[Resenha] Em Algum Lugar nas Estrelas de Clare Vanderpool

Os livros da Darkside sempre se estacam nas prateleiras. Em algum lugar nas estrelas não foi nem um pouco diferente. Desde a primeira vez em que me apaixonei pela capa linda e misteriosa, quis saber se a história seria tão doce quanto parecia ser. A leitura se mostrou tocante e inocente, refletindo as personalidades de dois personagens jovens e deslocados numa realidade que parece não lhes pertencer.

Em Algum Lugar nas Estrelas, da autora norte-americana Clare Vanderpool, é um romance intenso sobre a difícil arte de crescer em um mundo que nem sempre parece satisfeito com a nossa presença. Pelo menos é desse jeito que as coisas têm acontecido para Jack Baker. A Segunda Guerra Mundial estava no fim, mas ele não tinha motivos para comemorar. Sua mãe morreu e seu pai… bem, seu pai nunca demonstrou se preocupar muito com o filho. Jack é então levado para um internato no Maine (o mesmo estado onde vivem Stephen King e boa parte de seus personagens). O colégio militar, o oceano que ele nunca tinha visto, a indiferença dos outros alunos: tudo aquilo faz Jack se sentir pequeno. Até ele conhecer o enigmático Early Auden. Early, um nome que poderia ser traduzido como precoce, é uma descrição muito adequada para um prodígio como ele, que decifra casas decimais do número Pi como se lesse uma odisseia. Mas, por trás de sua genialidade, há uma enorme dificuldade de se relacionar com o mundo e de lidar com seus sentimentos e com as pessoas ao seu redor. Quando chegam as festas de fim de ano, a escola fica vazia. Todos os alunos voltam para casa, para celebrar com suas famílias. Todos, menos Jack e Early. Os dois aproveitam a solidão involuntária e partem em uma jornada ao encontro do lendário Urso Apalache. Nessa grande aventura, vão encontrar piratas, seres fantásticos e até, quem sabe, uma maneira de trazer os mortos de volta – ainda que talvez do que Jack mais precise seja aprender a deixá-los em paz.”

FICHA TÉCNICA
Título: Em algum lugar nas estrelas
Autora: Clare Vanderpool
Ano: 2016
Páginas: 288
Idioma: Português
Editora: Darkside Books
Nota: 4/5

Em algum lugar nas estrelas é um livro sobre dois jovens que precisam lidar com perdas, dor e solidão desde cedo, uma obra maravilhosa para se ler debaixo das cobertas com uma xícara de bebida quentinha nas mãos. A história te tira do seu mundo por alguns instantes e te apresenta uma realidade inocente e doce.

Jack é um garoto sensível e deslocado. Mesmo no Kansas não parecia sentir como se pertencesse de fato a algum lugar e a falta de sua mãe e a frieza inalcançável do pai são temas constantes em toda a narrativa. Principalmente no começo do livro, quando ele ainda não está rodeado pela presença de Early, suas impressões sobre a realidade são as de um garoto que tenta se encaixar sem sucesso em grupos de meninos da sua idade. No fundo, Jackie (como sua mãe o chamava) é um garoto sensível que pensa a vida e tenta entendê-la apesar de tudo. Logo no começo da narrativa, ele se vê diante do mar e faz uma linda analogia com a areia da praia, comparando-a a sua mãe. É um momento simples, mas lindo.

Early é mais difícil de entender. Como o livro é narrado, em sua maioria, por Jack, o que temos de Early é o que vemos através do outro. Muito enigmático, Early parece viver em um mundo só seu. Inconformado com a morte de seu irmão durante a Segunda Guerra, ele vive recluso e solitário. Sua paixão por música é uma característica marcante que se mostra presente em toda a narrativa. Cada dia da semana Early determinou como o dia de escutar algum artista específico. Fascinado pelo número Pi, Early se mostra um garoto inteligentíssimo e bastante peculiar. Cada casa decimal do Pi representa uma parte de uma aventura vivida por um garoto tão perdido quando Early e Jack.

Tão diferentes e tão semelhantes, os garotos começam uma amizade que ocupa os dias em uma escola que parece não acolhê-los.

“Dizer que sou um peixe fora d’água seria usar uma expressão boa, mas errada para a minha situação. Porque lá estava eu, um garoto do interior do Kansas, pisando a areia macia e na beira do mar. E tudo que eu conseguia fazer era enterrar meus pés bem fundo para não ser carregado.”

Os capítulos do livro são intercalados entre a visão de Jack, narrada em primeira pessoa, e as narrativas da aventura vivida por Pi, contadas por Early. Gosto desse tipo de estratégia porque faz o leitor se envolver mais na leitura, mostra diferentes cenários que compõem uma mesma história, sem deixar a leitura maçante.

A escrita de Clare Vanderpool é outro ponto a ser elogiado. É apaixonante. Ela consegue fazer com que você entenda perfeitamente o que Jack está sentindo, você consegue ver o mundo do garoto através dos olhos dele. A forma com que a autora pensa o livro como um todo, como histórias que se conectam como constelações (presentes em todo o livro) é incrível também.

Sempre gosto de exaltar a diagramação dos livros da Darkside. Além da capa dura que ao meu ver já é um bônus, a ilustração é tão original e delicada que te faz gostar do livro antes mesmo de ler a história. A edição também vem com um marcador em forma de bússola com desenhos mitológicos de um lado e ilustrações doa artistas que Early escuta de acordo com os dias da semana. Para mim, consumir livros não se resume apenas à história (apesar de ser, claro, a parte mais importante), gosto de ter toda uma experiência literária e a Darkside nunca decepciona nesse quesito.

“Minha mãe era como areia. Do tipo que o esquenta na praia quando você sai da água tremendo de frio. Do tipo que gruda no corpo, deixando uma impressão na pele para fazer você se lembrar de onde esteve e de onde veio. Do tipo que você continua achando nos sapatos e nos bolsos muito tempo depois de ter ido embora da praia.”

A narrativa é envolvente e tocante, minhas partes preferidas sempre envolviam pensamentos de Jack a respeito de sua mãe e do mundo como ele o via. Mas apesar de agradável o livro não me marcou como eu esperava. É uma história adorável, mas me deixou com a sensação de que estava faltando algo. Não sei ao certo dizer se o que faltava eram elementos mais concretos na narrativa (acredito que a intenção da autora tenha sido a de deixar a imaginação do leitor divagar) ou se faltou me envolver de verdade na aventura vivida pelos personagens.

Em algum lugar nas estrelas é uma história para todas as idades. As aventuras e obstáculos enfrentados por Early e Jack vão agradar crianças, os sentimentos de inconstância, solidão e amizade podem falar com muitos adolescentes e a sensibilidade das palavras de Clare com certeza irão encantar adultos. É um livro gostoso de ler e fácil de mergulhar na história. Para quem estiver procurando uma aventura inocente e bela, Em algum lugar nas estrelas é uma ótima pedida.

 “Antes de as estrelas terem nomes, antes de os homens saberem como usá-las para traçar seus caminhos, antes de alguém se aventurar além do próprio horizonte, existia um menino que se perguntava o que havia além de tudo aquilo. Ele olhava para as estrelas com admiração e fascínio, mas o fascínio não era consequência só da veneração. Era fruto também de uma pergunta: por quê?”

Gostou da resenha? Já leu o livro ou ficou com vontade de ler? Então não esqueça de deixar uma curtida ou um comentário 😉

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