Snoopy e Charlie Brown – Peanuts, o filme

Próximo das férias de inverno, a vida de Charlie Brown e sua turma sofre uma mudança com a chegada na cidade de uma garotinha da cabelo vermelho. Charlie Brown logo se encanta pela jovem e tenta lutar contra sua timidez e sua baixa autoestima e popularidade para se aproximar dela. Ao mesmo tempo, Snoopy encontra uma máquina de escrever e começa a imaginar uma história heroica contra seu arqui-inimigo Barão Vermelho.

Snoopy & Charlie Brown (para simplificar o enorme título) é o típico filme que pega em cheio duas faixas de público bem específicas: os nostálgicos e os pequenos. As crianças, especialmente as mais novas, irão adorar o carisma e loucuras do Beagle mais simpático dos quadrinhos/cinema e seu(s) amigo(s) passarinho(s) amarelo(s) Woodstock. A história é bem infantil, fácil de entender e acompanhar, com muitas caras e bocas dos personagens, o que arranca boas gargalhadas das crianças. Tudo é muito colorido e muito alegre. Provavelmente o longa vai conseguir que essa nova faixa de público, que pouco tem acesso às histórias mais antigas, se torne fã dos personagens.

Para os nostálgicos, principalmente quem era criança nos anos 70/80, vai sentir uma volta ao passado ao assistir o longa. O fato dos personagens terem sido recriados utilizando técnicas de animação por computação gráfica e misturar o estilo clássico com a tecnologia 3D é apenas um detalhe (tecnicamente impecável, por sinal). Todos os elementos da época foram preservados, para manter a essência das histórias e desenhos. Portanto, as inovações tecnológicas não chegaram na cidade dos garotos. Temos câmeras fotográficas antigas, telefones fixos, máquinas de escrever, entre outros aparelhos e detalhes que faziam parte da vida da geração acostumada a ler as tirinhas do Snoopy no jornal do pai (a única parte do jornal que interessava naquela época) ou ver os desenhos animados (quando os canais de tv aberta passavam bons desenhos).

Para as crianças maiores, as piadas e situações engraçadas vão surtir um efeito diferente. As gargalhadas inocentes serão provavelmente substituídas por um sorriso gostoso no rosto, de orelha a orelha. A história cliché, linear e sem surpresas é facilmente suprida pela emoção, sensibilidade e respeito com a tradição (obviamente, este comentário só surte efeito para os que já gostavam dos personagens). Praticamente toda a turma do Charlie Brown está lá, com suas características marcantes. Uns com mais espaço em cena, outros como figuração. Como faz bastante tempo que não vejo os desenhos ou quadrinhos, não lembro se ficou faltando alguém importante. Não dá para inserir  mais de 50 anos de história em 1:30h, mas o que está lá representa bem o ambiente e a franquia.

Alguns dubladores mudaram, como a voz de Charlie Brown (Marcelo Gastaldi faleceu em 1995 – que puxa!), mas temos aqui uma curiosidade: Snoopy e Woodstock não falam (ou melhor, não usam palavras), mas o som que emitiam era marcante. Depois de muitos testes, não conseguiram um efeito satisfatório. A solução foi buscar todos os desenhos e filmes anteriores e copiar/colar os sons originais do dublador Bill Meléndez (1916-2008) – aumentando ainda mais a sensação de nostalgia.

Se for para apontar críticas, ou para ser chato, talvez o lado filosófico de Charlie Brown tenha ficado um pouco de fora. Por ter mais apelo ao público infantil, mais fácil de ser caricato e por ser um bichinho fofo, Snoopy se torna o protagonista da história, deixando Charlie Brown como secundário, ao contrário das histórias originais. Todas as tirinhas foram desenhadas pelo criador do personagem, Charles M. Schulz (1922-2000). Este filme foi roteirizado pelo seu filho e neto, mas, por mais que se esforcem para continuar o legado do pai, fica difícil conseguir transpor 100% todo o sentimento que o criador imprimia em suas histórias. O próprio Schulz, antes de morrer, declarou que não via ninguém que pudesse continuar seu trabalho, já que ele era a essência de seus personagens. Os cartoons tinham essa dualidade de, se por um lado tinha as alegrias e confusões, músicas e brincadeiras por outro trazia questões existenciais até mesmo profundas, que mesmo sendo criança me fazia filosofar um pouco sobre a vida (eu já era nerd desde pequeno). Ainda mais hoje em dia em tempos de bullying (palavra que na minha infância e adolescência nunca tinha sequer ouvido falar).

Mas, mesmo apostando na simplicidade da história e das crianças, fica um saldo bem positivo, encantador, para amenizar um pouco a saudade, sentir um gostinho de infância… Estamos precisando voltar a ter um pouco de ingenuidade e pureza nas nossas crianças, e trazer o “Minduim” e o  Snoopy de volta pode resgatar um pouco disso.

Sugestões ou críticas para: leonardo@noset.com.br

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