Wakanda Forever – “Pantera Negra”

Foi-se o tempo em que falar de super heróis era coisa de crianças e adolescentes viciados em HQs e vídeo games, a Marvel (e a DC também) conseguem mostrar nos mostrar um mundo diferente ou sob uma perspectiva diferente.

Com “Pantera Negra”, de 2018, a sensação de pertencimento foi além agora havia um país quase utópico escondido nas terras áridas do continente africano, cujo o rei era também um super herói negro e protagonista e suas tropas eram formadas por fortes guerreiras, lideradas por uma general que vale mais do que muitos exércitos ocidentais.

Wakanda é uma terra não colonizada, guarda em si o metal mais resistente e fonte de tecnologia “futurista”, vibranium (do escudo do Capitão América, trajes do Homem de Ferro e garras de Wolverine) por isso é um país rico. Mas, para preservar suas riquezas e modo de viver, eles vivem escondidos do mundo. Para todos os efeitos, é um país de terceiro mundo e sua economia é baseada na vida rural.

A primeira aparição do Pantera Negra, ou melhor, de T’Challa, foi em “Guerra Civil”, quando sei pai, T’Chaka, morre em ataque a sede das Nações Unidas, em meio ao seu discurso. Ele dá apoio ao Capitão América e é o dono de uma das falas mais icônicas: dê um escudo a esse homem.

Ouça nosso podcast sobre o filme:

https://noset.com.br/podcast/setcast-pantera-negra/

Seu filme solo começa com T’Challa se preparando para assumir o trono de seu pai, aliás, o reino inteiro se preparada para isso. Antes de chegar em Wakanda ele e sua general, Okoye, resgatam Nakia de uma operação em que ela trabalha. Nakia é uma espiã do país, irmã de Okoye e tem um relacionamento não definido com T’Challa.

Depois de assumir e receber o upgrade do traje, desenvolvidos pela princesa Shuri em seu refinado laboratório, o mais novo Rei de Wakanda tem a oportunidade de resolver um problema antigo, prender o contrabandista Ulysses Klaue, que já roubou vibranium e matou alguns wakandianos 30 anos antes. Na operação eles até conseguem capturar, mas descobrem que ele tem uma ajuda, alguém desconhecido, mas que acaba entrando em Wakanda.

Esse estrangeiro é Erik Killmonger, conhecido mercenário do exército estadunidense com uma inusitada ligação ao reino de T’Challa e sangue real. Descobre-se que Erik é filho do príncipe N’Jobu, irmão de T’Chaka, que fora enviado aos EUA no começo dos anos de 1990, mas acabou se revoltando com as injustiças sociais, ele acreditava que dividir as riquezas de Wakanda iria ajudar o mundo, mas o fez ajudando Klaue a roubar o vibranium.

Em confronto com T’Chaka, quando ele descobre a traição, ele acaba matando o irmão e, para manter o segredo em relação a Wakanda, deixou Erik abandonado com o pai morto. Erik cresceu sabendo a história da casa do pai e revoltado pelas mesmas causas dele. Agora ele quer tomar o trono desse utópico reino e fazer as coisas do jeito que o pai dele sonhou em fazer.

É difícil traduzir a magnitude da história do Pantera Negra em simples palavras, há um peso histórico, trazido principalmente por Erik, que faz tudo fazer sentido, mesmo que o pano de fundo seja um reino inventado pelo genial e saudoso Stan Lee. Wakanda se tornou um símbolo de luta, de conscientização, de representatividade.

Todo o visual do filme nos faz sentir dentro desse mundo diferente, a fotografia impecável, a caracterização de cada tribo, as imagens do plano espiritual. O figurino foi tão representativo que pode ser apontado como um personagem a mais, foi tão principal que ganhou o Oscar de Melhor Figurino.

À propósito, a estilista responsável, Ruth Carter, estrela um episódio da série “Abastract” (segunda temporada, episódio 3, na Netflix), lá ela fala um pouco do processo criativo para essa produção.

A moda das telas inspira a moda fora delas, os atores também prezam pela influência africana em suas roupas de gala. Chadwick Boseman e Michael B. Jordan se destacam como homens bem vestidos em tapetes vermelhos.

Algo que me chama muita atenção é como conseguiram unir elementos tradicionais, que até pareciam rudimentares, na impressionante tecnologia do vibranium. Shuri ganha sua visibilidade nesse momento, com suas invenções e adaptações.

Embora o rei seja um homem e a Pantera Negra em si, há também a representatividade feminina. Vi um comentário de uma fã dizendo algo como “as mulheres nesse filme não são fortes porque estão bravas, elas são fortes porque são fortes”. Isso descreve perfeitamente o protagonismo feminino.

