“Atypical” diverte ao mesmo tempo que traz o drama sobre o amadurecimento de um jovem autista
Atypical é uma série pra assistir episódio atrás de episódio. Falando na linguagem apropriada, é uma série pra ser maratonada. Com oito episódios curtos, cada um durando pouco mais de meia hora, a história de Sam (Keir Gilchrist) cativa do início ao fim. A série foi criada e roteirizada por Robia Rashid e tem como diretores Michael Patrick Jann, Joe Kessler e Seth Gordon. O protagonista é um autista e a história gira em torno de sua vida em família, dos desafios a serem vencidos, das pequenas vitórias e do descobrimento do amor. E aqui a Netflix não traz uma história perfeitinha, onde nada pode piorar. Alguns episódios são bastante trágicos para as personagens, incluindo Sam.
Em sua jornada para descobrir como conquistar e namorar uma garota, cenas hilárias dão o tom de comédia à série. Mas se engana quem pensa que a série é só mais uma para rir à toa, com personagens atrapalhados e situações constrangedoras. O tema sobre o autismo é bem explorado e deixa o público bem informado sobre como é ter alguém na família no espectro ou como é a vida de um jovem, no ápice de sua vida aos 18 anos, encarar o mundo perigoso e diferente do mundo superprotegido que a mãe insiste em deixar intacto. Elsa (Jennifer Jason Leigh), como todas as mães e ainda mais como mãe de um filho com autismo, só quer protegê-lo dos perigos lá fora, mas não percebe que todo esse cuidado excessivo acaba mais prejudicando do que ajudando.
O melhor amigo de Sam, Zahid (Nik Dodani), é totalmente sem noção e é a personagem mais hilária. Com suas dicas esquisitas para se conquistar uma garota, Zahid coloca Sam em situações bem difíceis. Já Doug (Michael Rapaport), o pai, antes distanciado do filho, constrói uma relação mais íntima ao decorrer dos episódios e acaba conquistando a confiança de Sam ao tentar entender como ele se sente em relação ao mundo e dando conselhos sobre garotas, e esta aproximação é bastante emocionante. A mãe é uma figura meio deslocada no seio da família, mesmo fazendo tudo por ela. Mas como havia escrito acima, seu cuidado excessivo acaba tornando-a uma mãe chata e incompreensível, principalmente com a irmã de Sam, Casey (Brigette Lundy-Paine), que é mais nova e acaba sendo um pouco excluída dos cuidados e preocupações dos pais. Isto se comprova quando ela consegue algo muito importante para a sua vida de atleta, mas que seus pais não acabam dando muita importância e é preciso o namorado de Casey, Evan (Graham Rogers), chamar a atenção de Doug e Elsa para o que eles estão fazendo com a filha.
Trapalhada atrás de trapalhada, Sam acaba descobrindo que relacionamentos não são fáceis e que conquistar mulheres requer muito mais que cantadas ou seguir regras. No final, você acaba descobrindo que amar alguém acaba acontecendo quando você menos espera e que o amor não é algo para ser perseguido, nem existe fórmula mágica. A figura da mãe dedicada ao lar e ao filho autista acaba sufocando Elsa que, para se ver livre, busca aventura e liberdade em um caso extraconjugal. Ok, sabemos que isso não vai terminar bem, mesmo que tudo caminhe para o final feliz. E é assim que acaba o último episódio, deixando aquela sensação de “este não pode ser o último episódio”. A Netflix já confirmou a segunda temporada, pois apesar de ser um pouco clichê (o que diferencia é a abordagem sobre o autismo), a série é bastante divertida e educativa (por que não?), além de ser leve e trazer algumas reflexões bacanas, quebrando aquela noção de que pessoas autistas são menos normais do que pessoas sem autismo. Afinal, ninguém é normal. Todo mundo é estranho, alguns mais outros menos, e é isso o que nos diferencia.