Janis: Little Girl Blue

Canção já interpretada pelos maiores cantores norte-americanos, Little Girl Blue combina bem com a personalidade, delicadamente construída no documentário de Amy J. Berg, da talvez maior e mais inspiradora cantora de rock de todos os tempos. Se a imagem que vem à mente quando mencionamos Janis Joplin é a da explosão no palco, a voz rouca e penetrante que acompanhou literalmente o delírio de multidões, foram também presenças constantes, até a sua morte precoce com quase poéticos 27 anos de idade, a melancolia, a fragilidade e a inadaptação – numa palavra, o blues.

É sobre estes traços aparentemente contrastantes de Janis que a diretora constrói a sua narrativa. A garota franzina de uma cidade pequena do Texas, que era alvo da insolência dos colegas de escola embora se esforçasse para estar dentro das expectativas de beleza e “feminilidade” (se hoje ainda prescrevemos comportamentos “adequados” e “inadequados” para as adolescentes segundo seu gênero, quem dirá nos Estados Unidos dos anos 1950) é a mesma que ainda na juventude iria confrontar expectativas morais e sexuais, o que fez com que ela fosse rejeitada inclusive pelos seus pares do folk. A intérprete que se absorvia em sentimentos “como quem fazia amor quando estava no palco” (nas palavras de uma entrevistada) é também a de fala segura em entrevista, de voz ativa em banda formada apenas por músicos homens (lembre-se que ainda não passamos por 1968) e a que hesita quando fala da família e de sua cidade natal.

http://https://www.youtube.com/watch?v=-oRLyBgz8W0

Das influências musicais – Bessie Smith, Bob Dylan, Aretha Franklin – aos dramas pessoais e profissionais, como a difícil saída da banda Big Brother and the Holding Company e o contraste das experiências inigualáveis dos shows com a entrega descontrolada a drogas pesadas em momentos de depressão, o longa dá conta dos principais pontos da vida e da carreira de Janis Joplin, com boas entrevistas e escolhas acertadas nos temas privilegiados.

Embora o documentário não acrescente informações novas ao que se sabe sobre a trajetória de Janis Joplin (até sua célebre visita ao Brasil em 1970 é lembrada com simpatia), o material documental vasto – cartas, jornais, fotos e vídeos, provenientes inclusive do acervo pessoal da cantora – e a costura fina elaborada pela diretora talvez sejam os grandes méritos do filme. Vale mencionar ainda a notável narração de Cat Power, sobretudo na leitura das cartas de Janis. O documentário se junta aos premiados Amy (2015) e What happened miss Simone? (2015) na composição de retratos arrojados das grandes cantoras de Jazz e Blues.

 

Janis Joplin interpreta Kozmic Blues, em 1970.

http://https://www.youtube.com/watch?v=doohZfdU8uM

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