Review de “Papillon”, clássico do cinema de 1973.

Papillon é o tipo de filme que você (no caso, eu ) se arrepende por não ter visto antes. Em um período onde a tecnologia (efeitos especiais) e as atuações cada vez mais fracas ou superficiais são uma constante, Papillon é um verdadeiro bálsamo para os cinéfilos. 
Baseado na vida de Henri Charrière, o filme relata sua épica fuga da prisão conhecida por Ilha do Diabo, uma das mais rigorosas e intransponíveis já conhecidas. Mas não estamos diante de uma obra que tem como base apenas a fuga da prisão. Isso é apenas a premissa para que sejamos apresentados a uma das mais fantásticas demonstrações de amor à vida, fidelidade e perseverança que um ser humano teve, principalmente quando diante das sequenciais desgraças que se abatem sobre o personagem de Steve McQueen (Papillon).

A prisão.

Localizada na Guiana Francesa, a Ilha do Diabo foi um local destinado para os criminosos – quase em sua maioria – deportados da França. Henri não foi diferente, mas teve um tratamento diferenciado logo de início, tal era sua fama. Papillon sempre mostrou-se disposto a fugir da ilha, mesmo antes de chegar à prisão. Para que tal intento se concretizasse, ele ofereceu proteção a Dega, um falsário respeitado pela fortuna que detinha, porém sempre ameaçado de morte em prol desse mesmo dinheiro. Amaldiçoado por suas famas e sem outra opção, a parceira entre Dega e Papillon tornou-se inevitável. É sobre essa cooperação e as consequências do desejo de fuga que o filme trata – analisando superficialmente. 
O diretor soube conduzir de forma brilhante a obra. Durante todo o filme o espectador acaba por se esquecer dos motivos que levaram aqueles homens à condenação, restando apenas um vínculo entre os personagens e nós, suas testemunhas. É impossível não sentir compaixão diante do sofrimento (aparentemente infindável) de Papillon e Dega. Mortes e traição são constantes em suas trajetórias.

Amizade.


O que começou como uma relação quase comercial (eu o protejo, você me dá o dinheiro para financiar a fuga) vai ganhando ares de algo fraternal. Tal sensação ganha ênfase por conta das atuações de McQueen e Hoffman, impecáveis em seus personagens. Evidente que o ótimo roteiro também reforça essas atuações, principalmente com a exibição do envelhecimento dos presos de forma gradual e dolorosa. 
Mas, não importa o quanto sofram, eles sempre são fiéis à amizade que criaram.

Tortura


Um tema difícil de ser abordado, a tortura recebeu a visão que tinha no presídio: ela era uma arma usada para quebrar a resistência e a vontade de viver do encarcerado. Para cada falta mais grave, a Direção da prisão condenava o indivíduo a uma pena alternativa que o manteria em absoluto isolamento por dois anos. Mas isso não era o suficiente… Caso persistisse na rebeldia, o preso teria “privilégios” cortados, ficando sem luz e comida por um longo período, recebendo apenas uma cota mínima de água para sobreviver. Compartilhar um ambiente com seus próprios excrementos, insetos e na quase total ausência de uma presença humana era um castigo que, certamente, levaria um homem à loucura.

Lealdade


Diante de cada nova agrura, Papillon e Dega demonstram um senso de lealdade incrível. Cabe a Papillon a árdua tarefa de provar a todos que sua amizade e seu caráter não cederiam sequer às torturas. É durante as passagens pela solitária que vemos o quanto o espírito humano é forte. É durante essas mesmas passagens que percebemos o quanto o corpo humano pode sofrer frente às maldades e loucura.

Fuga


Papillon (em francês, borboleta) é um homem acusado de assassinato. Sua ida à prisão, junto com Dega (Dustin Hoffman) e outros, lembra o transporte de escravos nos antigos navios-negreiros. Eles são escravos do Sistema desde o primeiro minuto de filme. Porém a lição que nos é passada é bem simples: estabeleça um objetivo e vá até o fim. Charrière tem suas sanidade, força, moral e corpo alquebrados, mas isso não o impede de manter o desejo e a esperança de fuga vivos. Ele foi condenado à prisão perpétua, o que não o impediria de tentar passar seus últimos segundos de vida na liberdade… não importa qual o custo.
É sobre a esperança que esse filme aborda, concluo.

Espaço-tempo 

O filme respeita a trama original. Ele é baseado na obra homônima do próprio Charrière, escrita com base em suas memórias na prisão.
Passado na década de 1930, Papillon mostra, sem o falso pudor de hoje, a rotina de um presídio de segurança máxima sob a visão dos presos. Mostra que o pensamento da época era voltado para o ‘aprendizado através do sofrimento’. 
Destaque para a fidelidade da produção nas indumentárias e no comportamento também dos guardas. O diretor do filme buscou ser o mais realista possível… e conseguiu.


Lepra e nativos

Fatores levaram a dupla Dega e Papillon a conseguir uma fuga. É nessa passagem que o diretor aborda alguns dos temas mais polêmicos: homossexualismo, estupro, abandono de leprosos, a infiltração de um branco em uma tribo de nativos, além da traição. Oscilando entre a narrativa pesada e uma visão quase paradisíaca, o diretor Franklin J. Schaffner comprovou sua eficiência como condutor da obra.

O livro

A produção cinematográfica foi óbviamente inspirada no livro homônimo de autoria do próprio Henri Charrière. O sucesso do livro levou ao surgimento do filme, proporcionando ao próprio Papillon uma renda bem considerável. Em 2013, a editora Bertrand Brasil republicou o livro.

Polêmica 

Muito se cogita sobre a vida do verdadeiro Papillon. Há relatos de que sua história foi roubada de outro preso. Alguns se surpreenderam com seu fim… Esta é uma matéria que a revista “Isto É” publicou em 2005 sobre o lendário prisioneiro e as nuances de sus história: Papillon
Dados Técnicos
Ano de produção: 1973
Diretor: Franklin J. Schaffner
Elenco:
Steve McQueen – Papillon
Dustin Hoffman – Louis Dega
Anthony Zerbe – Chefe da colônia de leprosos
George Coulouris – Médico
Victor Jory – Líder indígena
Don Gordon – Julot

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