Esperançar!
“O amor civiliza o homem mais embrutecido, faz falar com elegância quem antes era mudo, faz do covarde um atrevido, transforma o preguiçoso em lesto e agudo.” ( J. Ruiz)
Em seu “Libro de Buen Amor” J. Ruiz, famoso escritor espanhol, nos faz grande revelação. Deveras estou sendo exagerado! Não se pode chamar de revelação algo que já sabíamos. Ou não sabemos os milagres que operam os bons sentimentos?
Algum escritor disse, que na vida, não há absolutamente nada para ser esperado, nem desesperado. Mas e quando estamos, neste ponto? Do desespero?! O que leva uma pessoa ao desespero? Pode parecer tentativa de rima, mas, não seria a espera? Rima com desespero!
Paulo Freire, que desde 2012 é o Patrono da Educação, sempre afirmava que é preciso ter esperança! Mas tem que ser esperança do verbo “esperançar”, e não como alguns que tem esperança do verbo “esperar”, e por certo que que isso não é esperança, mas pura espera. Não serve. E, em não servir, é sobra, e, tudo que sobra, acaba mais cedo ou mais tarde, no lixo.
O problema é que temos esperado em demasia a hora da faxina. De por no lixo, as sobras de nossas vidas. O que não tem mais uso, ou serventia. Que é obsoleto, ultrapassado. Que valor pode ter a água salgada do mar em meio ao deserto? Ou o cobertor guardado na dispensa, onde não aquece a ninguém?
Uma casa cheia, nem sempre é uma casa agradável. O fato de passarmos um dia todo sentados em uma garagem, não fará de nós um carro. Então qual o motivo de guardamos tantas coisas inúteis, e, apertarmos tanto a casa, que muitas vezes sofre, pelo excesso de carga. Sim, pois uma casa também tem sua capacidade máxima para abrigar as coisas, sejam elas, quais forem.
Uma habitação muito cheia, causa desconforto a quem nela habita. É preciso praticarmos o desapego, de tempo em tempo, e, limparmos nossas casas internas, nossos corações, nossa psique, ou como desejarmos chamar o lugar que aperta, dói, machuca e até dos olhos faz verterem lágrimas. E sim, eu sei, que nem sempre é fácil iniciar uma faxina, mas é inegável a necessidade de que seja feita.
E do que devemos nos livrar? O que poderá fazer falta? O que de fato é importante em meio a tantas coisas? A resposta é bastante genérica, mas simples: Jogue fora tudo que impede a casa de ser confortável! Que mania temos de carregar pedras nos sapatos sem necessidade! – Mas como tirar da casa algo que é intrínseco a ela, e, que portanto não pode ser removido? Falo do amor? Sim! Pode ser. – É possível arranca-lo da casa? Não! – Para este, e somente este, o serviço de faxina é vão.
Ainda assim, não há nada para ser esperado, nem desesperado. Ainda assim, precisamos ter a esperança do verbo esperançar, e como disse Paulo Leminski:
“Pense depressa.
O que veio?
Quem vem?
Bonito ou feio?
Ninguém.”