Venom

Todos acompanharam o sucesso dos estúdios Marvel nos últimos anos. Para não ir tão longe, basta relembrar o último sucesso, Vingadores: Guerra Infinita [Avengers: Infinity War, 2018] que, além de ser um bom filme, já arrecadou mais de 2 bilhões de dólares.

Vários são os motivos para isso. O universo extenso, interligado e com constante desenvolvimento é um deles. Bons personagens e atores, além de roteiros passáveis são outros. Há casos em que a direção de arte vale pelo filme inteiro, como em Pantera Negra [Black Panter, 2018]. A variação no enfoque de cada longa-metragem, que vão desde o tom sombrio do próprio Guerra Infinita [2018] à comédia, como em Thor: Ragnarok e Guardiões das Galáxias, garantem, também, que o público não enjoe da sequência contínua de produções sobre os personagens da Marvel.

E exatamente nesse último motivo está o grande problema de Venom: não há uma definição sobre o que ele deveria ser. O filme flutua do sinistro-sangrento, como em seu início, para a galhofa, com algumas piadas forçadas. Esta ausência de identidade é claramente um problema da direção de Ruben Fleischer, algo surpreendente para quem tem em sua biografia filmes com personalidade, mesmo em temas batidos, como Zumbilândia [Zombieland, 2009].

O filme aproveita parte do histórico de Venom nos quadrinhos, misturando linhas temporais. Não há a ligação do anti-herói com o Homem-Aranha, que marcou toda a sua primeira etapa na Marvel e que pode ser conferido no filme Homem Aranha 3 [Spider-Man 3, 2007]. Há, contudo, a ligação com Eddie Brock, o repórter interpretado por Tom Hardy e que acaba se tornando o hospedeiro do simbionte.

Nesta adaptação para as telas,

(ATENÇÃO: AVISO DE PEQUENO SPOILER)

Eddie cai em desgraça depois de confrontar o poderoso Carlton Drake (Riz Ahmed), presidente da Fundação Vida, com informações que havia obtido ilicitamente da sua noiva, Anne Weying (Michelle Williams). Acaba perdendo o emprego e a noiva. Meses depois, falido e em depressão, tem a chance de voltar a investigar a Fundação e vingar-se de Carlton. E aí…, bem e aí o resto você terá que assistir.

(FIM DOS SPOILER)

Tom Hardy cumpre bem o seu papel, na medida em que o roteiro lhe permite. A relação entre Eddie e Venom ocorre de uma forma atropelada, privilegiando mais a ação do que a relação entre os dois. Algumas reações de ambos parecem forçadas pelo pouco tempo de desenvolvimento dos personagens. A maravilhosa Michelle Williams, de Manchester à Beira-Mar, entre outros bons filmes, não tem grande espaço para brilhar. Do trio principal, Riz Ahmed mostra-se o mais fraco, um pecado mortal para um filme de heróis. Vilões sem carisma deixam o público anestesiado e sem envolvimento e é exatamente isso o que acontece com Venom.

A mixagem de som, os efeitos especiais e a animação gráfica estão perfeitos, muito embora o filme abuse do expediente de rodar cenas de ação à noite ou em ambientes escuros, para baratear os custos com CGI. A cena de luta final entre Venom e Riot é um ponto alto e atenderá ao desejo dos fãs.

Considerando tudo isso, Venom não pode ser considerado um filme ruim, embora seja um dos mais fracos dentre aqueles produzidos pela Marvel nessa década. O estúdio torna-se vítima do próprio sucesso. Ao estabelecer um parâmetro alto, produções médias acabam sofrendo duras críticas.

Venom será o primeiro filme distribuído pela Sony, que ainda detém os direitos do Homem-Aranha, depois do seu acordo com a Marvel e que permitiu a Casa das Ideias incorporar o aracnídeo adolescente em produções anteriores. Há duas cenas pós-filme. Uma logo depois do final e que introduz o vilão da sequência, Woody Harrelson, como Carnificina (Carnage). Ou seja, se um dos problemas do primeiro filme foi o vilão, certamente não será no segundo. Há, também, um pequeno curta no final dos créditos, sobre o animação Homem-Aranha: No Aranha verso. A longa espera para ver esse último vale a pena.

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