O Chamado do Mal – Atingindo nosso ponto mais fraco: a família.

O terror é um gênero marcante e cheio de nuances no cinema. Vários são os filmes que entraram para a história por causa de sua trama elaborada e respeitosa à inteligência do espectador. Basta lembrar que gerações se assustaram com filmes quase desprovidos de financiamento, filmados de forma precária e com efeitos especiais e visuais que hoje são motivo de risos.

O Chamado do Mal é uma grata surpresa. Seu roteiro é simples, coeso e garante uma história com sustos em momentos adequados, bom elenco e efeitos convincentes.

A base da história aborda uma tragédia familiar que, infelizmente, parece afetar uma nova família. E vamos ser honestos. Ter nossa família em perigo é algo que impacta, impõe medo, não importa o quão forte você seja. E parece que esse tipo de abordagem (envolvendo entes queridos) está em alta não apenas no cinema, mas também em séries do porte de A Maldição da Residência Hill.

A história começa com um surto de um marido que espanca a esposa. Apesar de não haver algo “gore”, a dramaticidade da cena impacta. Após isso, sofremos um corte temporal que nos leva até o simpático casal Lisa (Bojana Novakovic) e Adam (Josh Stewart). Lisa está grávida e Adam aceitou o convite para lecionar em uma universidade. Esse convite implicou na mudança do casal para próximo do local de trabalho e isso foi facilitado pelo fato de a universidade dispor de uma residência para o novo professor.

Tudo vai bem até que eles recebem um presente da irmã de Lisa, a extrovertida Becky (Melissa Bolona), em sua nova casa. Daí em diante, gradualmente, as coisas começam a ficar mais sombrias e perigosas.

Maternidade.

O ponto focal do filme está na maternidade. O espectro maligno que cerca o casal tem cobiça por sua futura filha. Com a tragédia ao redor do casal, eles optam por pedir auxílio ao também professor e parapsicólogo Dr. Clark (Delroy Lindo), um homem com capacidades sensoriais mais amplas em função da cegueira que o aflige.

O Dr. Clark crê no poder do sobrenatural. Ele quer ajudar Adam e Lisa, mas Adam é cético, o tipo de homem que vê explicações lógicas em tudo.

Lisa, em contrapartida, passa a acreditar cada vez mais em tudo que vê. Ela sabe que não está louca, mas não compreende o que desencadeou essa manifestação sobrenatural poderosa. Frente a algo que não compreende, Lisa quer apenas que o tormento pelo qual está passando seja interrompido.

Alguns fatos ocorridos entre o momento da chegada do casal e o pedido de auxílio ao Dr. Clark mostram com clareza a força da entidade. Nada será tão fácil. Nada será tão ruim quanto o que os aguarda.

Coadjuvantes.

Tanto o Dr. Clark quanto o estudante David (Ben Vandermey) são coadjuvantes de luxo. Suas participações começam bem discretas e espaçadas. Com o decorrer da trama, descobrimos que David não é apenas um simples estudante.

Já a irmã de Lisa, Becky, é uma mulher com um mistério aparente que não se sustenta. Ela serve como elemento de discórdia entre o casal, além de ser a responsável pela inclusão de algo na casa que despertou ao perceber a gravidez de Lisa.

David e Becky são personagens rasos e com forte apelo erótico, mas não evoluem muito além disso.

Direção.

Michael Winnick dirigiu e roteirizou essa obra. Sua condução do roteiro e dos atores é boa e surpreendeu pelo bom controle da história que tinha em mãos. Ele optou por não usar os já manjados “jump scare” e outros recursos comuns. Sua direção primou pelo desenvolvimento da trama e por amarrar bem todos os fatos lançados durante o longa. Apesar disso, a fórmula da história contada não é algo que realmente provoque o medo visto em outras obras do gênero. Isso não foi culpa do diretor, mas da dificuldade de implementar algo realmente novo aos filmes de terror.

Cabe frisar que a trama pode não ser 100% inovadora, porém foi de uma competência total ao prender a atenção da plateia.

Fim.

Não vou dar spoilers sobre o final da história, mas posso garantir que o velho combate do “bem contra o mal” está presente. O que me agradou foi ver a coragem do diretor/roteirista de fazer um final trágico e envolto em vingança. Michael Winnick teve tudo para destoar e se aproximar daqueles filmes feitos com desprezo à inteligência do público, mas isso não ocorreu. Assustou, trouxe um desfecho coerente e prendeu o espectador com a evolução da narrativa. Só por isso, já vale seu ingresso.

 

 

 

 

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