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FILMES CRÍTICAS

Review de Alien – Covenant e Prometheus. Prós e contras desses prequels.

Review de Alien – Covenant e Prometheus. Prós e contras desses prequels.
  • Publicado em: maio 26, 2017

Não há como fazer uma análise de “Alien: Covenant” sem associá-la ao filme anterior, “Prometheus”. Assim, vamos à análise dessa obra para passarmos ao novo filme da franquia Aliens.

Assim, fica o alerta. Esse post está recheado de spoilers, ainda que eu tenha buscado minimizá-los. A primeira parte é sobre Prometheus, ao passo que a segunda é o review completo de Alien: Covenant. Vai prosseguir? Então, tenha uma boa leitura e não deixe de assistir ao filme para comparar com minha análise.

A história do filme Prometheus é baseada nos fatos que aconteceram 30 anos antes de “Alien, o 8º passageiro”. Um prólogo mostra um ser alienígena suicida, cuja importância no filme é grande. Atentem e tentem descobrir os motivos para esse ato extremo da parte dele… Também conhecemos a tripulação da nave Prometheus, expedicionários que tiveram a viagem  financiada com capital particular, cujo principal trunfo está na descoberta de hieróglifos e escrituras antigas que indicam a presença de seres extraterrestres em eras passadas e em diferentes civilizações da história humana.

A equipe era composta pelos dois descobridores das inscrições, além de geólogos, mercenários e cientistas, tendo como líder a linda e fria Meredith Vickers (Charlize Theron). Contudo, o mais centrado na missão não é um dos tripulantes, mas o androide David, interpretado por Michael Fassbender.

Antes de ser um filme sobre alienígenas, Prometheus fala sobre filosofia e teologia; aborda a incansável busca do homem por sua origem. Há muito sobre a fé e a interpretação daquilo que alguns chamam de escrituras (não importa a religião) ou o chamado. Essa curiosidade é a força motriz de Peter Weyland (Guy Pearce), financiador da equipe exploratória, mas  há algo mais por trás desse investimento tão perigoso e caro.

Quando a expedição chega ao seu destino, David desperta todos os tripulantes, incluindo os responsáveis pela descoberta da associação entre as inscrições, a Dra. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) que são apresentados a um holograma do senhor Weyland, portador de instruções à equipe.

A expedição chega a seu destino e se depara com uma construção. Lá, envoltos em muito mistério, eles descobrem resquícios de seres humanoides, porém gigantes. Esses seres foram mortos e, como era de se esperar, o anseio pela descoberta e aprofundamento no fato faz com que o bom senso seja descartado, já que a equipe permanece no local, ainda que ciente de que algo pode estar por perto.

Detalhe para a ótima abordagem sobre algumas nuances de David, cuja noção sobre nosso comportamento chega ao ponto de não querer causar mal estar ao trafegar sem equipamentos. Ele opta por usar a roupa de sobrevivência, mesmo não precisando dela.

Os aparatos tecnológicos para avançar nessa busca arqueológica são interessantíssimos. Esferas sondam e fornecem uma visão em 3D em tempo real do local. As indumentárias dos exploradores também são bem legais. Mas há um ponto em Prometheus e Covenant que me incomoda ao extremo: a falta de zelo dos ditos profissionais. Remover um equipamento de segurança para testar uma teoria é de uma infantilidade absurda, além de facilitar contaminações e ataques. Outro ponto que transforma astronautas experientes em meras vítimas é a persistência em permanecer em um local potencialmente perigoso. Claro que são recursos narrativos adotados ao roteiro e direção, porém essa “lambança” incomoda o espectador.

Descobertas são feitas e vidas expostas ao perigo em nome da ciência. Alguns tripulantes não gostam dessa exposição, porém é a insistência em estudar o desconhecido que põe todos em grande risco. Há boas descobertas, algo indiscutível, só que é preciso lembrar que certas coisas deveriam permanecer intocadas … e a tripulação da Prometheus descobre isso da pior forma.

