A Última Festa, de Lucy Foley. Comportamento humano e suspense dignos de Agatha Christie.

Recentemente o NoSet foi agraciado com uma parceria com a editora Intrínseca. Isso, claro, é uma grande responsabilidade, sobretudo se levarmos em conta o grande número de sucessos já publicados pela editora e o carinho dos fãs dela.

Então, qual seria a minha escolha (na condição de crítico) da primeira obra da Intrínseca que eu faria a resenha? Muitas eram as opções, porém fiquei interessado pelo livro A Última Festa, de Lucy Foley, uma obra recente que fez muito sucesso no Intrínsecos, um clube de leitores que recebem em primeira mão (e com acabamento diferenciado) as obras que serão lançadas mais à frente. Há outras vantagens e, obviamente, recomendo que acessem o link para compreenderem mais dessa ótima iniciativa que me trouxe à memória o marcante Círculo do Livro, guardadas as devidas proporções.

E quais foram os fatores que me levaram a escolher essa obra entre o enorme acervo da Intrínseca? Inicialmente foi a ótima receptividade que a obra teve no Intrínsecos. Depois, vi que Lucy Foley não é a escritora iniciante que imaginei, já que há outras obras dela (três romances históricos). Por último, ouvi algo sobre a similaridade da escrita dela com a da imortal Agatha Christie e, honestamente, não acreditei muito nessa comparação. Mas, nada melhor do que a leitura de uma obra para que nossos comentários fiquem embasados realmente.

Mas, afinal, do que trata realmente esse livro?

A trama mostra uma reunião de amigos que se conheceram na época da Universidade. São pessoas bem sucedidas, bonitas, instruídas e que – aparentemente – têm a amizade como um verdadeiro vínculo. Mas essa reunião não será tão feliz quanto eles planejaram. Um assassinato acontece em meio às comemorações. Ao que tudo indica, um entre os sobreviventes é o assassino… ou será que os funcionários do hotel também são suspeitos? Há muitos questionamentos que só ganham força com o passar das páginas.

Lucy Foley desenvolveu uma trama que, como já disse, me trouxe à mente as histórias escritas pela genial Agatha Christie. Há o suspense, o drama, o uso correto de flashback, diálogos interessantes e uma fluência na escrita que me surpreendeu positivamente.

Apesar dos elogios tecidos pelos leitores do Intrínsecos, eu precisava ler a obra para descobrir se havia apenas comentários elogiosos dos que participam do clube de leitura ou se eram justos os apontamentos positivos. Ao final do livro, posso afirmar, descobri que Lucy Foley tem talento e sabe conduzir seu leitor por uma trama que “engana” o leitor, uma característica que encontrei em outros escritores de maior expressão.

Mesmo tendo semelhanças com obras clássicas do suspense – sobretudo com O Assassinato no Expresso do Oriente – a narrativa se torna mais interessante para o leitor contemporâneo por apresentar elementos de nossa época (o vínculo das personagens com a internet e redes sociais, bullying, intrigas em redes sociais, stalkers e outros fatores), além de ter um ritmo fácil de seguir. Lucy esconde os motivos e o assassino até o fim do livro, porém ela lança incontáveis pistas que servirão para induzir o leitor a buscar quem é essa pessoa capaz de matar em meio a uma comemoração. Entretanto, recomendo cautela com as deduções, já que novos elementos são inseridos ao longo da história e, assim, a probabilidade de que as teorias do leitor estejam muito erradas são grandes.

Humanos.

Apesar de termos nas principais personagens – homens e mulheres – pessoas adultas, elas voltam quase que automaticamente à juventude quando se reúnem. As lembranças, a amizade, a saudade e os pequenos segredos entre eles reforçam seus vínculos. Logo, ao se reencontrarem, é possível ver comportamentos que a maioria das pessoas tem ao passar pela mesma situação. Euforia, alegria e a vontade de reviver momentos e sensações do passado são mais fortes que a “disciplina” inerente à fase adulta. Isso está muito bem desenvolvido no livro da autora.

