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Crítica: Elis

Crítica: Elis
  • Publicado em: dezembro 9, 2016

“Elis” é a nova produção cinebiográfica da Globo Filmes, que segue uma fórmula de sucesso de contar nas telas vida e obra de artistas da música, como já tivemos Zezé de Camargo e Luciano, Cazuza, Gonzaga, Renato Russo, e mais recentemente Tim Maia, além dos docudramas de Raul Seixas, Cássia Eller, entre outros. Esta obra aborda a trajetória da carreira de Elis Regina, do momento em que chega do Rio Grande do Sul para São Paulo no início dos anos 60 até o momento de sua morte, em 1982.

Elis Regina Carvalho Costa (Porto Alegre, 1945-1982) é considerado por muitos (inclusive por este que vos escreve) como a maior cantora brasileira de todos os tempos. Conhecida por sua potência vocal, presença de palco e personalidade forte, Elis começou a carreira em São Paulo cantando em bares e casas de espetáculos sob a direção da dupla Ronaldo Bôscoli e Luís Carlos Miele. Despontou na época dos grandes festivais, vencendo o festival da música brasileira cantando “Arrastão” e se tornou uma das precursoras do gênero MPB (Música Popular Brasileira). Durante alguns anos, ao lado de Jair Rodrigues, comandou o mais importante programa de televisão voltado para a música: O fino da Bossa.  Elis construiu sua carreira como intérprete, gravando músicas de cantores e compositores de sucesso ou impulsionando o sucesso de outros até então pouco conhecidos.

Os anos de glória de Elis Regina foram marcados pelos seus sucessos, pelos seus relacionamentos amorosos e pela sua língua afiada. Ela nunca conseguiu ser uma artista completamente livre em virtude do regime militar que pregavam a censura e a ditadura naquele tempo , embora por diversas vezes tenha ido um pouco além dos “limites”. Foi perseguida, ameaçada e forçada a ser uma espécie de garota-propaganda dos militares, o que durante um tempo causou revolta em parte da população. Mas seu talento sempre a colocou acima de sua vida pessoal ou da polêmicas em que era envolvida. Foi casada com Ronaldo Bôscoli, com quem teve João Marcelo Bôscoli, e posteriormente com o músico César Camargo Mariano, com quem teve dois filhos – Pedro Camargo Mariano e Maria Rita. Elis morreu em 19 de janeiro de 1982 em seu apartamento devido a complicações causadas por overdose de drogas, medicamentos e bebidas.

“Ô maluco! Tu me constastes o filme todo?” Bom, é um filme biográfico, né? Então, o estranho seria se contassem algo diferente do que foi a vida dela. O filme não é “baseado em fatos reais”, ele conta a vida real. “OK! E o que vale assistir, já que eu sei tudo o que aconteceu de importante na vida dela?” Em primeiro lugar, um filme biográfico de uma artista desse porte é um filme-homenagem. E a melhor forma de homenagear um artista é ver/ouvir a sua obra. E ouvir o repertório de Elis com áudio de qualidade é simplesmente aliviar sua alma e recuperar sua audição prejudicada por algumas coisas que você é obrigado a ouvir por aí… Durante o filme temos a oportunidade de ouvir trechos, ou mesmo canções completas, de Arrastão, Upa neguinho, Fascinação, Como nossos pais, O Bêbado e a equilibrista, e muitas outras (com direito a um ‘easter-egg’ de Águas de Março).

O segundo motivo se chama Andreia Horta. Após meses de profundo estudo e dedicação, é possível afirmar com certeza absoluta. Ela está perfeita! Andreia não canta as músicas, ela dubla – o famoso playback utilizado por muito cantor(a) em show, mas essa é uma decisão absurdamente aceitável, pois não tem a menor condição de alguém conseguir se equiparar à voz de Elis. Mas se ela não canta, ela consegue encarnar perfeitamente a artista. Seus trejeitos, sua presença de palco, sua risada, sua emoção… Principalmente nas cenas com aquele cabelo curtinho, Andreia Horta É Elis! (Bom, às vezes ela também se parece com a Sanda Annemberg) Se filmes nacionais tivessem maiores chances lá fora, ela seria potencial candidata a premiações internacionais. Definitivamente, o papel de sua vida.

E ela não é o único talento em cena. O filme possui ótimas atuações. E também caracterizações muito fiéis. Destaque para o sensacional Júlio Andrade com Lennie Dale e também menções honrosas para Lucio Mauro Filho como Miele, Gustavo Machado como Ronaldo Bôscoli e Caco Ciocler como Cesar Camargo Mariano. Tecnicamente, o filme é ótimo. Direção, arte, fotografia, escolha do repertório e elenco. Pra não dizer que foi tudo 100%, talvez uma cena ou outra pudesse ser alterada, ter dado mais ou menos destaque para algumas pessoas, não sei se por problemas de direitos autorais faltou uma certa ceninha de Tom & Elis, mas aqui é opinião puramente pessoal. Elis foi uma “personagem” muito rica para ser contada nesse tempo de duração. Volto a afirmar, pode ter faltado ou sobrado em determinadas passagens de sua vida, mas a obra musical e a interpretação do elenco, sobretudo de Andreia Horta, fazem com que o filme mereça ser visto. O filme não foi feito para a pessoa se divertir, o intuito não é esse. Veja esse filme como uma forma de enriquecimento cultural. Afinal, nem só de blockbuster o cinema é feito.

Written By
Leonardo Casillo

Professor (computação), músico (teclado), blogueiro (leocasillo), nordestino (Mossoró-RN), nerd (que a Força esteja com você!) e cinéfilo (menos terror).

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