Os Pioneiros: Uma parte de mim é saudade, a outra solidão!
Falar de sentimentos em um mundo onde as pessoas preferem o contato via WhatsApp ao invés do milenar olho no olho, mesmo estando ambos na mesma mesa é um tanto quanto fora de moda. Pode até soar ridículo, é bem verdade, mas resisto. Sou como uma mula: Teimosa!
Uma das melhores invenções da tecnologia, para mim, foram os aparelhos de TV por assinatura que gravam a programação. É verdade que o extinto vídeo cassete o fazia também, mas são outros tempos, não é mesmo? Meu aparelho tem uma gravação quase que sagrada, todos os dias, de segunda a segunda, no TCM, pela manhã, duas horas são reservadas a gravar Os Pioneiros, série americana da década de 70, gravada nos Estados Unidos e que conta a história de um pequeno povoado, no oeste americano, Walnut Grove, onde vive a família Ingalls. A versão original recebeu o nome de Little House on the Prairie tendo sido produzida pela NBC por quase 10 anos. Uma produção de Michael Landon, que é também o protagonista.
Eu não vou aqui fazer uma resenha da série, até porque são quase 10 anos de produção e que não se podem resumir em um único texto, quiçá num livro. Mas sempre que vejo a série, quando esta não me põe a rir, me faz chorar. Lindas histórias, que na década de 70, ainda quando nem se imaginavam os aplicativos para smartphones já se tratavam de assuntos como fé, família, preconceito de cor, de sexo, se falava de amor aos animais, mas o que mais me encanta é que se olhava olho no olho, se dizia a verdade, se tinha amor aos amigos, a palavra empenhada valia mais que o papel. As pessoas eram boas!
Hoje, mais de um século depois dos anos em que se passavam a série muita coisa mudou, quase não sabemos a cor dos olhos de ninguém, pois esse alguém é identificado mais pelo número de celular que pelo próprio nome. Aliás não sei por qual motivo ainda hoje os pais colocam nomes nos filhos, deveriam apenas dar-lhes ao nascer um chip pré-pago com internet ilimitada e pronto. O filho estaria criado. Sei que estou exagerando (ou não), mas a questão é que perdemos o calor humano de nossas relações, perdemos a percepção da alma, esfriamos o coração, e por fim, endurecemos nossa alma.
Sinto saudade do que nunca vivi, do que nunca tive ao assistir essa série. Amigos que se unem para ajudar o outro, pessoas reunidas na igreja, não para falar da vida alheia ou para ser um “cristão” melhor aos olhos dos outros mas para serem quem realmente são. Abraço apertado, crianças pulando amarelinha, tomando banho de rio, puxando o rabo do cavalo, bebendo leite da vaca… Uma simplicidade tão complexa para nós, do século dos algoritmos matemáticos, dos smartphones, da internet…
Não conhecemos mais o que é ser “humano”. Falam tanto em criar inteligência artificial, mas, pergunto: Quer mais artificiais do que somos hoje? Verdade que somos inteligentes, mas a que preço? Quanto custou a nossas vidas termos televisores de plasma, led, computadores com processadores cada vez mais ágeis, lâmpadas econômicas, aparelhos sem fio, telefones, e-mail? Custou o preço de nossas almas! Não que seremos entregues ao diabo, mas fomos arrancados de nós mesmos! Roubaram nosso tempo, nossos amigos. Que mais perderemos?
As igrejas estão abarrotadas de pecadores que se sentem culpados, mas cada dia mais em não havendo dinheiro para o lazer as igrejas formam pecadores, dando a cada um seu saco de culpas, e transmitem seus cultos pela internet por onde também se pode pagar o dízimo. Tudo é virtual, inclusive o caráter.
Queria jantar com os Ingalls, depois ouvir Charles tocar violino caipira enquanto as crianças dançam ao redor da mesa, a esposa corta a torta de frutas que colheu mais cedo junto com as crianças, ao som dos grilos, das árvores, da noite… Olho pela janela, mas tudo que vejo é o reflexo de meu celular brilhando, mais de 100 mensagens no WhatsApp… Mas estou sozinho, e bem, essa é a questão!
Por Patrick Canterville
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1 Comment
amei , tambem sou fã desse serie