Social Comics – O Azul Indiferente do Céu

Poesias precisam necessariamente ser em forma de texto? A resposta para essa pergunta é simples e objetiva, já que ela pode ser respondida com um simples “não”. A HQ O Azul Indiferente do Céu é uma prova incontestável dessa resposta, ao mesmo tempo que ela responde a outra indagação semelhante, mas que abrange outra área; essa indagação seria se uma obra de quadrinhos obrigatoriamente precisaria ser lotada de diálogos e mais diálogos, pois uma história não pode – hipoteticamente – ser contada sem diálogos. Novamente mais uma pergunta a ser respondida com um simples “não”, graças à extrema qualidade de O Azul Indiferente do Céu, obra criada pela mente fértil e genial de Shiko (responsável por Piteco – Ingá).

Trabalhar em uma obra tendo em vista passar alguma mensagem filosófica é uma tarefa difícil. Acrescente a essa dificuldade o esforço de unir dois gêneros e entendera o porquê desta história ter tantos méritos. A partir destes fatosé inegável que O Azul Indiferente do Céu não só pode como deve ser classificado tanto como História em Quadrinhos (na verdade, uma Graphic Novel) quanto como uma poesia, o que faz da HQ uma das poucas no ramo independente que possui essas classificações e qualidades. 

O maior triunfo da trama, ainda relacionado à união de dois gêneros diferentes, é a maneira como o autor consegue fazer uma crítica social apenas com imagens e poucos diálogos. Para isso, o autor busca um recurso um pouco esquecido, mas aqui é essencial para que a trama faça sentido: as onomatopeias, que nesse caso são usadas para gerar impacto e tornar as cenas ausentes de diálogos,  que aparentemente eram apenas retratos de violência, em uma página de uma novela gráfica, já que graças a esse recurso o leitor consegue perceber o que aconteceu entre uma cena e outra, além de perceber que ali está sendo contada uma história. 

A trama é basicamente uma crítica social à realidade vivida na América Latina, que sofre com governos corruptos e uma sociedade quase bárbara, onde impera a lei do mais forte. Essa realidade é ilustrada para o leitor, enquanto o mesmo acompanha uma série de assassinados que claramente criam um ciclo de violência sem fim. Tal brutalidade segue a mesma máxima para a vingança: o sangue derramada jamais seca. Em suma, o que começou com sangue terá que terminar também em sangue.

A parte filosófica e poética da obra vem do final onde lemos o desabafo de um homem que vivera todo dia de sua vida nessa realidade, mas ao invés de extensas caixas de diálogos o que se encontra aqui são frases curtas que são complementadas pelas imagens que exemplificam o que está sendo dito ao mesmo tempo que acrescenta elementos a frase que dita que mesmo curta ao ser complementada pela imagem consegue passar a mensagem desejada, o que só comprova que mesmo tendo um número mínimo de diálogos o autor consegue dizer tudo que ele desejara contar ao leitor e deixar marcado o seu ponto de vista sobre o tema abordado ao mesmo tempo que ele leva o leitor a refletir sobre a realidade em países subdesenvolvidos. 

Baseada na história real do ativista colombiano Héctor Abad Gómez, assassinado em 1987, O Azul Indiferente do Céu é uma HQ que deve ser lida graças aos seus méritos, entre os quais destacam-se a sua estrutura única e funcional até a mensagem e a reflexão proporcionadas ao leitor que encontrara na trama e na arte algo que dificilmente serão esquecidas.

Dados Técnicos

Título: O Azul Indiferente do Céu
Autor: Shiko

Editora Mino
Data de lançamento: Julho/2015
Preço de capa: R$32,00
Acabamento: Brochura, papel pólen bold, preto e branco
Formato: 27 x 17,5 cm
Número de páginas: 72
ISBN: 978-85-69032-03-8

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