La La Land x Moonlight

Como uma competição de melhor filme pode ter como finalistas favoritos obras tão distintas como Moonlight: Sob a Luz do Luar e La, La, Land: Cantando Estações? Primeiro, vamos às semelhanças. São histórias filmadas para o cinema, no ano de 2016, encenadas por atores que falam inglês. Para além disso, tudo é diferença.

Confesso que estava ansioso para ver Moonlight, o que só consegui fazer na noite de ontem. O trailer já deixava claro, pelas tomadas cruas, a câmara centralizada nos atores e o violino ruidoso cortando as cenas, que seria um drama sem subterfúgios. Outra coisa que me chamou a atenção foi o fato de ele não contar nada da história. (Quem decidiu, nos últimos anos, que o trailer tem que ser uma sinopse do filme? Hoje em dia, não basta fugirmos de spoilers, não podemos, sequer, assistir mais aos trailers.)

O trailer, somado ao (fiasco no) anúncio do melhor filme no Óscar, deixou-me imensamente curioso para ver Moonlight. Havia assistido a La, La, Land alguns dias antes e considerava páreo corrido, como dizia meu antigo pai, a consagração do musical com o prêmio de melhor filme.

Mas, ontem, entendi a premiação.

La, La Land é uma aula de cinema de entretenimento. Moonlight é uma aula de cinema dramático. Um cinema que flerta com o teatro e que nos aproxima desse mundo incrível que é a realidade. A realidade da qual tentamos fugir quando vamos ao cinema. Um paradoxo, não? Não há, com honestidade, como comparar esses dois filmes.

La, La Land é leve, tem uma trilha sonora fantástica, atuações consistentes e evoca – apresentando às novas gerações – os grandes musicais hollywoodianos. O filme não esconde suas referências. A primeira cena é grandiosa, um clip com filmagem sem cortes aparentes, num cenário aberto, centenas de dançarinos e boa música. Confesso que fiquei assustado, de início. Por melhor que fosse aquela cena, ficaria cansativo assistir muitas outras com aquela proporção e com aquela intensidade pelas mais de duas horas de duração do filme. Mas o diretor, Damien Chazelle (responsável pelo também excelente Whiplash, de 2014), não cai nesse erro. Os melhores momentos do filme se equilibram entre a sutileza e a grandiosidade, nos quais a música atua em conjunto com a fotografia, o figurino, o cenário e a performance de Ryan Goslin e Emma Stone. É quase impossível sair de La, La, Land, principalmente depois do seu final, sem cantarolar Mia & Sebastian’s Theme.

La La Land x Moonlight

Moonlight, por sua vez, é um drama cru, com uma estética negra, autêntica e convincente. Uma história sobre pobreza, preconceito, bullying, drogas e, mais do que tudo, sobre o amor em um mundo onde se imagina impossível que esse sentimento exista e persevere. A câmera, algumas vezes nervosa, outras vezes fixa, dá destaque às interpretações. Não há nenhuma, isso mesmo, nenhuma, interpretação “boa” no filme. Todas são ótimas. As tomadas são pontuadas com longos e significativos silêncios, inclusive da trilha sonora, muitas vezes mais significativos do que as falas. Nisso, lembra outro bom concorrente ao Óscar de melhor filme, Manchester à Beira-Mar. Em Moonlight, a trilha sonora é igualmente brilhante, mas trabalha exclusivamente a serviço da cena. O roteiro é bem desenvolvido, não ofende a inteligência do espectador e tem personagens com reações convincentes.

E, nesse ponto, retorno à questão inicial. Como decidir que um desses dois filmes é melhor do que o outro? Quais os critérios de comparação entre obras com propósitos e formatos tão diferentes?

Em outro ano, La, La, Land levaria a estatueta. É tudo o que a academia gosta de ver no cinema. Eu imagino que seja exatamente o filme que eles imaginam quando sonham com um excelente musical. E o musical, relembro, está no DNA do cinema americano.

Dois mil e dezessete, contudo, é o ano posterior à polêmica racista na premiação passada. É o ano do trinfo de Trump. É o ano em que votar em Moonlight é mais do que simplesmente consagrar um filme, é firmar uma posição. Meu filme preferido? La, La, Land. O melhor filme para o ano? Moonlight.

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