O Senhor das Moscas: Como o isolamento leva-nos à barbárie

O Senhor das Moscas é brutal, angustiante, um retrato de como seria a nossa sociedade sem leis a serem seguidas ou sem um senso moral a ser respeitado.

O contexto da obra é a Segunda Guerra Mundial, e um grupo de garotos — dos mais pequeninos até os mais velhos, com cerca de 11–12 anos — são os únicos sobreviventes de um acidente aéreo. Não sabemos o destino dessa viagem, por que estavam naquele avião e do quê estavam fugindo (algo relacionado a bomba atômica?). Mas o fato é que são os únicos sobreviventes em uma ilha deserta.

Como organizar o grupo para garantir a sobrevivência de todos? Ralph e Porquinho são os primeiros garotos que Golding apresenta ao leitor. Encontram uma concha rosada e lisa no mar e decidem que Ralph é o líder e Porquinho é uma espécie de conselheiro, com suas opiniões bem racionais e comentários impertinentes em momentos decisivos. Mas estaria Porquinho certo desde o início?

“O mundo, aquele mundo compreensível e cheio de leis, estava desaparecendo. Antes havia isto e aquilo; agora, agora o navio fora embora.”

Jack é o líder de um coral de meninos. Sua figura marcante e sua posição como líder de um grupo mesmo antes do acidente causará brigas no futuro. Três personagens se destacam, sendo eles Ralph, Jack e Porquinho. Os primeiros logo estabelecem uma amizade, enquanto o último é deixado de lado e torna-se objeto de zombarias por parte dos outros garotos. Então temos uma ilha, garotos tentando sobreviver longe do mundo dos adultos e um suposto monstro.

O Senhor das Moscas apresenta-se de forma mística e não sabemos se ele realmente existe.

O que acontece é que sons esquisitos ecoam pela ilha, aparições no meio da noite e desaparecimentos misteriosos. O clima leve que faz parte do mundo das crianças, lembrando que os garotos têm entre 6 a 12 anos de idade, vai sendo substituído por uma desconfiança e medo que nunca haviam enfrentado. Ralph e Jack são as duas autoridades entre eles.

O livro também virou filme. Veja aqui.

Um acha mais importante manter uma fogueira acesa para que a fumaça sirva de sinal, e assim eles seriam resgatados caso um navio passasse próximo da ilha e alguém avistasse a fumaça implorando ajuda. Jack, por sua vez, quer saber de manter todos bem alimentados e torna-se um caçador respeitado entre eles. Aos poucos vemos estes dois poderes entrando em colisão e uma forte tensão se alastra pela ilha e atinge a todos. A quem obedecer? Em qual lado ficar?

Não importa se aqueles garotos são apenas garotos. O poder é almejado por todos e o mais forte toma-o, e quando isso acontece, na maioria das vezes, é de forma tirânica.

É o que acontece aqui. Crianças que sentem a inocência afastando-se cada vez mais, que veem e participam de atos bárbaros e lutam, ferozmente, para sobreviver em meio a uma massa que se deixou corromper pelo mal. E é isto que aprendemos. O que tanto choca o leitor é constatar esse triste mas real fato.

O de que somos propensos ao mal, de que basta uma catástrofe e o abandono total — ou esquecimento — da Moral (ou Lei) para que nos tornemos selvagens, tão ávidos pelo poder, pela cobiça de ser aceito entre a maioria, que renunciamos tudo para satisfazer, obedecer, ao mais forte. Afinal, o que não faríamos para que pudéssemos permanecer vivos? Eis a condição humana nua e crua, esta condição pós-queda que levou o homem para o abismo e a perder aquele senso de que está perdido e que precisa ser salvo.

 

 

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