Literatura: Os cheiradores! Ou: Queimem os livros!

Ando meio incrédulo com a escrita. Sempre disse que sou um amante inveterado dos livros, mas ando sofrendo muito com o que vejo ganhar as bancas todos os dias: Livros de conteúdo apequenado, medíocres, que não valem se quer o papel onde são impressos, mas que por estratégias de marketing transformam-se em moda e vendem aos milhões. Por qual motivo nossos jovens são tão idiotas?

Via na bienal do livro de São Paulo, jovens, a maioria micos de circo das grandes editoras, que passam as noites escrevendo resenhas para ganhar um livro do próximo autor da moda, dando dicas de verdadeiras atrocidades, textos mau escritos, contos sem concordância, sem sentido, sem sentimento, sem nada. Via aqueles imbecis cheirando o livro, pois conseguiram transformar o último pilar de proximidade cultural que o brasileiro tinha, em mero consumo. Jovens ridículos cheirando livros ridículos!

Livro é para ser lido e não cheirado, mas chegamos a um ponto da decadência cultural de uma geração, que em faltando conteúdo que faça o livro ser suficiente como fim em si mesmo, faz-se necessário cheirá-lo. A indústria literária vendo os jovens acéfalos desta geração fazendo tal barbaridade, lançaram livros perfumados, com cheiro, já disponíveis em morango, uva e maçã verde. Ao quinto dos infernos!

Havia um padrão, um nível de qualidade que determinadas editoras mantinham, que você podia confiar. Eu, por exemplo, sempre que via um lançamento da Martins Fontes, corria para comprar pois nunca li um livro que não valesse a pena ser lido, eu não gostei de muitos, mas ainda assim se aproveitava dos livros uma parcela ainda que ínfima, mas hoje, não, hoje não se aproveita absolutamente nada. Nem para fazer fogo, haja vista que o papel dos livros queima com dificuldade. O lixo também queima com dificuldade, já era de se esperar essa semelhança.

Esperar o que de um país onde o “grande” escritor é Paulo Coelho? Criatura que não venderia um único livro se dependesse de qualidade editorial para isso, tamanho grau de desconstrução literária que o “mago” promove nos lixos que publica. Mas aqui ele é deus! Não que o Brasil seja um celeiro de grandes escritores, longe disso, temos bons cronistas e colunistas que compilam seus textos e publicam livros que são muito bons, mas escritores, não, os que haviam já morreram, os que existem são desconhecidos e os que escrevem e vendem não prestam. Na língua portuguesa o que temos de decente é Mia Couto, de Moçambique, grande escritor, e que buscou sua inspiração em nomes como Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Eugénio de Andrade, Sofia de Melo Breyner, João Cabral de Melo Neto, Fernando Pessoa, José Luandino Vieira e outros de mesmo peso e calibre.

Também quem com senso cultural e literal qualitativo iria se dispor a escrever livros para jovens que os cheiram? Não imagino um jovem do Século XVIII comprando um livro para cheirar. Nem poderia, haja vista que morreria intoxicado com chumbo, que era o material utilizado na tinta de impressão. Quem sabe se voltássemos a utilizar essa tinta nos livros, voltaríamos a ter uma nação de leitores e não mais de “cheiradores” de livros.

Sei que não é o tipo de texto que esperam ler aqui, mas estou farto, e precisava lançar esse acinte em algum lugar.

Já nem vou mais dizer que pensar não dói, pois vivendo com a geração que cheira livros, já passo a pensar que estou errado!

Patrick Canterville

@MrCanterville

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