Pequena Grande Vida

 

Pequena Grande Vida [no original: Downsizing] é um filme com ideias ricas e execução pobre. A história começa com a descoberta de um processo que permite reduzir material biológico para cerca de 7% do seu tamanho original. Homens de 1,80 metros passam a ter cerca de 12 centímetros. A invenção é aclamada como a solução para os problemas ambientais da Terra. O encolhimento da população reduziria, na mesma proporção, a nossa influência no meio ambiente.

Com o passar dos anos, contudo, o encolhimento passa a ser visto como uma forma de “enriquecimento” dos voluntários. Com suas necessidades e custos reduzidos proporcionalmente, pessoas com um patrimônio de cem mil dólares passam a ter, proporcionalmente, o poder de compra de alguns milhões de dólares depois da redução. Os encolhidos vivem em pequenas cidades, repletas de pequenas mansões, onde quase ninguém trabalha.

        O filme, em seu início, transborda de boas ideias. Há a abordagem do preconceito sofrido pelos “encolhidos” e vindo daqueles que não querem ou podem pagar pelo processo. Também há referência ao aspecto econômico, com os prejuízos à sociedade pela redução do consumo, e político, com discussões sobre a equivalência ou não do voto de “reduzidos” e normais. Há, até, a indicação de que a redução forçada passou a ser utilizada por ditadores do terceiro mundistas como punição aos seus opositores.

Paul Šafránek (Matt Damon) é o fisioterapeuta em um frigorífico. É um homem simples, com a vida padrão da classe média baixa americana. Está frustrado com a falta de dinheiro, que o impede de sair da casa velha que herdou da mãe e de atender aos desejos da mulher, Audrey (Kristen Wiig). O casal, então, decide fazer o encolhimento. No dia fatídico, quando estava prestes a ser reduzida, Audrey desiste, sem que Paul saiba, deixando-o sozinho, com 12 centímetros de altura e sem dinheiro, em vista da separação.

O filme tem um tom cômico acentuado nesta primeira parte, mas não chega a ser uma comedia. A crítica social, que é elemento secundário na primeira parte (ou ato, como se costuma dizer), passa a ser o elemento principal na segunda.

Esta ideia de distanciamento entre grandes e pequenos para fazer críticas à sociedade é antiga. Basta recorda de As Aventuras de Gulliver, escrito por Jonathan Swift no início do século XVIII, em que o herói se depara com o povo da ilha de Lilliput em sua guerra contra o povo da ilha de Blefuscu. Os dois povos têm de 15 centímetros de altura e são usados para representar pejorativamente os ingleses e os franceses.

Os efeitos visuais são simples. Por vezes, simples demais. A primeira apresentação dos “encolhidos” remete ao seriado Terra de Gigantes [no original: Land of the Giants], que os mais velhos se recordarão. Nota-se, claramente, a diferença de luz e cor incidente sobre os “encolhidos”. Chego a me perguntar se esta diferenciação não foi proposital.

Da metade para o final, o filme passa da crítica social, para o problema do desequilíbrio ecológico e perde a sua identidade. Nosso herói, aos poucos se recupera da sua abrupta mudança de vida, apaixona-se novamente e parte em busca de aventuras. Um roteiro batido, que você já viu diversas vezes. A única atuação digna de nota é a de Christoph Waltz, no papel de um contrabandista rico e carismático, que domina a cena sempre que aparece.

É decepcionante como o diretor Alexander Payne, do excelente Sideways – Entre Umas e Outras, de 2004 e três vezes indicado ao Óscar, deixa o filme lentamente declinar nas suas (longas) mais de duas horas.

Enfim, Pequena Grande Vida é a expectativa de um ótimo filme que, no meio do caminho, resolveu pegar um atalho para mediocridade.

 

 

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