A Maldição da Residência Hill. Mistério, medo e inteligência na melhor série de terror de 2018.

O terror é um gênero muito apreciado entre os fãs das várias formas em que ele se apresenta. Sim, eu disse “fãs”. Incontáveis pessoas pelo mundo admiram a forma como histórias são apresentadas e também o modo como elas atingem lugares escondidos nas mentes e nos corações dessas pessoas.  É como se houvesse uma dependência química, algo que os impulsionasse a nutrir a necessidade do medo. Quase… um vício.

A maldição da residência Hill é a nova série da Netflix, cujo tema principal é o medo. O diferencial está na forma como esse medo é apresentado. As doses de terror são amplificadas conforme vamos descobrindo uma nova peça do quebra-cabeça que é a trama.

Por intermédio do roteiro interessantíssimo e da direção competente, cada episódio amplia nosso grau de conhecimento dos personagens e, consequentemente, nosso apego a eles. Aumentamos a empatia e passamos a amar os cinco irmãos que foram moradores da residência Hill, pois é impossível desvincular os personagens já adultos dos que eram crianças.

Isso, óbvio, graças ao zelo absurdo da equipe que compõe essa série.

Mas, afinal, do que se trata essa nova produção da Netflix?

A história relata as alegrias, tristezas e mistérios por trás de uma família em sua nova residência. Os sete habitantes são: o jovem pai Hugh Crain (Henry Thomas), sua esposa Olivia Crain (Carla Gugino), os gêmeos Luke (Julian Hilliard) e Nell (Violet McGraw), Shirl (Lulu Wilson), Theo (McKenna Grace) e Steven (Paxton Singleton). Baseado (há muitas diferenças entre a versão literária e a série) na obra A Assombração da Casa da Colina, da autora Shirley Jackson, a série dá novos ares a um livro idolatrado até por Stephen King.

Desde o primeiro dia na mansão os pequeninos são atormentados por visões que envolvem uma enforcada, crianças, cães, um homem que flutua, entre outros fenômenos paranormais. Não há pressa em revelar nada, o que talvez seja o grande trunfo da série. Tudo acontece entrelaçando o presente, o passado e o mundo sobrenatural. Com esse apuro e uma gama de efeitos e interpretações magníficas, não tem como negar que essa é a melhor surpresa do ano no gênero terror de 2018.

Ao mesmo tempo em que sabemos que a infância das crianças foi extremamente traumática, descobrimos também que não foi fatal, já que os vemos adultos. Isso, entretanto, não diminui em um único segundo a tensão sobre o que acontecerá a eles. O que quer que estivesse na mansão, aparentemente decidiu seguir as crianças pelo resto de suas vidas. Há uma maldade no ar em todos os episódios, o que deixa o espectador tenso, mesmo que o medo não surja.

Com o uso de flashbacks, o diretor consegue nos situar sobre o que ocorreu na mansão com a família Crain. Novamente é válido citar que mesmo sabendo que todos chegarão à fase adulta, é angustiante ver o processo de tortura que a casa e as entidades que lá habitam provocam às crianças e seus pais.

O desenrolar dos episódios nos esclarece que há mais do que uma simples aparição sobrenatural na residência Hill. Os integrantes da família Crain são submetidos a um longo processo de tortura, uma espécie de “castigo”. Os motivos para tal perseguição e tudo que isso implica às mentes dessas pessoas só são esclarecidos ao final da série… e em alto estilo!

Destinos interligados.

Uma sensacional premissa da série está no fato de interligar os destinos dos personagens. Cada integrante da família Crain seguirá seu próprio caminho, assim como acontece com qualquer família com o passar dos anos, porém nada poderá separá-los definitivamente. Eles estão presos um ao outro por conta de seu passado na casa Hill ou como ficaria conhecida anos depois, a Hell House (casa do inferno).

Passado, presente e futuro.

Os roteiristas conseguiram um resultado final absolutamente brilhante. O que poderia se encaminhar para um terror mais sangrento e voltado ao susto físico, transforma-se ao longo de cada episódio em uma trama de mistério, um verdadeiro quebra-cabeça que desafia a inteligência do espectador.

A série força ao limite a coragem de quem a assiste, uma vez que esperamos uma nova aparição ou susto a cada take, algo que não acontece por ser simplesmente desnecessário. A agonia de não saber o que virá, a imprevisibilidade narrativa é um toque de mestre na série da Netflix.

Somemos a isso tudo o fato de que a narrativa não é linear. Há uma oscilação estruturada impecavelmente onde o passado, o presente e futuro se mesclam. A cada episódio um elaborado enigma ganha contorno e descobertas serão feitas pelo espectador. Nada é gratuito, nada está presente à toa. Os roteiristas mostraram um zelo enorme pela inteligência de quem assiste à trama e isso é um presente que merece ser celebrado por todos que amam um bom terror com altas doses de suspense.

Sacrifícios.

O vai-e-vem da trama mistura uma gama de sensações e sentimentos naqueles que veem a série. Ao mesmo tempo em que amamos as crianças, principalmente a pequena Nell e seu gêmeo Luke, vamos aos poucos compreendendo o que os levou a se tornar quem hoje são, adultos com falhas e vícios, dons e virtudes. Eles foram diretamente afetados por um passado assustador, quase um pesadelo do qual eles preferem fugir, esconder. Não há como saber se seriam diferentes sem a influência da residência Hill, o que não implica em conjecturas sobre isso. Sobre essa influência, fica a menção de elementos externos que mudam os comportamentos humanos e acabam por direcioná-los para o mal.

O mal que vem de nós.

Esse é um interessante ponto abordado em A Maldição da Residência Hill. Fica perceptível que somos os únicos responsáveis pelas maiores atrocidades na Terra, estejamos vivos ou mortos. Isso ficará evidente ao final da série, porém nada de spoilers. Vocês terão que assistir para entender com perfeição o que afirmo agora.

Apuro técnico.

Um dos diferenciais presentes nesta série da Netflix é a qualidade técnica altíssima. Ótima fotografia, ambientações perfeitas, jogo de câmera apurado, paleta de cores impressionante e, sobretudo, houve uma fuga do trivial para evitar o mais do mesmo. Em resumo, a obra não segue as receitas de sucesso que transformaram muitos filmes em fracassos pelo simples fato de já estarmos acostumados a elas. Há sustos, fantasmas e mortes que surgem com inteligência e não abusam da paciência do espectador, tudo fruto de um roteiro dotado de muita inteligência e perspicácia.

Tecnicamente vocês assistirão uma obra perfeita que, mesmo assim, tem elementos do terror tradicional lançados de maneira competente. Em suma, uma série diferente de muita coisa lançada por aí e que respeita a inteligência de quem a vê.

 

Spoilers.

O vídeo abaixo mostra 43 aparições de fantasmas que boa parte do público não percebeu. Produzido pela equipe do IMDb, ele certamente o fará rever a série para enxergar durante a exibição essas assombrações escondidas.

O vídeo a seguir contém cenas que só podem ser vistas após terminar a série inteira, ou seja, Spoilers!!!!

 

 

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