Preços a pagar…

O que vocês verão na sequência é uma combinação de ambição com tolice. Nós, fãs da franquia, sabemos que isso não pode acabar bem. Há, entretanto, um fator que surpreende pela proximidade à tripulação: David. Ele se mostra cada vez mais interessado na vida alienígena, enquanto diminui sua noção do valor da vida humana. Ele, não se sabe ao certo, passa a ter mais interesse pelos responsáveis pela morte dos “Engenheiros”, fato que passa despercebido pelos integrantes da Prometheus.

Outro ponto primordial para a instauração do caos é o descaso (desde o pouso no planeta desconhecido) com a vida alienígena. Lembremos que esse é um prequel, antecessor em 30 anos de “Alien – o 8º passageiro” e não havia notícias dos monstros com sangue ácido. Mas nada justifica a exposição exagerada aos espécimes coletados e ao ambiente do planeta.

Desde o início buscamos descobrir de onde viemos, encarar nosso criador e lhe perguntar tudo que nossa alma manteve em silêncio. A questão é: nosso criador quer nos encontrar? Com esse questionamento teológico e moral, o diretor Ridley Scott nos coloca em meio a um caos gigantesco. Descobertas serão feitas sem que haja garantias de que alguém ficará para contá-las.

Muitos morrerão para que duas vertentes de pensamentos sejam mantidas: a de David e a da Dra. Elizabeth Shaw.

O desfecho de Prometheus foi convincente?

Para não estragar a história aos que ainda não a viram, antecipo que o filme é bom. A narrativa se encaminha para o encontro de forças antagônicas e a verdadeira função dos Aliens é mostrada em seu auge. O que fica disso? A lição de que há muito ainda a ser descoberto e, principalmente, a lidar com essas descobertas de forma cuidadosa. Há outra revelação impactante sobre o verdadeiro intento dos Engenheiros e isso passa a ditar o comportamento de David.

As implicações de estar em um planeta desconhecido são somadas ao descuido de alguns tripulantes e também à biologia do planeta. Tudo se encaminha para a tragédia e isso é feito de forma correta por Ridley Scott, com ênfase nos conflitos entre a tripulação da Prometheus que so aumenta conforme algo ruim acontece.

Charlize convence como a Comandante da nave, tal como ocorre com Idris Elba no papel do capitão. Noomi e Fassbender também são convincentes, o que não impede que algumas partes controversas atrapalhem na compreensão da trama. Um exemplo? Um dos infectados volta como um zumbi assassino, como se controlado pelos Aliens. Isso não convenceu.

Mas o desfecho segue para um fenomenal encontro que nos põe a refletir sobre nossa fé, a compreensão do universo e, sobretudo, pensarmos a respeito de nosso instinto irrefreável para a destruição. Mais do que nossas origens, Prometheus busca questionar o ímpeto humano de se tornar um Criador, assim como sua irrefreável jornada para encontrar a centelha divina que nos pôs no universo.

Ridley Scott acertou com Prometheus, ainda que hajam pequenos lapsos. Mas será que a nova trilogia que antecede Alien – o 8º passageiro será condizente com aquilo que esperamos? É possível fazer algo que surpreenda os fãs da franquia? Veremos isso a seguir com a análise de Alien: Covenant.

Alien: Covenant. A segunda parte de uma trilogia que precisa dar certo.

Isso mesmo. Prometheus e Alien: Covenant são prequels de Alien, o 8º passageiro e formarão uma trilogia em breve, segundo o próprio Ridley Scott. Mas será que a ausência tão criticada do suspense e do terror que vimos em o 8º Passageiro voltaram?

20 anos após a tragédia que atingiu a Prometheus, uma nova expedição é enviada para colonizar um planeta previamente analisado e compatível com a atmosfera terrestre. Sem as garras de Weyland, nada poderia dar errado, certo? Enganam-se. Covenant nos apresenta o estopim para o comportamento tão controverso de David, uma espécie de origem para seus questionamentos e desprezo pela vida humana. Essa parte é fundamental para embasar seus atos neste filme, além de deixar claro que a máquina usa a lógica para suas ações ruins, ao passo que a malignidade de Weyland é fruto da vaidade e da ganância humanas. Há essa comparação para que o espectador entenda que o mal em David foi construído ao longo de anos de desprezo e “escravidão”. Novamente o questionamento sobre a independência de seres com inteligência artificial é abordado.