Todavia estamos falando de seres humanos, indivíduos que tendem a esconder ou disfarçar emoções, guardam rancores e – quando instigados – podem ser extremamente tóxicos, nocivos. Essa não é uma exceção no grupo constituído pela linda Miranda, a “novata” Emma e seu namorado, Mark, os recentes pais Samira e Giles, os namorados Nick e Bo, Julien, o marido de Miranda, e a recatada advogada Katie, outrora uma das melhores amigas de Miranda.

A narrativa segue com esclarecimentos cada vez mais preocupantes sobre as índoles dessas pessoas. Por se valer do uso de flashback, aos poucos descobrimos “podres” e fatos meritórios de cada um deles. Isso, claro, não isenta de termos um provável assassino entre eles.

No meio dessa sombria história também encontramos uma dupla muito interessante: a “gerente” do hotel, Heather, e seu guarda-caça, o quieto Doug. No decorrer da leitura, fatos de seus passados são gradualmente revelados que nos ajudam a incluí-los na lista de suspeitos, assim como servem para que vejamos neles pessoas que podem perfeitamente existir.

E por falar em suspeitos, uma dupla de viajantes é inserida na obra para trazer mais desconfiança e mistério. Todos são potenciais suspeitos.

Ambientação.

Os nove amigos são ingleses. Eles decidem fazer uma festa em um belo e isolado hotel escocês. Através da descrição de Lucy, podemos idealizar a localidade e compreender que eles estarão em um lugar realmente belo, único, mas afastado do ritmo frenético que as grandes cidades possuem.

O que eles imaginam como lazer e diversão plena terá elementos que contavam, porém não estavam preparados. Uma nevasca, o silêncio natural do lugar, os rancores escondidos por quase uma década e assuntos mal resolvidos se unem ao isolamento do Hotel e fazem com que gradualmente isso se torne algo ruim.

Revelações.

Lucy Foley trabalha a trama com sutileza. Ao ir e voltar constantemente, o leitor não consegue estabelecer evidências capazes de levar à dedução sobre o assassino. Mais ainda, leva muito tempo para que saibamos quem foi a vítima e, no desenrolar do livro, aumenta a angústia sobre quem seria a pessoa morta, já que todos têm voz nos capítulos onde a narrativa está no passado.

Outro fator inserido que preocupa é a presença de um assassino andarilho. Seria ele o responsável pela morte de um dos integrantes do grupo?

Contudo, as piores revelações são as feitas sobre o grupo de amigos. O que era só alegria e coerência vai, aos poucos, se mostrando apenas como “maquiagem social”. As pessoas aturam as outras em prol de inclusão social, prestígio e aceitação. Como todos nós, eles também cometem e cometeram erros, são mesquinhos, amáveis, frágeis, resolutos, falsos ou – simplesmente, humanos. Não espere por personagens perfeitas, típicas de romances onde os extremos são visíveis, onde há os arquétipo do ser humano perfeito e do vilão possuído pela maldade. Em A Última Festa, homens e mulheres agem de acordo com interesses, medos e impulsos. São, em suma, pessoas que poderíamos conhecer na vida real. Pessoas que amaríamos em um momento e odiaríamos em outro. Simples assim.

Acabamento do livro.

Esse é um ponto que sempre levo em consideração. Livros, acredito, devem durar. São feitos para serem lidos por muitas pessoas, mas isso não ocorre quando há má qualidade e desleixo por parte da editora. Felizmente, a editora Intrínseca tem mostrado uma qualidade excelente em suas obras, fato destacado em A Última Festa.

A capa cartonada possui impressão em relevo e com a arte marcada por uma película brilhante que destaca o título e a imagem do crânio de um cervo. Há uma pequena explanação sobre a trama na primeira orelha que tem sua continuidade na segunda orelha, onde também é possível ver a foto da autora e uma pequena biografia.

As folhas são em papel amarelado (ideal para leitura) ou como é mais conhecido, Pólen Soft 80g/m2. Não se trata de um livro em edição de luxo (isso está disponível pelo clube Intrínsecos), porém é válido destacar que sua qualidade está bem acima de muitas outras editoras.

  • Tradução: Marina Vargas
  • Páginas: 304
  • Gênero: Policial, Suspense e Mistério
  • Formato: 16 x 23 x 1,8
  • ISBN: 978-85-510-0572-9
  • E-ISBN: 978-85-510-0573-6

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