O Rastro – O Maior Terror é a Realidade

 

É com esse tipo de comentário, que a produção do filme O Rastro tem que lidar dia após dia, post após post.

Na entrevista coletiva dada após a pré-estreia do filme, a equipe reforçou em seu discurso, a dificuldade do público que assiste terror no Brasil, em se voltar para os filmes produzidos em territórios nacionais. Segundo dados fornecidos pela própria produtora do longa, as películas de terror em língua estrangeira no Brasil, têm em média um público pagante de  750 mil pessoas, enquanto, a média dos nacionais chegam a apenas 12 mil pessoas. Duas opções surgem para tentar explicar esse ponto: A primeira é de que as produções nacionais mais empolgantes do gênero são datadas da década de 60 e 70 com o mestre José Mojica fazendo seus filmes com a alcunha de Zé do Caixão e que a partir dali pouco avanço tivemos no gênero de terror nacional e ficamos muito pra trás dos outros países, não só em comparação com o cinema hollywoodiano, mas também em relação a ótimas escolas como são as espanholas e mexicanas.

Um segundo ponto: os filmes nacionais não conseguem público por conta do baixo poder de divulgação perto dos grandes filmes internacionais. O número de salas em que se passa os filmes é muito menor do que qualquer produção internacional, o poder de divulgação com trailers, pôsteres, divulgação nos veículos da internet e afins é bem menor, então, supostamente, os filmes nacionais não iriam mal em bilheteria por conta de um pé atrás dos espectadores, o problema estaria na competição desleal pela divulgação do produto.

Independente da visão que se tenha disso, é fato que há uma dificuldade de obras de terror gerarem algum lucro para suas produtoras, muito diferente do que acontece com os filmes nos Estados Unidos, por exemplo. Onde o gênero de terror é o mais fácil de se conseguir dinheiro. Filmes recentes como Quando eu Era Vivo Isolados (ambos de 2014). Tentaram, sem muito sucesso, mudar o cenário do gênero no país. E apesar de uma estética louvável e boas histórias, acabaram não caindo no gosto do público brasileiro.

É aí que entra O Rastro na história, sem a ousadia de tentar fazer mais uma retomada do gênero no país, o filme dirigido por JC Feyer mostra o tempero que faltava para nos orgulharmos novamente das nossas produções de terror. O filme entrega um ótimo terror-tropical, sem seguir a linha do estereótipo do país no cinema de todos os gêneros. Apesar de se passar no Rio de Janeiro, é um filme completamente urbano, longe de qualquer atração turística para ressaltar o interesse de estrangeiros. O Rastro é um filme feito para os brasileiros.

A película conta a história de João (Rafael Cardoso), um ex-médico que agora trabalha na Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, e tem a missão de fechar o hospital, que está em péssimas condições, que trabalhara anteriormente. Após a transferência dos últimos pacientes restantes, João nota que os registros de uma pequena paciente que ele conheceu, não está entre os hospitalizados.  Começando assim, uma jornada atrás da garota desconhecida.

Essa busca incessante pela menina que não existe, para o sistema, começa a perturbar o dia-a-dia de João e de sua esposa Leila (interpretada por Leandra Leal), que começa a suspeitar da sanidade de seu marido.

Contando com ótimas influências estéticas (O diretor cita filmes como O Iluminado, Bruxa de Blair, Os Outros e Babadodok. Além do diretor David Fincher), e um roteiro que claramente usa recursos das histórias de grandes cinemas alternativos, para conseguir trazer uma nacionalidade maior para o projeto e destoar do cinema padrão hollywoodiano. O Rastro cria uma ótima atmosfera, e é quase perfeito na execução de toda as técnicas que um filme com a proposta de atrair o público para o cinema deve ter. Até os já saturados jump scares se encaixam de forma excelente a história.

Um ponto fora da curva de se ressaltar do filme, é a trilha sonora. Muito marcante em todas as cenas, a trilha trás um certo experimentalismo para os filmes do gênero e participa ativamente do filme para conquistar o melhor resultado possível.

As atuações (que por vezes são muito incômodas em filmes nacionais) estão, na mesma medida do resto do filme, surpreendentes. Desde coadjuvantes como, Alice Wegmann (Alice), Érico Brás (Márcio) e Cláudia Abreu (Olívia) até o casal de protagonistas já citado anteriormente, todos os personagens são incorporados com muita paixão pelos atores. Mas o destaque fica para a atriz mirim Natália Guedes que é um dos grandes motores do filme, e não decepciona em nenhuma cena em que aparece em tela.

Por uma ambientação excelente, e pelos jumps scares muito bem executados, o filme é sim um bom terror psicológico como se propõe. Mas a sua finalidade, certamente é demonstrar algo muito maior. O filme tem uma grande crítica ao governo como pano de fundo a história da menina desconhecida que desaparece. E merece ser degustado também, através deste viés.

Facebook: fb.com/ORastroFilme

Sinopse: João (Rafael Cardoso) é o médico escolhido para coordenar a remoção de pacientes de um antigo hospital prestes a ser desativado. Na noite da transferência, uma menina de 10 anos desaparece sem deixar vestígios. Quanto mais João se aproxima da verdade, mais ele mergulha em um universo obscuro, que nunca deveria ser revelado.

Ficha Técnica
Elenco: Leandra Leal, Rafael Cardoso, Felipe Camargo, Claudia Abreu, Jonas Bloch e Alice Wegmann
Direção: JC Feyer
Produção: Malu Miranda e André Pereira
Roteiro: Beatriz Manela e André Pereira
Produção Executiva: Bia Caldas
Direção de Produção: Clara Machado
Direção de Fotografia: Gustavo Hadbaia
Direção de Arte: Daniel Flaksman

Nota: 8,5 de 10

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