Antes de prosseguirmos com a resenha, vamos assistir um dos prólogos para que possamos seguir com nossa análise. Detalhe: esse prequel foi vital no marketing de aproximar o público dos personagens antes do lançamento do filme. Vale a pena vê-lo! Há outro que não postarei aqui para não estragar um bom momento do filme.

O PRÓLOGO …

Confesso que senti a falta desse prólogo no filme. Tê-lo no início – ainda que em flashbacks – seria uma ótima ferramenta para que nós, espectadores, nos aproximássemos mais dos personagens. Não ter isso criou uma certa apatia, principalmente com o desenrolar da trama, já que houve pouco tempo para que a preocupação por eles fosse nutrida, exceção para Daniels (Katherine Waterston) e David/Walter (Michael Fassbender).

Ação e Reação.

Basicamente, Covenant é o resultado direto dos atos errados da equipe de Prometheus. O que foi despertado dificilmente irá voltar a hibernar, o que implica em dizer que outras vidas serão descartadas. Com a hipótese do retorno da criatura que está no hall da fama dos monstros do cinema, esse novo filme tinha tudo para dar certo. Entretanto, alguns pontos enfraqueceram a trama quase ao ponto de encerrar a franquia. Agora, vamos analisar o que deu certo e o que foi um fiasco em Covenant.

Antes, para que o subtítulo tenha pertinência, vou enfatizar que a proposta do diretor e do roteirista é, deduzo, questionar a “aliança” entre humanos e sintéticos. Até onde podemos confiar nossas vidas aos cuidados de seres que simulam humanidade, mas são regidos por códigos digitais que abrem o leque para se tornarem tão ruins quanto qualquer humano?

E do se trata a “ação e reação” no filme? Simples. Para toda ação haverá uma reação oposta e de igual intensidade. Isso fica evidente ao vermos David e Weyland (Guy Pearce) em um incômodo diálogo que põe o sintético na posição de um ser inferior, criado para servir e nada mais. Apesar de sua natureza artificial, David vai acumulando ao longo dos anos um rancor provocado por incontáveis humilhações. Mesmo sendo um ser fiel e subserviente, ele não recebe qualquer reconhecimento por isso. Tal qual um escravo, os anos de “prisão” amarguram um ser que deveria ser nosso aliado e o transforma em algo que vê os Aliens como uma forma de vida mais digna de ser apoiada.

A equipe.

A Covenant é uma nave com um tripulação bastante unida. Isso pode ser confirmado pelo prólogo acima. Pessoas que receberam a missão de transportar mais de 2 mil colonos que irão dar vida a um planeta com atmosfera quase idêntica ao nosso. A tripulação é a guardiã das esperanças de propagação da humanidade nesse novo planeta. Mas é preciso longos anos de hibernação e isso necessita de monitoramento e ações rápidas em caso de problemas, brecha preenchida pelo sintético Walter, uma versão menos “humana” de David, desprovida de seu sarcasmo.

Tudo corre bem até que nos deparamos com a linda cena de recarregamento das “baterias” da Covenant. A cena impressiona e é nela que a tripulação, em função de problemas gravíssimos, é despertada. Até esse momento o espectador está diante de um espetáculo visual cheio de ação, realmente tenso. Sanados os problemas, a equipe – despertada por Walter – tem que lidar com baixas e novas decisões. É aí que um ótimo filme ruma para o caos.

Prometheus trouxe a nós a premissa de que fomos criados por seres superiores, algo até audacioso por abordar o tema da criação sem temores de retaliações. Mas a origem dos Aliens é álgo que ficou incompleto. Logo, Covenant seria um complemento e prepararia o espectador para um terceiro filme cheio de suspense, principalmente se levarmos em conta que são filmes antecessores aos fatos vistos em o 8º Passageiro. Infelizmente, Ridley Scott resolveu tomar um caminho mais óbvio, com criaturas visíveis e previsíveis. Não sei se motivado pela venda de produtos ligados à franquia ou se por falta de compreensão da própria obra por ele criada, mas a verdade é que não me convenci com Covenant.

