Um quase herói francês – “O Retorno do Herói”

O maior sonho de uma donzela francesa da alta classe da primeira década do século XIX é se casar com um oficial da cavalaria, este apontado como um herói nacional. Agora imagina que sonho seria casar com Jean Dujardin com a farda clássica de oficial francês!!

“O Retorno do Herói”, filme francês lançado em fevereiro deste ano, uma das atrações do “Festival de Varilux de Cinema Francês” e que foi lançado oficialmente no mês passado no Brasil, com distribuição da A2 Filmes, se passa na França de 1809, momento em que o país passava por alguns conflitos armados e seus soldados estavam constantemente indo para o campo de batalha.

Havia muita esperança em pequenas cidades interioranas, as quais estavam ameaçadas de invasões, por isso os soldados passaram a ser a figura de heróis. O Capitão Charles-Grégoire Neuville era do tipo que se aproveitava desse momento para fazer sucesso entre as mulheres e, se não fosse demais, se dar bem com alguma filha de nobre e nunca mais precisar trabalhar na vida.

O charme e a lábia do Capitão seduziu Pauline, que era de uma família rica e de socialmente ativa, por isso mesmo ele a pediu em casamento. O problema é que no exato momento em que Pauline aceitou a proposta ele foi chamado para se apresentar no campo de batalha. E lá se foi ele, deixando uma noiva louca para casar e esperançosa de receber as cartas de seu noivo.

Daí Pauline entrou em depressão, não recebia carta alguma de seu Capitão, não fazia mais nada da vida, ficou até à beira da morte. Sua irmã mais velha, a “rebelde” da família, Elisabeth, não aguentou ver aquela situação e tinha a impressão que Charles mais prometia que cumpria, resolveu então escrever cartas para a irmã se passando por ele. A estratégia deu certo, até que receberam a notícia que o destacamento o qual ele pertencia havia sofrido o ataque e ninguém havia sobrevivido. Desolada com a perda de seu noivo, Pauline encontra o amor em Nicholas, que há tempos tentava a cortejar.

Ah, a memória do Capitão Neuville foi muito positiva, as cartas de Elizabeth haviam deixado a impressão de que ele se tornará um verdadeiro herói da cidade (com estatua e tudo mais).

Seria um belo final, se anos depois Elizabeth não tivesse encontrado Charles como um mendigo de passagem pela cidade. Ele a reconheceu, tentou arrancar dinheiro da moça, mas acaba confessando que fugiu do campo de batalha, deserdou o exército e nem se lembrava mais do nome da noiva. Ela, por sua vez, confessa que se passou por ele para consolar a irmã e o informa que todos acreditam que ele estivesse morto. O encontro acaba com ela pagando a ele uma quantia para nunca voltar por ali e ela não ser desmascarado.

Só que ele não é dado a regras, por isso usa o dinheiro que ela deu para “se arrumar”, toma um banho, recupera sua farda (só a farda mesmo) e corta barba e cabelo. Lá estava ele novamente, o falso herói. Ele volta a casa de Elizabeth e Pauline, mostra-se vivo e conquista novamente a família com sua lábia.

Para Elizabeth ele falou que havia se inspirado e que não queria ser considerado um mendigo. Ela teve que engolir a presença dele e o ajudar a manter toda a mentira, mostrando-o o conteúdo das cartas. Ele até tenta seguir o “roteiro” dela, mas acaba inventando histórias mirabolantes.

No final eles são desmascarados? Não aqui!! Eles casam, mais por conveniência, ele volta a fazer parte do exército e… Foge novamente do campo de batalha.

Esta é uma comédia bem diferente do humor europeu, é de fato mais próximo ao nosso humor, as vezes físico e caricato, mas em francês, o que dar um charme muito maior. Possivelmente o fator mais cômico é o choque entre expetativa e realidade, é ver o mendigo por trás do soldado pomposo, a tentativa dele de justificar os erros com uma filosofia que pode sim ludibriar um desavisado, um inocente.

É encantador ver a relação entre Charles e Elizabeth, ele um mulherengo com “M” maiúsculo, profissional, e ela descrente das regras sociais, mas que protege a família como ninguém. Eles começam como cunhados, passam por inimigos, depois cúmplices, daí ele tenta a seduzir, acha que estava apaixonado (na verdade nenhuma mulher havia o desafiado daquela forma e ele não sabia reagir àquilo). Ela entra na dele, mas eles percebem que são melhores como cúmplices, inclusive o casamento foi mais um acordo entre eles do que por qualquer outra coisa.

Além disso, é divertido de ver o quanto ele a irrita quando não seque o roteiro, parece que ele faz de propósito só par ver como ela reage. Lembrei de quando meus irmãos fazem isso, por isso vejo muita irmandade entre esses dois personagens.

Elizabeth é interpretada por Mélanie Laurent, atriz francesa mais conhecida por emprestar a voz para a versão francesa de “The Simpsons”. Nunca havia visto filme com ela (que eu me lembre), foi uma boa primeira impressão, sabe fazer humor caricato sem ser besteirol (havia essa possibilidade). Melhor cena com ela: quando Charles pede a mão dela em casamento aos pais dela… Ela dá o pira, dá um ataque muito louco, tenta o desmascarar, mas nem é levada a sério.

O Capitão Charles-Gregórie Neuville é vivido Jean Dujardin… Antes de mais nada, pare um minuto e fale “Jean Dujardin” em voz alta, é basicamente uma poesia de tão gostoso de falar (estou falando da pronuncia mesmo, sem mentes maliciosas pessoas).

Agora falando sério, assisti pouca coisa com Jean Dujardin, em especial “O Artista”, que trouxe a beleza e o encanto do cinema mudo para o século XXI. Ele me encantou naquele momento, esperava ansiosamente mais um trabalho acessível dele e daí vem “O Retorno do Herói”, o total oposto, falante e mulherengo (nada romântico), mas igualmente encantador.

Jean Dujardin, faz mais filmes para eu poder me encantar e SEMPRE pronunciar seu nome, nunca te pedi nada!

 

Até mais, beijinhos

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