O Dropz com “z” da multiartista Rita Lee

A ovelha negra, aquela cantora do cabelo vermelho, uma moça que viveu a época do “sexo, drogas e rock’n’roll”, essa é Rita Lee, mas não ela não é só isso, ela é muito mais.

No livro “Dropz”, com “z”, porque ela é a rainha das diferentonas (ela provavelmente não usa esse termo, mas se tem alguém diferentona, esse alguém é ela), Rita Lee mostra que além de excelente cantora e compositora, ela sabe escrever contos inesquecíveis e ilustrações com uma sensibilidade ímpar.

Essa capricorniana com ascendente em aquário, que fecha o ano (faz aniversário dia 31 de dezembro), escreveu 61 contos e os juntou em um livro, trazendo toda a versatilidade que todos sabem que ela tem, agora é só uma comprovação.

O livro é fácil e gostoso de ler, cada conto tem sua peculiaridade, para não dizer excentricidade, conseguindo ser a cara da escritora de algum modo, dá para identificar a personalidade dela em cada verso.

Os temas são os mais diversos, coração partido, estrelismo, ou a decadência de uma estrela, preocupação com o meio ambiente e com a idade, a percepção da religiosidade, enfim, tudo de forma que transmita uma mensagem, mas tem aquela pitada despretensiosa de humor.

As ilustrações feitas por ela mesma são sensíveis porque não são exageradas, são simples traços que resumem tudo que o respectivo conto fala. Se prestar bem atenção, os traços trazem as mesmas características das palavras escritas.

Todos os contos são bons, isso dito com toda a sinceridade, mas tem alguns que ficam mais na cabeça, vou citar alguns que gostei muito e me fizeram refletir.

Vou começar com “Hã?”, que é um conto que surpreende, é um dos maiores do livro. Fala de uma menina que era apontada como uma diabinha, ela soltava cabelo pela boca, quem os arrancassem conseguiam uma cura, mas corriam o risco de sofrer uma mordida dela. No decorrer da narração, entre algumas loucuras e momentos inesperados, descobrimos que ela é a representação da própria Terra, que precisa ser respeitada, senão ela “se vinga” de nós.

O segundo conto que mais chamou minha atenção, sendo também um dos maiores do livros, é “Los Fantons”. Neste imagina-se que em um bairro antigo do Rio de Janeiro os fantasmas de antigos moradores, alguns ilustres, estavam ali, observando e até ajudando os novos moradores. Em um apartamento tinha três fantasmas, um pracinha brasileiro que morreu na guerra, um cantor de rock que cometeu suicídio e a pequena notável, a própria Carmem Miranda.

Neste animado apartamento vivia atualmente a neta do pracinha com mais duas amigas. Esses três fantasmas as ajudavam com problemas do dia a dia, como quando uma delas resolveu se envolver com drogas, o cantor se mostrou, mostrando também como é que isso acabaria para ela. Mas o mais importante é mostrar que a história ali não poderia ser esquecida, faz parte daquele bairro.

Quando eu li eu estava meio pra baixo, aí me fez rir, especialmente quando Carmem Miranda faz tocar no rádio “Pra Você Gostar de Mim”, fazendo com que a neta do pracinha esquecesse o fora que levou do namorado (a narração faz com que você imagine as expressões de Carmem, é maravilhoso).

Falando em música, tem três contos que são interligados, “La Cantante I”, “La Cantante II” e o “La Cantante III”. São três situações diferentes de uma cantora que nunca foi o maior sucesso, nem no auge da sua carreira, mas fazia de tudo para estar no topo da mídia, para ser lembrada e falada. Lembra muita gente por aí, não é mesmo?!

Por fim, mas só para não deixar essa resenha grande demais, tem “Fabulosos”. É um conto pequeno, rápido de ler e de entender. É uma reunião de todos os personagens do folclore brasileiro, eles estão revoltados porque nunca são valorizados de fato. Cada um tem direito a sua fala, por fim eles mandam uma carta para Academia Brasileira de Letras com essas reclamações, como resposta ficam sabendo que as crianças não querem mais saber deles, só dos super-heróis estrangeiros.

Essa é uma crítica muito evidente, mas muito bem humorada! Tem algum problema gostar de super-heróis estrangeiros? De modo algum, aqui no site cada um já declarou de qual super-herói gosta mais, mas devemos dar valor também a esses personagens que povoam o folclore brasileiro, afinal não há nada mais nosso do que nossa cultura.

Além desses, bem inventados de mente brilhante de Rita Lee, tem alguns inspirados em histórias, como “Final Feliz”, contando do dia da morte de James Dean, “O Rei”, falando dos últimos dias de Elvis Presley, “A Princesa Triste”, lembrando de Lady Di, e “O Menino de Bisley”, que fala de uma lenda sobre a rainha Elizabeth I.

Essa lenda fala que Elizabeth, que era filha bastarda do rei Henrique VIII, sofreu um acidente quando criança e fora substituída por um menino. Apesar de parecer loucura, algo que poderia ser inventado, essa é uma lenda muito falada pela Inglaterra, já foi até citado em série gringa, “Reign” (vai ter resenha dela, aguardem).

Deu para perceber os quão bons são esses contos, não é?! Vale a pena ter esse livro na estante!

Beijinhos e até mais.

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