Aliás, esse descrédito amplia quando o contágio ocorre no planeta que os tripulantes, liderados por um homem despreparado, optam por pousar. Não consigo compreender – mesmo que isso tenha sido usado como subterfúgio para pô-los lá – como pessoas sem liderança abandonam um planejamento feito há anos para optar pelo desconhecido. Mais do que isso, quando a loucura e a morte se aproximam na figura dos Aliens, incluindo alguns novos, o despreparo dos tripulantes é de irritar. Acidentes, desconhecimento de noções de sobrevivência, exposição ao ambiente novo e atos covardes são algumas das atitudes e situações que me levaram a questionar quais foram as habilidades que puseram essas pessoas na nave. Sim, é claro que ninguém sabia da existência de seres tão destrutivos, mas a superexposição ao perigo e as mortes para impactar quem assiste não são combustível suficiente para dar credibilidade à trama.

Novos Aliens.

Alien – A Ressurreição pagou um alto preço pela ousadia de mesclar humanos a Aliens, além de dar sentimentos a um ser que é pura violência. Covenant não peca nesse ponto, o que já é um ponto positivo. Entretanto, ter novos monstros – alguns com passagens relâmpago – não é o que esperávamos. Eu até entendo que não há obrigatoriedade em existir poucos tipos de alienígenas. O que não concordo é no emprego deles apenas para justificar a morte do personagem A ou do B. Aprofundar na natureza dessas criaturas, com recursos visuais ou narrativos, seria interessante. Mostrar que para defender uma Rainha eles são capazes de sacrificar a própria vida, principalmente estando em um planeta infestado por eles seria uma boa pedida. Mas, ao contrário, o óbvio foi usado como ferramenta narrativa. Expor os monstros, usar uma cena de um casal transando para matá-los… isso não convence ou prende a atenção, pois, relembro, nós já sabemos o que são, como são e boa parte de sua motivação, tudo evidenciado nos quatro filmes que os antecederam em produção, mas são cronologicamente à frente de Prometheus e Covenant.

O fim.

Há boas passagens onde a malignidade de David é trazida à tona. Ver do que ele foi capaz gera revolta e nos faz torcer por Walter. Ridley acertou nesse ponto, A nova Ripley, Daniels (interpretada por Katherine Waterston) é uma boa atriz e passa o medo e agonia sofridos ao público. O que não ficou interessante é a forma como ela abate um Alien quase ao final do filme. Isso sem levarmos em consideração que raras pessoas sairiam ilesas aos impactos e à tensão emocional pelos quais ela passou.

Os questionamentos religiosos, a discussão sobre nossa origem, as novas formas de Aliens e a eterna pergunta sobre qual é o limite da Inteligência Artificial, somados a uma narrativa cheia de suspense e com uma apresentação digna dos personagens são elementos para surgir um ótimo filme. O que não me agrada é a permanência de Ridley à frente da franquia, já que ele deixou as próprias lições por ele criadas de lado. É possível termos um ótimo terceiro filme? Sim, desde que a opinião do público seja respeitada e, sobretudo, não tenhamos mais um filme feito só para arrecadar e vender brinquedos.

Não culpo o elenco pelo filme mediano. Há boas interpretações. Culpo direção e roteiristas por não acreditarem no time que estava ganhando desde o 8º Passageiro. O terror é escatológico, não dramático e com doses de suspense. Cabe lembrar que a sutilidade e o susto ainda são boas ferramentas de narrativa para o cinema. Elevar a credibilidade de Alien será uma tarefa árdua que nós, fãs, esperamos seja bem sucedida.

Written By
Franz Lima

Escritor de contos de terror e thrillers psicológicos, desenhista e leitor ávido por livros e quadrinhos. Escrever é um constante ato de aprendizado. Escrevo também no www.apogeudoabismo.blogspot.com

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