Transformers – O Último Cavaleiro

O sucesso das franquias de cinema depende de uma ideia clara, por seus produtores e diretores, do conceito básico que justifica a sua existência. Com isso, forma-se um acordo entre o estúdio e o público. Este quer um produto específico e aquele o entrega a cada dois anos.

Transformers funciona assim. Você vai ao cinema sabendo exatamente o que verá. Da mesma forma como sabe o que esperar quando se senta para assistir 007 ou Velozes e Furiosos. Aqueles que querem mais, reclamam de as franquias entregarem o mesmo. O público cativo, contudo, reclamaria se fosse o contrário. Ele quer isso: mais do mesmo. Há um conforto na rotina.

O público cativo de Transformers é grande. Já faturou bem mais do que 3 bilhões de dólares com os filmes anteriores. Na primeira semana, Transformes: O Último Cavaleiro (ou, simplesmente, Transformers 5) obteve a pior arrecadação, quando comparado com os demais filmes. Nada, contudo, que preocupe os produtores. A carreira internacional do filme recém começou e ele é muito forte em grandes mercados, como a China. Não por acaso, grande parte da história do último filme (Transformers: A Era da Extinção) foi rodada lá. E já foram anunciadas duas continuações. Um spin off tendo como protagonista Bumblebee, para 2018, e Transformers 6, para 2019.

E qual a ideia de Transformers? Ser uma experiência visual e sonora, tentando explorar ao máximo recursos técnicos, a especialidade de Michael Bay. E isso todos os filmes da franquia, em maior ou menor grau, conseguem fazer.

Assisti Transformes – O Último Cavaleiro em uma sala IMAX, o local perfeito, uma vez que ele foi projetado e filmado com câmeras especiais, para ser exibido em 3 dimensões. Em um cinema normal, mesmo com boa qualidade, há perda de elementos de cena. Já na televisão você assistirá praticamente a outro filme.

Visualmente, é um filme muito interessante. Os efeitos impressionam. A textura, a definição, a renderização e a luz nas cenas com os robôs beiram à perfeição. Há truques, obviamente. Grande parte das tomadas, nas cenas de ação, são rodadas de forma muito próxima ao objeto, desfocadas pelo movimento constante e com constantes mudanças de ângulo. Assim, se você quiser achar erros, tem que estar em casa, parar o filme ou passá-lo quadro a quadro. Ou seja, coisas que somente chatos, freaks e perfeccionistas (resumindo – críticos) fariam. A qualidade do som é irrepreensível, embora seja um pouco cansativo (para mim) ouvir explosões por mais de duas horas seguidas.

O problema, para o público que não fez aquele “pacto” de receber apenas o conceito básico, é que o filme não entrega quase nada além disso.

A história é, em sua essência, uma repetição das duas anteriores. Há um artefato poderoso, que é o objeto da missão (a quest) dos heróis. A Terra está em perigo e sua sobrevivência dependendo de quem conseguir se apoderar do artefato. Ele já estava por aqui, escondido em algum lugar. Há mocinhos (autobots) e vilões (decepticons) perfeitamente definidos.

O roteiro tenta, e fracassa, ao acrescentar outros elementos nessa estrutura. Optimus Prime vira um vilão. São utilizados símbolos da cultura pop, como os cavaleiros da távola redonda, a luta contra o nazismo e a existência de uma sociedade milenar secreta formada por grandes nomes da história e que detém um conhecimento oculto do nosso passado. Há uma multiplicidade de personagens empregados como alívio cômico, com destaque para os robôs Sqweeks e Cogman. Jerrod Carmichael, um empregado contratado por Cade Yeager para cuidar do ferro-velho onde se esconde com os autobots nos últimos anos, e John Tuturro, que revive o papel de agente Simmons, também são utilizados com este fim.

No elenco, são integrados uma órfã das guerras entre os Transformers, Izabella, interpretada por Izabela Moner, e Anthony Hopkins, que tenta conceder credibilidade a um lorde e cavaleiro Inglês detentor de segredos sobre a história dos Transformers na Terra. Mark Wahlberg, que é um bom ator, retorna no papel do protagonista/inventor/aventureiro Cade Yeager. É apresentada Laura Haddock, a professora Viviam Wembley, colocada como uma versão light de Lara Croft, para dividir o protagonismo com Mark.

 

Não há espaço, entre as cenas de ação, para o desenvolvimento da história ou desta multiplicidade de personagens. O filme abusa de tutoriais e clichês, a fim de que o público entenda alguma coisa do que está ocorrendo. Tudo tem que ser explicado por meio dos diálogos. As relações e interações entre todos os envolvidos transcorrem de forma linear, previsível e artificial.

Outro problema, mais grave, é que as diversas tentativas de contrabalançar a ação com a comédia não funcionam. Tudo aquilo que é acerto em Guardiões das Galáxias, e o transforma num paradigma nesse quesito, aqui é erro. Você poucas vezes arqueará os cantos da boca nas diversas tentativas de lhe fazer rir.

Em resumo, Transformes – O Último Cavaleiro é um filme com um foco definido: a plateia que gostou dos últimos filmes da franquia. Não vá ao cinema esperando mais do que uma grande experiência visual e sonora ou atrás de uma história. Ela é apenas um adereço feio nesse rosto bonito.

 

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