O CAFÉ QUE NÓS NÃO VAMOS TOMAR!

Primeiro que sou gaúcho, prefiro um bom chimarrão. Depois que o tomar um café, um chá, ou mesmo o chimarrão, é mais do que beber um líquido, é o ato de socializar, de criar uma espécie de laço, de intimidade, de uma possível união.

Não vemos por ai estranhos tomando café juntos, que dirá um bom chimarrão, costume que aproxima ainda mais as pessoas. Quem mora no Rio Grande do Sul, sabe como se prepara e serve o chimarrão. Sempre digo que ele não é servido é compartilhado. Alguém que você gosta e não vê a muito tempo diz: “Qualquer hora passo lá, tomar um chimarrão!” – Boa ideia!

Esquentamos água, colocamos erva mate na cuia, a bomba, o primeiro mate vai fora, é o mais forte, meu pai toma, diz que é bom, eu dispenso. Então sim, depois do primeiro, o segundo, que vem a ser o primeiro… Água quente na cuia, aquele chimarrão bonito, espumando a erva nova, verdinha, entregamos a cuia, primeiro as visitas, os amigos…

Depois a gente toma um, e da o outro, assim sucessivamente, cuias e mais cuias, intercaladas pelos mais diversos assuntos, de mão em mão, a cuia, o chimarrão, a tradição, e a conversa que faz do mate, um ato quase sagrado, de quem mora neste chão.

Alguém me diz:

  • Vamos tomar um café?

Penso um pouco, logo digo:

  • Em absoluto!
  • Cafézinho?

Me interpela novamente.

  • De forma alguma. Não quero!

Insistente me questiona:

  • Quem sabe um chimarrão?

Tentando ser educado, ou, para quem me conhece, ao menos não tão ríspido, digo:

  • Nem café, nem chimarrão! Com você nem água em dois copos!
  •  

Que grosseria! A pessoa só queria tomar um café! Se você pensou isso, esta certo. Só queria tomar um café, mas lhe pergunto: Costumas te abraçar com o diabo?

Foi o que eu imaginei! Longe de o convite ter partido do diabo, pelo contrário, tratava-se de um ser bem terreno, mas com uma alma, bem… sua alma bem que poderia ser do… Mas não é o caso de ficar falando em almas…

Recusado o convite, sobram duas coisas. Você, segue com sua vida, esquece o dito convite, a final, deve ter mais o que fazer. A outra coisa, pertence a quem teve recusado o convite, guardar o rancor, pela desfeita e imaginar o motivo, a razão que levou a recusa. Até ai tudo bem.

Passados alguns dias, a pessoa lhe envia um convite, para ser “amigo” em uma rede social. Amigo? – Se eu não aceito se quer tomar um café, que dirá ser amigo? Nem penso duas vezes: Negado!

Recebo a seguinte mensagem, no tal do “in box”, que seria minha caixa de mensagem, mas aqui, adoramos deixar tudo americanizado. Dizia assim:

  • Eu bem que tentei ser sua amiga! Mas você se recusa a isso, então só me resta desejar que você vá para o inferno.

Não queria, mas tive de responder:

  • Até iria, mas não estou disposto a conviver com você.

Este acontecimento, até hilário, apenas serve para mostrar o quão necessário é, nos dias atuais, termos o discernimento sobre o que queremos ou não em nossas vidas. Uma frase de autor desconhecido por mim, diz que nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo ou aqueles a quem cativamos, e isso é bem verdadeiro. Tenho um cuidado muito grande, uma diligencia quase que impecável na hora de escolher o que fará ou não parte da minha vida, isso cabe apenas a mim e não as outras pessoas.

É muito fácil reclamar de nossos amigos, mas a final, eles só entraram de alguma forma em nossas vidas porque deixamos, reclamamos de nosso trabalho, das músicas, dos jornais, dos canais de televisão, mas e o filtro? Esquecemos que a todas as coisas, pessoa e fatos, temos a possibilidade gratuita do “não”?

O problema e este endêmico é que hoje em dia desaprendemos a dizer NÃO!

Aceitamos todas as pessoas em nossas redes sociais, damos o número de nosso telefone a qualquer um com medo de que nos rotulem como antipáticos, intocáveis, e outras coisas mais, assistimos ao jornal preferido por todos para ter assunto na rua, a novela das 21 horas para ter o que falar no trabalho, ou ao futebol, lemos as revistas da primeira fileira das bancas, pois é a que todos leem, assinamos os mesmos jornais, assistimos as mesmas séries, frequentamos as mesmas igrejas, vamos aos mesmos restaurantes, e fazemos tudo com todos, para que aff… no final disso tudo, nos achem legais.

Vamos ainda mais longe, frequentamos os mesmos psicólogos, com as mesmas queixas depressivas, frustrações, tomamos os mesmos remédios de faixa preta, para aliviar nossa frustração por fazer sempre o que não queremos fazer, mas temos que fazer, e ainda vamos aos mesmo psiquiatras, a final, ele ajudou aquela amiga da rede social, com um problema parecido…

Ficar um dia inteiro dentro de uma garagem não fará de você um carro! Dizer sim a todas as pessoas, coisas e fatos, não fará de você uma pessoa legal, mas sim uma pessoa frustrada. Temos o direito a antipatizar com algumas pessoas, de preferir outros tipos de música, de jornal, revista, canal de televisão, de preferir roupas coloridas e chamativas, de usar manga curta no inverno, ouvir música clássica no carnaval, ficar sozinho em casa no sábado a noite.

Dizer não, não é feio. Não é antissocial. Dizer não é responder por sí próprio, é viver a própria vida, é fazer as próprias escolhas, é ser você.

Não! Eu não tomarei um café com você!

 

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