Tropa Alfa: a morte do Guardião. John Byrne e sua genialidade nos quadrinhos.
ATENÇÃO! SPOILERS DA TRAMA.
Não bastasse o ótimo desenho, John Byrne também se mostrou um roteirista à frente de seu tempo. Sua importância nos quadrinhos, principalmente os estadunidenses, é incontestável. Quer saber mais dele? Ouça o ArgCast.
Mas esta não é uma matéria sobre o legado de Byrne – imenso, por sinal -, mas sim de uma de suas mais corajosas obras: a morte do Guardião.
Para melhor situá-lo, o Guardião foi o líder da Tropa Alfa, um grupo de super heróis canadenses, cujo integrante mais famoso é ninguém menos que o Wolverine.
O Guardião é na verdade James MacDonald Hudson, cientista que criou um traje cibernético que lhe concedeu força sobre-humana, voo e rajadas capazes de destruir tanques de guerra. Hudson é o responsável pela união de outros superseres como Estrela Polar, Aurora, Shaman, Pigmeu, Sasquatch e Pássaro da Neve. Eles são o que o Canadá tem de melhor para a defesa contra outros indivíduos poderosos ou até mesmo outras equipes.
James inicia a trama com a mudança para a cidade de Nova Iorque, ainda que com uma certa relutância de sua esposa, Heather. Porém Heather acaba cedendo, já que essa mudança é a oportunidade que o casal encontrou para recomeçar a vida.
James parte na frente para reconhecer o território novo e conhecer melhor seus novos empregadores, sem saber que uma grande traição o aguarda.
A revista marca uma reviravolta que era incomum à época. Nela, James se vê diante de um inimigo que ele e sua esposa, Heather, não esperavam encontrar. Este inimigo é fruto de atitudes de James, à época apenas um cientista, que se recusou a usar sua armadura (ainda um protótipo) para fins escusos, voltados apenas ao lucro. Ciente do poder de sua criação, o cientista não permitiu que o ambicioso homem a tomasse.
O que se passou a seguir marcou a decadência do homem que viria a se tornar um dos mais ferrenhos inimigos do Guardião, um indivíduo capaz de reunir a Tropa Ômega para auxiliá-lo em seus intentos.
Refeito de sua derrocada, rico e com poder suficiente para destruir o homem que ele considera como responsável por sua desgraça, surge diante dos leitores um inimigo cujo superpoder está atado à riqueza e ao ódio que ele nutre ao longos dos anos.
Pleno de rancor e apoiado por uma equipe brutal e com capacidade de combate igual à Tropa Alfa, encoberto pelos mantos da traição e vingança, resta ao leitor a tensão de uma leitura cheia de ação, dor, perdas e morte.
Essa é uma HQ que marcou a história da Tropa Alfa e de John Byrne.
PERDAS E DANOS.
O roteiro também evidencia as fraquezas internas do grupo, fruto de diferenças e conflitos dos mais variados. Em suma, a história tem grande conteúdo psicológico e crítico, diferente de boa parte das HQ da atualidade.Mas nem só Heather e James Hudson foram afetados nessa trama. O roteiro levou ao confronto entre a Tropa Alfa e a Ômega. Nuances e detalhes dos poderes e fraquezas dos integrantes de ambas as equipes foram esmiuçados, ao passo que somos postos diante de um poder incomensurável, capaz de destruir a mente de uma pessoa.
PESADELOS E RECOMEÇO.
O prólogo desta edição é outra peça cheia de arte e inspiração narrativa. Com dez páginas praticamente ausente de diálogos, só imagens, John Byrne personificou com maestria a devastação que a perda de um ente querido pode provocar na alma e na mente de uma pessoa. O que se segue é o ponto de partida para um recomeço de vida, ainda que isso signifique lutar sem a pessoa amada ao lado.
Byrne também utilizou este prólogo para destacar os principais acontecimentos da história, interligando-os à retomada da vida de Heather.
Caso você seja um fã da Tropa Alfa e não acompanhou o que veio após esta trama, saiba que ela é vital para a nova fase do grupo canadense.
Uma edição histórica que deveria ser relançada pela Panini, junto com as demais histórias do grupo feitas por John Byrne.