Crítica: A Atração (2015) | Você precisa conhecer este musical polonês!

PorEduardo Ben Lima

Publicado em: junho 26, 2017

A Atração é um filme polonês de 2015, mas que foi selecionado no Festival de Sundance em Janeiro do ano passado e segue sem previsão no Brasil. Trata-se de um musical bem diferente do que estamos acostumados a ver, pois ao falar sobre sereias assassinas, ele inclui exclusivamente questões como amor, obsessão e suas trágicas consequências. Maduro, indigesto, mórbido e de pesar os olhos do espectador com tamanha singularidade. E aí? Arrisca-se a conferir? Então não deixe de antes, conhecer um pouco mais sobre essa excêntrica produção que há de atingir o público certo entre os internautas.

A história gira em torno de duas irmãs sereias, Prateada e Dourada, que trabalham numa casa noturna e passam a enfrentar uma dúvida cruel e sangrenta de escolha quando uma delas se apaixona por um jovem e bonito homem. Primeiramente, esteja ciente de que ‘The Lure’ é absurdamente estranho. Na tentativa de tratar de um tema não ordinário e preenchê-lo com toques de terror, a película diverge em vários sentidos, escapando por completo dos musicais americanos, por exemplo, que além de convencionais, têm em si uma lógica. Não é o caso deste aqui. A despeito de tensas cenas de canibalismo, ele contém um instante em particular mega bizarro, envolvendo mutilação. Todavia, para tal momento, há um detalhe: foi tudo feito em nome da paixão humana, o que remete inclusive ao sentimentalismo e a dita “atração” entre duas espécies diferentes. Por falar nisso, a forma como as sereias se comunicam também me chamou bastante a atenção (e chamará a dos mais curiosos), porque a dona do clube também utiliza este meio de contato para se relacionar com as sagazes irmãs.

Com relação à trilha sonora, ela é bem conduzida e ouvir faixas em polonês não é tão esquisito quanto parece. De músicas bem executadas (vide a cena do show com o encerramento no aquário com água e a faixa ‘Czary Mary – Ballady I Romanse’) até as que deixam um pouco a desejar (a parte da macabra cirurgia), a trilha sonora é certamente um destaque a ressaltar aqui. Obs.: não deixe de ouvir a playlist do Spotify que deixamos no final da crítica. Afinal, não obstante o fato de ser envolvente, o foco se encontra justamente nas protagonistas encarnadas pelas atrizes Marta Mazurek e Michalina Olszanska, que entregam um belo desempenho como as astutas vilãs da história. Agora, uma polêmica tem a ver com a nudez. Sim, o conteúdo sexual do filme é natural, embora perturbador e indigesto. Ademais, independente de não ser o foco principal do roteiro, a espontaneidade dos personagens ainda é algo que choca muita gente na sociedade atual. Entretanto, o que acontece aqui é que este aspecto não é especialmente um tabu, afinal tudo é mostrado de um jeito tão fluído, sem pretensão de escandalizar. Logo, os poloneses, assim como os franceses, reconhecem o nu artístico como pura e simplesmente arte. É o caso do romance francês ‘Rust and Bone’, certo?

Ao resgatar o mito das histórias de sereia, porém de maneira mais sombria, pode até ser que as irmãs aqui pareçam retiradas de clássicos contos, cujos quais se baseiam em seus cantos para atrair os homens e em seguida, matá-los. Contudo, há também aqueles elementos que se assemelham a filmes de romance, onde dois figurantes se apaixonam pelo acaso e fazem de tudo (absolutamente) para ficarem juntos. Isso nada mais é do que uma mistura bem feita e abordada ao longo dos eventos que antecedem seu intenso final. Sobre o elenco, bons atores dão conta do recado. Carismáticos, sem escrúpulos e cheios de segundas intenções, cada figurante possui seu conceito de vida e morte. Razão tal, que a relação desenvolvida entre eles talvez choque os mais sensíveis e que esperam algo leve. Admito até que os fetiches recordam um pouco o controverso ‘Demônio de Neon’.

Em vista dos aspectos citados acima, ‘Córki Dancingu’ apresenta uma proposta inusitada, com potencial e que felizmente funcionaria em grande parte, porém ainda assim, é um filme para poucos. Caso você, caro leitor, queira conferi-lo, não se esqueça de desligar seu lado cinéfilo mais exigente e, acima de tudo, esquecer os típicos musicais harmoniosos de Hollywood. Afinal, se a intenção dos produtores era criar um filme provocativo, que atrai e ao mesmo tempo gera um impacto no público, então conseguiram.