T’Challa não dá um passo sem consultar sua mãe, rainha Raimonda, os aparelhos e trajes criados por Shuri, a proteção militar de Okoye e a parceria e apoio de moral de Nakia. Há sim guerreiros homens, mas é possível ver a igualdade de oportunidades entre os gêneros e respeito as diferenças.

A grande questão de “Pantera Negra” é saber tomar a decisão entre proteger os seus ou tentar ajudar o mundo com todas as suas riquezas e inteligência. Tantos Erik quanto T’Challa querem ajudar, querem ver o mundo se transformar, só que Erik escolheu fazer isso pela força e T’Challa quer fazer pelo discurso, pelo diálogo.

Na verdade, T’Challa ainda tem que tomar essa decisão, ele ainda se sente dividido entre dividir tais riquezas com o mundo ou manter o bem estar só de Wakanda, afinal ele é o rei desse povo. Enfrentar Erik e entender suas motivações o fez tomar a decisão de dividir, resultando em um dos discursos mais emocionantes de toda a franquia, ou doa filmes das últimas décadas.

O filme tem duas cenas pós-crédito, a primeira delas é T’Challa, ao lado de Nakia e Okoye, fazendo seu primeiro discurso na ONU, algo como: há mais coisas que unem do que nos separam, em tempos difíceis os sábios constroem pontos, os tolos constroem barreiras.

Eu sempre me emociono ao ouvir esse discurso completo, é tudo que eu acredito desde que comecei a estudar Direito, mais ainda quando comecei a entender a diplomacia. Essa é uma das maiores razões de admirar tanto esse super herói, porque para mim ele pode ser mais real, esse pensamento pode ser levado a sério na ONU que nós conhecemos.

O elenco desse filme não poderia ser mais perfeito.

Liderando Wakanda estava Chadwick Boseman, já conhecido pelo público por “42 – A História de uma Lenda” e “James Brown”. Eu conheci como T’Challa e lembro como fiquei impressionada com ele desde “Guerra Civil”, desde o sotaque, que era criado, até a perfeição e elegância dos movimentos, lembrando uma pantera de fato.

Apesar do personagem ser sério, centrado, ciente de suas responsabilidades, ele soube dar o ar de modernidade e de leveza. Os momentos com a irmã, Shuri, vivida por Letitia Wright são espontaneamente engraçadas e reais (eu consegui me ver ali, com meus irmãos, o tom de zoação é esse mesmo, só que menos formal).

Infelizmente Wakanda e o mundo perdeu esse grande ator recentemente, espero que ele esteja agora com Stan Lee e que eles vejam que cumpriram a missão deles aqui nesse plano. Rest in Power, King!

O antagonista, Erik Killmonger, é vivido por Michael B. Jordan, ele ganhou visibilidade ao estrelar “Creed”, depois de ter vivido o reboot de “Quarteto Fantástico”. Lembro dele em uma série adolescente bem antiga, “The Assistants”, e sempre esperei ver mais dele, Killmonger só me confirmou o quão intenso ele é.

As irmãs Nakia e Okoye são vividas por Lupita Nyong’o e Danai Gurira, elas parecem irmãs mesmo. Lupita consegue dar a Nakia a teimosia certa para a rebeldia dela, sem desrespeitar aqueles ela ama, tornando-se elemento principal na retomada do poder de T’Challa. E quanto a Danai, a força do olhar e postura dela são o que a general precisa para ser quem é.

A rainha Raimonda é vivida por Angela Bassett em toda sua elegância e fonte da juventude (ela nunca envelhece). N’Jobu ganhou a veia dramática que só Sterling K. Brown poderia dar. Ulysses Klaue era o personagem “real “que Andy Serkis precisava para mostrar todo seu potencial (ele aparece em outros filmes da franquia). O líder espiritual da tribo, Zuri, é interpretado por nada mais, nada menos, que Forest Whitaker. O agente da CIA, Ross, que ajuda na captura de Klaue, é Martin Freeman, o Watson da série “Sherlock” e Bilbo jovem, da franquia “O Hobbit”.

T’Chaka, o pai de T’Challa, ainda aparece, tanto nas memórias quanto no plano espiritual, e ele é vivido por John Kani. A voz de Rafiki, o líder espiritual de Mufasa e Simba no live-action de “O Rei Leão”, é dele. Inclusive, na resenha desse live-action eu fiz comparação com a história de “Pantera Negra”.

https://noset.com.br/podcast/setcast-237-extra-ate-breve-chadwick-boseman/

Não sei como a nova etapa da franquia Marvel vai continuar com a morte de Chadwick Boseman, o que eles farão com o Pantera Negra, mas sei que o pouco que ele apareceu fez com que a história importasse, moveu emoções e pessoas.

Mas tenho certeza de uma coisa: Wakanda Forever!

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