Tróia, o filme. Review da obra.

Por mais difícil que seja, caso ainda não tenha visto esse filme ou lido o livro, tenha atenção, pois esta resenha CONTÉM SPOILERS.

 

Baseado no épico “Ilíada”, de Homero, Tróia é um filme com altíssimo orçamento (200 milhões de dólares), visual incrível, uso de computação gráfica com o máximo de recursos da época, mas que peca ao tentar expor um lado romântico em uma história que tem por base a vingança e o ódio entre dois povos, além do uso de um sequestro como fator gerador do conflito.

Páris e Helena

Páris, filho do rei de Tróia sequestra a bela Helena, esposa do rei Menelau, um espartano que nutre ódio pela inacessível cidade dos troianos. Com essa atitude impensada, seguida pela fuga rumo ao reino do príncipe Páris, um exército arrebatador é convocado para invadir a cidade e resgatar Helena. Contudo, por trás de um ato voltado para a retomada da honra, Menelau busca, realmente, é conquistar a cidade e ganhar maior vulto como comandante e guerreiro. Desta forma, junto a seu irmão Agamenon, Aquiles e Odisseu, o rei espartano reúne uma frota de mais de mil navios e parte para sua empreitada de conquista.

O primeiro ataque é frustrado pela excelente liderança de Heitor, irmão de Páris, que demonstra uma coragem sem igual. As lutas persistem, sempre seguidas de muitas baixas, mas não há qualquer sinal de rendição por parte dos troianos.

A trama mostra, com certa simplicidade, o quanto essa guerra pode trazer de prejuízos. Com o decorrer dos combates, temos as mortes de Ajax, Menelau, Heitor, Aquiles e até o próprio rei Príamo. Há uma clara alusão aos rituais fúnebres, à celebração dos mortos e, com conteúdo, vemos a interrupção de uma guerra para a concretização dos rituais oferecidos ao falecido príncipe Heitor. Também é perceptível o apuro na reconstituição da cidade, das embarcações e do vestuário da época (com os tradicionais exageros de Hollywood onde ninguém da cidade aparece sujo e as belas mulheres estão sempre maquiadas).


Entretanto, um ponto que não posso deixar de criticar é a abordagem simplista, apesar do já citado apuro, diante do conteúdo do livro de Homero. A Ilíada é uma obra que, durante muitos séculos, foi considerada como o retrato fiel de um acontecimento histórico, fonte de inspiração para muitos outros trabalhos e escritores. Homero construiu, junto com a, uma história de conteúdo ímpar, capaz de nos trazer relatos sobre os costumes e comportamentos da época, além de ser uma obra indispensável a qualquer um que queira ser um bom líder e administrador.

O livro é uma obra de difícil leitura, porém de uma força inimaginável, retratando uma guerra movida pelo rancor, oportunismo e por amor. A luta por uma mulher é levada às últimas consequências com Homero e seu trabalho, onde os resultados são devastadores. Fato histórico ou não, o que foi relatado em “Ilíada” dá uma clara ideia dos estragos feitos por atos maldosos ou impensados.

Ainda assim o filme tem seus méritos e o elenco demonstra grande empenho nas interpretações, principalmente quando falamos de Peter O’Toole, o rei Príamo, um veterano das atuações (das boas, diga-se de passagem). Os papéis de Aquiles e Heitor foram entregues aos cuidados dos atores Brad Pitt e Eric Bana, respectivamente. Helena de Tróia é retratada à altura pela linda Diane Kruger. Páris é interpretado por Orlando Bloom (o eterno Legolas).

Não se pode deixar de citar a passagem sobre o famoso Cavalo de Tróia, peça fundamental para a invasão à cidade troiana. A produção mostrou muita dedicação para reconstituir uma arte tão complexa e, ao mesmo tempo, já tão retratada, convencendo o público com uma ‘estátua’ muito próxima da que foi idealizada por Homero.

                                                                                                         Aquiles arrasta o corpo de Heitor diante da muralha de Tróia.

Enfim, apesar de algumas liberdades poéticas, Tróia é um bom filme. Não um filme à altura do épico que o originou (o curto tempo e a ação predominante não o permitem), porém, certamente, uma obra capaz de nos fazer pensar e ter vontade de ler a Ilíada, objetivo máximo de uma produção baseada em um livro que é um patrimônio histórico.

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