Sem conclusão – “Una”

Assuntos delicados requerem formas delicadas de abordagem e, especialmente, ouvir cada versão para se tirar as devidas conclusões.

“Una”, filme de 2017, dirigido por Benedict Andrews, com roteiro de David Harrower e estrelado Rooney Mara e Ben Mendelsohn, foi uma tentativa de se falar delicadamente sobre pedofilia.

Una é uma jovem com um passado doloroso. Ainda mora com a mãe na mesma casa que sempre viveu, aguentando os olhares dos vizinhos que sempre a lembram do drama familiar do passado. Ela tenta viver de forma a esquecer ou, pelo menos, se reconciliar com a vida.

Quando tinha 13 anos Una teve uma experiência que marcou sua vida, relacionou-se com o vizinho, Ray, por longos meses. Ray não era um menino de 13 anos, mas sim um homem, tinha por volta de seus 35 anos, e vivia com a namorada na casa ao lado da de Una.

Ray se apaixonou pela jovialidade de Una, os dois mantiveram este segredo, sempre se encontrando às escondidas, escapando entre um compromisso outro. Até que um dia foram mais ousados, saíram da cidade, eles faziam planos de viajar para a Europa e lá viverem como um casal de verdade.

Os planos não se concretizaram. Eles passaram uma noite em um motel, ele sumiu e ela se apavorou. Andou por todos os lados e pensava que ele tinha a abandonado, até que teve que foi encontrada pela polícia (os pais dela estavam procurando por ela há algumas horas).

O caso foi para nos tribunais. Ele foi condenado por pedofilia e passou bons anos preso. Ela nunca admitiu que aquilo foi pedofilia, acreditava que ele realmente a amava e queria saber porque ele tinha a abandonado no motel. O pai de Una não aguentou a pressão, morreu alguns anos depois, a mãe nunca mais foi a mesma.

Anos depois ela descobre onde Ray está trabalhando, não muito longe dali, e vai em busca de respostas. Chegando no escritório dele ela fica sabendo que ele havia mudado de nome, mas consegue o encontrar e o questionar.

https://www.youtube.com/watch?v=UgiN35SC-hM

Toda a trama do filme tem potencial de se tornar uma boa história, uma boa discussão e reflexão sobre a pedofilia, sobre o assédio sofrido (ela foi claramente enganada e seduzida, considero assédio), mas sempre fica nesse de “vai acontecer”, “vai ter uma virada” e “ela vai se vingar”, quando chega no momento certo, quando ela fica cara a cara com ele, ela só quer saber porque foi abandonada.

Não existe em momento algum uma discussão de fato, mostra apenas uma jovem que foi enganada e um homem confuso, que não se diz pedófilo, mas seduziu uma garota de 13 anos deliberadamente.

Eles têm uma recaída ali mesmo no escritório, mas ele manda um funcionário a levar embora porque tem que dar atenção a atual namorada, que sabe de tudo do passado dele e aceita tranquilamente.

Do início até a metade do filme é interessante, um filme típico de Rooney Mara, silencioso, um pouco sombrio, mas que prende atenção. Da metade para o final é simplesmente frustrante, não tem lógica alguma e não leva a conclusão alguma!

Só recomendo esse filme para quem quer passar raiva e ficar imaginando o que teria feito no lugar dela.

Mas preciso dizer, a atriz que interpreta Una adolescente, no momento em que tudo aconteceu, merece ser reconhecida. Chama-se Ruby Stokes, ainda está em começo de carreira, poucos trabalhos conhecidos, mas teve mais expressão e sustentou melhor a história do que a própria Rooney Mara (Una adulta).

Beijinhos e até mais.

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