Os sonhos visionários de três meninos curiosos e aventureiros transformam-se em uma excitante realidade em Viagem ao Mundo dos Sonhos (Explorers), a fantasia de ação do aclamado diretor Joe Dante (Gremlins), que combina humor inteligente, afeto e fantasia, com inesperadas reviravoltas. Em seu improvisado laboratório, os garotos usam sua genialidade e também uma surpreendente descoberta para construir sua própria nave espacial e lançarem-se em uma fantástica viagem interplanetária. Ano: 1985. Duração: 109 minutos.
Um dos filmes que mais gostava de assistir na Sessão da Tarde quando criança. Infelizmente hoje esse filme foi completamente abandonado pelas emissoras. Como os tempos são outros, é bem provável que as crianças dessa nova geração nem gostem do filme. Mas quem viveu a década de 1980 com certeza deve se recordar desse clássico da Sessão da Tarde. O interessante de rever o longa mais de 30 anos depois, além da nostalgia e a volta de lembranças de sua infância, é que você agora presta atenção a outros detalhes e consegue ter outras interpretações sobre o mesmo filme, coisa que só a maturidade e experiência lhe pode conferir. Não é como você assistir a outro filme, mas é uma nova forma de aproveitá-lo.
O título em português já entrega o sentido do filme. É um longa de fantasia que retrata os sonhos e a imaginação de um adolescente chamado Ben Crandall, apaixonado por ficção científica e que sonha em explorar o espaço. Em um desses sonhos ele aparece voando sobre uma espécie de placa de circuito impresso cheio de engrenagens, resistores, capacitores e circuitos integrados high-tecs e coloridos. Ben desenha o que lembra desse sonho e mostra para seu amigo Wolfgang Muller, um jovem nerd, filho de um cientista tão nerd quanto ele, que consegue fazer qualquer coisa com seu computador Apple II ultra-moderno funcionando wireless com uma bateria de 9V. Ao conseguir montar o circuito, descobrem um campo de energia sem inércia capaz de alterar suas propriedades físicas como tamanho e velocidade. Junto com seu novo amigo Darren Woods, um jovem rebelde com problemas familiares e com talentos em mecânica, conseguem construir sozinhos uma nave espacial formada por peças de sucata como um carrinho de parque de diversões, latas de lixo, peças de televisão e máquinas de lavar, e assim levá-los ao espaço, onde terão a oportunidade de um contato imediato de terceiro grau.
Apesar de ser claramente um filme de fantasia infantil, ele contém uma enorme quantidade de referências, homenagens e citações a outros filmes, músicas e personalidades. Mais ou menos o que o primeiro “Shrek” fez reunindo referências a outros filmes infantis. Mas, nesse caso, as referências foram quase todas a filmes antigos de ficção científica, muitos envolvendo alienígenas, por meio da paixão do personagem Ben sobre esse estilo de filmes. As referências mais claras são a “Guerra dos Mundos” (o original), “O Dia em que a Terra Parou” e “O Planeta Proibido”. Também são lembrados “Cidadão Kane”, “Star Wars” e “Gremlins”, ao mostrar a frase “Kingston Falls ‘Riot’ Still Unexplained”, em referência a cidade do filme dos monstrinhos. O personagem Wak mostra que passou a sua infância toda vendo filmes e programas de TV, falando diversas frases comuns a talk-shows americanos e alguns filmes. Na despedida, a ótima referência a “Casablanca” com a frase clássica “nós sempre teremos Paris”.
O “Thunder Road” (Trovão da estrada), como foi batizada a nave que os meninos montam, é referente a uma música de Bruce Springsteen. Das referências a livros, cientistas e escritores de ficção científica aparecem os nomes de Einstein, Julio Verne e Robert Heinlein. Wolfgang (homenageando Wolfgang Amadeus Mozart) é irmão de outras crianças batizadas com nomes de outros músicos alemães como Ludving (Van Beetoven) e Johann (Sebastian Bach).
Elenco: os três adolescentes protagonistas são Jason Presson, Ethan Hawke e River Phoenix, sendo a estreia no cinema para os dois últimos. O último filme de Jason Presson data de 1997. Participou de “Gremlins 2” e “A Dama de Branco“. River Phoenix atuou em filmes como “Conta Comigo“, “Garotos de Programa” e “Indiana Jones e a última cruzada“. Infelizmente morreu muito jovem de overdose em 1993, aos 23 anos. O único do trio que mantém-se atuante no cinema é Ethan Hawke. Pouco depois deste filme participou do excelente “Sociedade dos poetas mortos“. Outros ótimos filmes dele são “Gattaca“, “Dia de treinamento“, “Roubando vidas“, “Boyhood” e a excepcional trilogia “Antes do amanhecer/pôr-do-sol/meia-noite“. Curiosidade: Ethan Hawke e River Phoenix são dublados por Selton e Danton Melo ainda crianças.
A garota Lori Swenson, paixão platônica de Ben, era interpretada por Amanda Peterson. Após “viagem…”, Amanda estourou em outro clássico oitentista: “Namorada de Aluguel”, mas parou cedo de atuar. Seu último filme foi em 1994. Apesar de aparecer pouco, o policial Charlie Drake tem sua importância representando a geração de garotos que não tiveram ou não puderam “colocar em prática” os seus sonhos. Seu papel foi representado por Dick Miller, presente em mais de 180 filmes e séries. O pai de Wolfgang, Mr. Muller, foi feito por James Cromwell, atuante até hoje em filmes e séries como “À espera de um milagre”, “Eu, Robô”, “Broadwalk Empire” (assim com sua esposa no filme Mrs. Muller, vivida por Dana Ivey) e estará participando da sequência de Jurassic World. A alienígena Neek foi interpretada por Leslie Rickert, praticamente seu único trabalho na vida (participou do filme para TV “Steve’s Jobs” em 2015). Fechando, Robert Picardo possui três (!!!) papéis no filme: um como o ator Starkiller durante um filme trash no drive-in e o outro como o alienígena Wak, e ainda como o pai de Wak. Robert é outro que já atuou em mais de 100 filmes e séries (“Jornada nas estrelas: voyager”, “O vingador do futuro”) e até hoje está nos cinemas.
O diretor do filme é Joe Dante, de “Gremlins” e “Viagem Insólita“, claramente influenciado por Steven Spielberg. Dante hoje dirige séries como “Hawaii-Five-O” e “CSI:NY”. Os efeitos visuais ficaram por conta da Industrial Light and Magic. A trilha sonora do filme é formada quase em sua totalidade por músicas instrumentais, compostas por Leo Robin & Ralph Rainger, Jay Livingston, Ray Evans, Winston Sharples e Leith Stevens.
Infelizmente não se fazem mais filmes assim, que estimulam positivamente a imaginação de uma criança e que retratem coisas típicas de adolescentes como as paixões de juventude, o tempo de colégio, as amizades, o espírito aventureiro, o hábito de se deitar no telhado para ver as estrelas… Naquela época, que criança não queria ir ao espaço ou construir uma nave espacial? E mais do que isso, ter ou imaginar uma aventura com seus amigos? Nos dias de hoje, o máximo de aventura que nossas crianças conhecem é jogar multiplayer pela internet… O valor sentimental do filme para nós que vivemos a geração 80 é muito maior do que o roteiro ou o filme em si. Rever “viagem ao mundo dos sonhos” foi excelente para me lembrar de como foi boa a minha infância.