Warcraft (2016)

Antes de mais nada, é bom estabelecer uma conexão inicial com os leitores dessa crítica. Fazer uma análise de uma obra cultuada por fãs é ter certeza que vai caminhar vendado e descalço em um campo minado cheio de espinhos. Ou você faz parte do clã e escreve uma resenha voltada para os fãs, ou então faz uma análise indiferente voltada para quem também está por fora do assunto. Estou exatamente no meio do caminho: joguei Warcraft 1 e 2 (e já faz uns 20 anos…), mas nunca joguei World of Warcraft (WoW) – o jogo online que bateu o recorde de número de jogadores, com mais de 10 milhões de usuários registrados. Então, não tenho experiência de horas-jogo suficientes para fazer uma comparação das duas mídias, portanto vou me ater a escrever apenas minhas considerações sobre o filme. 

warcraft2Procurando criar uma nova franquia, e acabar de vez com uma maldição de que (salvo raríssimas exceções) filmes baseados em jogos são péssimas adaptações, o estúdio Universal resolveu tomar alguns cuidados: quase 10 anos de produção, orçamento de U$ 160 milhões, convidou como consultores e revisores os técnicos da Blizzard (empresa responsável pelo desenvolvimento dos jogos), a caracterização dos Orcs foi feita pela Industrial Light & Magic, uma das melhores companhias de efeitos visuais do mundo, e, por fim, contratou o diretor Duncan Jones (filho de David Bowie), responsável por bons filmes como Lunar e Contra o tempo. Além disso, decidiram começar literalmente do começo, contando uma história adaptada do primeiro jogo da franquia, de 1994: Warcfrat: Orcs & Humans.

Warcraft tem como base, além do primeiro jogo, os livros The Last Guardian (2002) e Rise of the Horde (2006), além de referências do jogo online.  O filme se passa no reino de Azeroth, governado pelo rei Llane Wrynn (Dominic Cooper), juntamente com seu cunhado, o guerreiro Anduin Lothar (Travis Fimmel) e pelo guardião Medivh (Ben Foster). A paz no reino se encerra com a abertura de um portal, trazendo vários guerreiros Orcs de outro mundo chamado Draenor em busca de um novo lugar para viver. Os Orcs são liderados pelo mago Gul’dan (Daniel Wu), que precisa capturar os humanos para absorver suas almas e usar sua energia vital para abrir novamente o portal e trazer todos os demais Orcs. As criaturas são divididas em clãs, sendo uma destas chefiadas por Durotan (Toby Kebbell), que discorda dos métodos de conquista de Gul’dan e tenta um novo caminho para a paz. A ponte entre Durotan e Lothar é a mestiça Garona (Paula Patton), meio orc meio humana, que terá papel fundamental na guerra entre a Horda e a Aliança.

“Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos” tem tudo para agradar aos fãs da franquia e àqueles que gostam de filmes de fantasia. Primeiro porque o filme apresenta (ou ao menos mostra que existem) vários cenários,  com diferentes reinos e raças de orcs, elfos, anões, magos, animais gigantes terrestres e alados. As cenas de batalhas são bem editadas, coreografadas e ágeis. É interessante retratar humanos e orcs de maneira semelhante, assim como o jogo faz, cada um com seus pontos de vista e interesses, existindo heróis e vilões de ambos os lados (se bem que ainda notei um pouco o Time Humano pendendo para o lado herói e o Time Orc para o lado vilão). Então quer dizer que o filme também vai agradar aos que não conhecem os jogos, o longa é sensacional, um dos melhores do ano, fim da maldição, certeza de que teremos uma franquia de absoluto sucesso? Bom, não é bem assim…

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Enquanto algumas campanhas publicitárias anunciaram o filme como uma mistura de Avatar com Game of Thrones, e alguns críticos o compararem a obras como O Senhor do Anéis, O Hobbit ou Nárnia, eu o comparo, pelo menos quanto ao meu sentimento após assistir ao longa, ao filme “A lenda de Beowulf“. Um filme revolucionário em termos de computação gráfica,  um roteiro de fantasia com elementos “medievais” e uma história OK. Após seu término, você comenta mais sobre os efeitos especiais e fatores extra-história do que sobre o filme em si. A diferença é que, em Beowulf os comentários eram sobre a Angelina Jolie digital. Já no caso de Warcraft, os comentários são relacionados às comparações com o jogo.

Outra semelhança que me veio à mente foi a reclamação de que os personagens digitais não transmitiam expressões suficientes para causar um impacto emocional. Quando eu lia alguns críticos dizendo que não houve “apego aos personagens” achava uma bobagem. Mas, curiosamente, foi o que aconteceu comigo ao assistir. Como tem muita gente, muita coisa pra mostrar, um universo novo para estabelecer (para os que não conhecem os jogos ou derivados da franquia), e ainda fazer esta balança de tempo em cena entre as duas raças, o desenvolvimento da história acaba ficando um pouco corrido, e não se estabelece muito tempo de tela para alguns personagens.

Mas isso não quer dizer que o filme seja ruim. Apesar do ritmo acelerado, eu consegui entender a história e acompanhar o ritmo do filme sem problemas, tendo como efeitos colaterais apenas o relatado acima. Warcraft é um filme correto. Além de visualmente muito bem feito, tem uma história legal, tem essa pegada de mostrar uma outra face dos Orcs, (quase) sempre relegados a vilões ou mesmo ajudantes de vilões. Espero que a franquia continue e que o público que gostou do filme, principalmente os fãs dos jogos, façam mais barulho do que os críticos que detestaram o filme.

Conheça mais sobre os Jogos:

Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos

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