“O sol na cabeça” não condiz ao hype e entrega poucos contos bons

Todo o hype em torno desse livro é apenas barulho. O livro não traz algo revolucionário para a literatura nacional, os assuntos tratados nos 13 contos não refletem assuntos que, por exemplo, um leitor de Pernambuco ou do Rio Grande do Sul possa se identificar (independente de ser uma literatura sobre a realidade da favela, ainda assim o humano é humano em qualquer lugar). É apenas um autor dialogando para um público específico, bem específico. Talvez o que tenha me incomodado mais seja a forma como alguns contos foram escritos, os usos excessivos de gírias, informalidade, algo que pretende originalidade mas que não entrega o prometido.

Histórias sobre garotos fugindo da polícia, garotos indo à praia para um ‘rolézim’. Há certo drama humano em cada uma das histórias, mas não são exploradas como deveriam. São superficiais. Alguns o leitor até fica sem entender direito o que está acontecendo. Muitas gírias que só leitores cariocas podem entender, e isso é um ponto negativo. O autor não pode ser hermético em suas narrativas, pois um livro não é escrito estritamente para algumas poucas pessoas. O livro tem esse poder de comunicar o local para uma gama de leitores de várias localidades diferentes, e mesmo assim fazem com que todos eles entendam o que está sendo ali narrado. Os livros bons são assim. E isso não acontece com O sol na cabeça. Não é o novo fenômeno literário, está muito longe de ser.

Poucos contos são bons, dentre eles destaco Espiral, Roleta-russa e Primeiro dia. Contos que invocam a singeleza e inocência da infância mesmo em uma realidade tão conturbada como a retratada aqui. Os demais deixam a impressão caricata da favela. Tudo orbita em torno da maconha, dos “vermes” que são sempre injustos, enfim, tudo aquilo que sempre lemos e ouvimos por aí. Ao colocar as personagens sempre em contato com as drogas, como se esta fosse o motor da sociedade, há algo bem sutil aí. As histórias poderiam ser mais interessantes se o autor não quisesse focar tanto no barato que é fumar um baseado, a sensação única de ver o mundo, e retornar ao mesmo ponto de vista em quase todos eles. É uma repetição cansativa, que ofusca a humanidade das personagens e lhes rebaixa a uma única coisa: usuário de drogas, viciados. Será que a vida na favela só tem isso a oferecer? O autor tem potencial, pode amadurecer e escrever uma história digna de qualquer literatura universal, com temas universais, com um protagonista da favela, mas sem estereotipar tanto. Vale a pena a experiência, porém é uma leitura que não irá reverberar muita coisa na vida do leitor.

 

O Sol na Cabeça

Companhia das Letras

120 páginas

R$ 34,90

 

 

 

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