aos quadrinhos. Jorge e Haroldo são meninos cheios de inventividade e extrapolam isso em pegadinhas sensacionais. Algumas podem ter até um pouquinho de potencial destrutivo, porém ninguém jamais se machucou. Isso é outra ideia muito bem aproveitada, já que todos no filme são “desenhos” e consequentemente impossíveis de serem feridos.
É pelo uso da linguagem dos quadrinhos mais infantis que veremos eles sobreviverem a acidentes, alagamentos, acidentes de carro e muito mais. Essa é uma forma de satirizar – diretamente ou não – os heróis dos quadrinhos adultos que sofrem, morrem e ressuscitam, quase sempre sem sequelas.
O vilão.
Para ser bem honesto, inicialmente o vilão é o próprio Senhor Krupp. Ele é mal humorado, radical e dominador. Sua opinião é soberana a de qualquer outro e ele jamais permitirá que alguém subordinado a ele discorde de suas ordens. Isso fica bem claro logo no início da trama. Mas o decorrer do longa de animação mostra que há motivações para essa personalidade tão ranzinza e, mais do que isso, aponta para uma solução. Krupp é, antes de tudo, uma pessoa amargurada e solitária, mas com a ajuda correta isso pode ser revertido.
Então, passemos para o vilão secundário, o professor Fraldinha Suja (Poopypants). Ele era um homem bem sucedido, um cientista renomado, porém sucumbiu ao ódio por causa do bullying. Seu estranho sobrenome o transformou em motivo de piadas com resultados catastróficos.
Krupp e Fraldinha são exemplos dos males provocados pelo isolamento e pelo bullying, algo bem abordado pelos roteiristas. Entretanto, os atos deles não se justificam por causa de uma infância reprimida, uma maturidade solitária ou uma vida de escárnio. Muitos passam incólumes por tudo isso e buscam uma melhora ou crescimento pessoal.
Nesse universo existe um terceiro personagem imprescindível para a história: Melvin. Ele é o gênio da turma e o puxa-saco do diretor Krupp e do professor Fraldinha Suja. Suas ações são voltadas a agradar os detentores do poder e ele é um típico mal-humorado, aquele que jamais compreende uma brincadeira ou piada.
Superpoderes.
A origem do Capitão Cueca ficou muito bem contada nessa animação. Assim como ocorreu com o Flash (que resulta de uma acidente em um laboratório somado a um raio), com o Hulk (sobrevivente de uma explosão atômica), Capitão América (soro do supersoldado) ou o Homem-Aranha (picado por uma aranha radioativa), o Capitão Cueca tem seus poderes despertados por Jorge e Haroldo através de um anel de brinquedo oriundo da China. Isso pode parecer ridículo, porém as crianças acreditam no que estão vendo, fruto do uso de cenas que toda criança já idealizou.
Inicialmente o principal poder do Capitão é a inocência. Ele é um cara desprovido de maldade e isso o coloca em constante perigo. Com o passar do tempo e a chegada do vilão Fraldinha Suja, novas situações surgem e ele recebe poderes reais.
Nota: a transição de Krupp para o Cueca é feita por intermédio de Jorge e Haroldo. Essa mudança de identidade garante alguns dos melhores momentos da animação.
Esperança.
Até o fim da animação a luta entre Krupp e o Capitão Cueca persiste. Mesmo sendo um cara incrível quando super-herói, Krupp permanece ranzinza e autoritário quando volta ao normal. Mas os espectadores irão torcer para que ele saia de sua zona de isolamento e se torne mais feliz. Afinal, o maior problema dele é a solidão e há esperança de que sua vida mude, já que todos querem ver o cara por trás do divertido herói vivendo com felicidade.
Dublagem.
Parabéns aos dubladores nacionais que fizeram jus à versão original. Boas vozes, interpretação perfeita e a verdadeira incorporação nos personagens dão o tom à versão em português. Minhas crianças amaram o filme e têm na memória várias frases.
Avaliação final.
As aventuras do Capitão Cueca é uma das melhores e mais despretensiosas animações de 2017. Não há a densidade de produções como Divertida Mente ou Wall-e, mas tem um humor acessível para as crianças e agradável para os adultos, seguindo a mesma linha do otimo O Poderoso Chefinho. Com certeza irá superar o fraco Pica-Pau e outras produções que não respeitaram o público original e principalmente a mitologia do herói.
Capitão Cueca é um personagem carismático que tem seu alcance ampliado através de Jorge e Haroldo, personagens tão legais quanto o super-herói.
O visual do filme é agradável e a trilha sonora ficará na mente das crianças. Um divertidíssimo filme para ver em família e que certamente irá gerar o pedido das crianças: “compra pra mim as histórias em quadrinhos?”. Por isso o aviso da promoção no início do post.
Bom filme a todos! Tra-la-laaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!