Winne The Pooh – “Adeus Christopher Robin”

Vocês já assistiram “O Ursinho Pooh”, aquele ursinho amarelo que usa uma camiseta vermelha que não cobre o bucho (nordestinês para “barriga grande”), que ama mel, tem muitos amigos em volta e todos moram na floresta.

A pureza de Pooh foi inspirada em outra pessoa muito pura, Christopher Robin Milne, filho de Alan Milne, o criador da história. O que não se conhecia muito eram os detalhes da origem do simpático ursinho, o que é mostrado no filme “Adeus Christopher Robin” (2017).

https://www.youtube.com/watch?v=1QHDfXfSRrA

Alan Milne acabara de voltar da Primeira Guerra Mundial, já voltou a escrever algumas coisas, o que se tornaria uma peça dentro em breve, mas poucos perceberam o que realmente havia acontecido com ele; uma guerra pode transformar um homem.

Primeiramente, Alan não queria mais escrever coisas banais, poesias vazias ou fúteis, queria escrever sobre a guerra e como aquilo nunca deveria acontecer. Um pensamento que lembra muito a função da ONU, criada anos depois.

E depois algo mais físico: Alan havia voltado com alguns traumas, a luz do teatro, assim como o zumbido das abelhas, o fazia lembrar do campo de batalha, fazendo com que ele tivesse crises de pânico.

                                                            Alan Alexander Milne e seu filho Christopher Robin

Ainda assim ele tentou voltar a fazer parte da sociedade. Casou-se com a bela Daphne, uma vibrando mulher que tinha tendência de viver de status, mas o amava de verdade. Pouco tempo depois ela engravidou, sonhava em ter uma menina, fez o enxoval todo pensado nisso, porém teve um menino, Christopher, e isso a fez praticamente rejeitar o menino, contratando Olive para cuidar dele.

Chritopher era chamado de Billy Moon, Alan de Blue e Olive de Nu. Tudo parecia ser feliz na casa, mas a única que dava verdadeira tenção ao menino era a babá Olive (ou Nu).

Alan estava tendo dificuldades para escrever e levou sua família para morar no campo quando Christopher tinha seus 8 anos. A mudança fez bem para que a família se unisse mais, agora o pai tinha um pouco mais de tempo para ter uma verdadeira relação com o filho, mas deixou a escrita um pouco de lado, o que aborrecia Daphne.

Certa vez Christopher e Alan ficaram sozinhos no campo, Daphne disse que só voltaria quando o marido quisesse escrever novamente e Olive precisou cuidar da mãe doente, e o menino pediu ao pai que escrevesse um livro para ele.

Na verdade, assim que eles chegaram no campo Daphne se esforçou para agradar o filho, então lhe deu alguns bichos de pelúcia, um urso amarelo, um porquinho rosa, um tigre e um burro. O garoto soltou a imaginação.

Então, na semana que ficou sozinho com o pai, mostrou a história do seu mundo e o quão inocente uma criança pode ser. Alan confessa no final que aqueles foram os melhores dias da vida dele.Ele decide escrever sobre todo aquele mundinho que o filho criou, lançando “Christopher Robin and Winnie The Pooh”, o primeiro livro do urso. Aquilo virou um fenômeno mundial, todos passaram a querer conhecer o verdadeiro Christopher, a floresta de Winnie, a babá dele (até ela entrou na história).

Um garoto de 8 anos passou a ter compromissos diários, ligações, entrevistas, tarde de autógrafos, dentre tantas outras coisas, quando ele só queria a atenção dos pais. Isso irritou Olive, que enfrentou os patrões, alertando Alan, que parou de escrever sobre o filho e o colocou numa escola em que poderia não ser reconhecido.

Christopher cresceu ressentido, porque achou aquilo um absurdo, o mundinho era dele, o urso era dele, não do mundo. Ainda sofreu bullying por onde quer que fosse. Quando estourou a Segunda Guerra Mundial ele decidiu deixar de ser Christopher Robin ou Billy Moon e passar a ser um simples soldado.

No campo de guerra viu que sua história ainda rendia, mas que naquele momento dava esperanças para aqueles que viam a morte diariamente.

Nenhuma descrição desse filme conseguiria traduzir a delicadeza dessa história, a simples pureza e inocência de um menino, a total falta de percepção do pai e de carinho da mãe. Não que os pais não o amavam, dá pra ver que amavam, mas eles não sabiam lidar com aquilo.

Ela sabia que se tivesse um filho uma hora teria que o ver servir na guerra, ele traumatizado pela guerra passada, não conseguia pensar em outra coisa senão evitar outra guerra através do que escrevia. O menino era quase que só um assessório naquilo tudo, até mostrar que era bem mais do que isso.

Essa relação de pai e filho tem uma cena linda, simples e tocante, que marca a pureza do futuro ursinho de camiseta curta. Eles estavam caminhando na floresta, Alan nunca tinha levado o filho nas caminhadas, ele escutava as história do menino e aí ouviu abelhas zumbindo ao longe e paralisou, lembrando do campo de guerra, o menino diz: “Sabia que elas não mordem? A Nu falou que, se você não mexer com elas, elas não te machucam”. Alan dá um leve sorriso e volta a brincar com o filho.

O menino achava que o pai tinha medo de abelha e, na inocência de suas palavras, conseguiu fazer o pai superar um trauma de guerra.

O elenco é simplesmente genial, parece que todos foram escolhidos a dedo.

Alan é interpretado por Domhnall Gleeson, já bem conhecido por filmes tocantes, de humor e amor delicados, como “About Time” (2013 – tem resenha aqui), mas já esteve em produções mais comerciais, como “Stars Wars: The Last Jedi” (2017). Mais um vez conseguiu transpassar profundos sentimentos com expressões delicadas, poucos foram os sorrisos, os abraços e nenhuma explosão de alegria, mostrando o quão reservado era aquele autor.

Daphne, a excêntrica, energética e elegante madame da sociedade, foi vivida por Margot Robbie. Ela está mostrando cada vez mais que veio para ficar e ser o que tiver que ser, desde uma anti-heroína, a Arlequina do “Esquadrão Suicida” até uma patinadora obstinada e fora dos padrões em “Eu, Tonya”.

Olive, a babá dedicada, é Kelly Macdonald, já falei dela por aqui, na resenha sobre “Andorinhas e Amazonas”. Essa é uma dessas atrizes injustiçadas pela mídia, ninguém fala dela, mas ela sempre dá um show de interpretação. Quem gosta de filme de época a conhece e sabe do talento dela.

Christopher teve dois atores principais. Will Tilson interpreta o garoto com 8 anos, ele faz sua estreia como ator de filme, interpreta como gente grande e experiente, lindo de ver suas expressões. Espero sinceramente que ele esteja tendo uma infância e não vivencie o que Christopher vivenciou nessa idade.

Alex Lawther vive um Christopher mais revoltado, com 18 anos, pronto para ir para guerra e cansado de ser famoso. Ele já é mais experiente, em especial em produções para a TV, como as famosas “Black Mirror” e “The Ending of The F***ing World”.

Quem imaginou que por trás de um filme “bestinha” (agora vejo que não é tão bestinha) da nossa infância existia tanta história?!

Separem seus lenços e assistam esse filme, isso é tudo que consigo dizer sobre ele!!!

Beijinho e até mais.

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