Inferno – O Filme

Dez anos após a esperada e polêmica estréia do filme “O Código da Vinci”, chega aos cinemas a terceira adaptação da franquia de livros de Dan Brown, continuando as aventuras do professor de simbologia Robert Langdon (Tom Hanks). Dessa vez, Langdon terá que correr contra o tempo para descobrir pistas e decifrar enigmas a fim de impedir que um vírus provoque a extinção da raça humana.

Os livros de Dan Brown que incluem o personagem de Langdon fizeram sucesso basicamente por dois motivos. O primeiro brinca com o espírito de detetive que muitos de nós temos ao nos deparar com códigos, pistas, enigmas e mistérios, o que é uma linha segura desde que bem trabalhada – visto os exemplos consagrados de Sir Arthur Conan Doyle (Sherlock Holmes) e Agatha Christie (Hercule Poirot). O segundo motivo é a polêmica em torno de instituições e personagens históricos. Por mais que se afirme centenas de vezes que a obra é fictícia, inserir elementos religiosos (como a suposta linhagem de Jesus) provoca a curiosidade de alguns e a revolta de outros. E não há melhor marketing do que uma boa polêmica.

inferno_posterEm 2009, a adaptação de “Anjos e Demônios” se focou no Vaticano, mais especificamente no Conclave (escolha de um novo Papa) e na sua famosa e misteriosa biblioteca restrita. Curiosamente, o próximo livro da sequência, “O Símbolo Perdido”, foi “pulado” para dar a vez ao quarto livro (segundo o diretor Ron Howard, que comandou os filmes anteriores, por dificuldades de adaptação, embora alguns afirmem que na verdade o estúdio está com um certo receio de mexer com a maçonaria).  Neste terceiro filme, mais uma vez entra um elemento que faz parte da crença religiosa, o “Inferno”, mas com a diferença que este é retratado a partir do poema do século XIV “A Divina Comédia” de Dante Alighieri, que mostra uma visão medieval do inferno, descrito como nove círculos de sofrimento localizados dentro da Terra, que já foi ilustrado por pintores como Botticelli, Doré e Dalí, cujos trabalhos estão expostos em diversos museus e igrejas espalhados pela Itália.

Mas, como citado anteriormente, já são 10 anos desde a adaptação do livro. As polêmicas diminuíram, assim como o interesse, o impacto e a expectativa. Dessa forma, podemos fazer o trocadilho infame dizendo que “Inferno” chega apenas “morno” aos cinemas. A fórmula segue a mesma, o personagem principal também, assim como seu intérprete (ao menos melhorando o corte de cabelo). Novamente temos uma moça que ajuda o professor nos enigmas. Mas, a julgar pela recepção do público e crítica, faltou alguma coisa para dar mais um molho de pimenta e “esquentar” a trama. Possivelmente matar praticamente toda a população com um vírus seja algo menos interessante do que mistérios e segredos da Igreja Católica… O fato é que não basta simplesmente seguir uma fórmula de sucesso,  nesse caso alterando apenas os locais e os enigmas, é preciso que a história seja convincente e, por mais que seja uma obra de ficção, transmitir credibilidade ou veracidade. Infelizmente, o que poderia ser um ótimo filme acabou sendo simplesmente interessante, dando um “banho de água fria” em Inferno (tá bom, parei!).

O professor Langdon segue como uma mistura de Sherlock Holmes e Indiana Jones, sendo que nesse filme colocaram uma pitada de Jason Bourne. O filme começa com o personagem de Langdon acordando em um hospital em Florença – Itália (não por acaso a cidade onde nasceu Dante Alighieri), com um corte na cabeça, perda de memória da últimas 48 horas e visões estranhas de pessoas mortas e outras imagens macabras. Ele é atendido pela doutora Sienna Brooks (Felicity Jones), que também é fã de enigmas e quebra-cabeças. Mas Langdon mal tem tempo de acordar e curtir a dor e já está no meio de uma tentativa de assassinato.

Salvo por Sienna, juntos eles descobrem uma ilustração da pintura do Inferno de Dante, que esconde pistas sobre um plano do milionário excêntrico Bertrand Zobrist (Ben Foster), que deduz que diminuir 95% da população mundial é a melhor forma de resolver os problemas do planeta. No caminho, aos poucos Langdon vai se lembrando dos últimos acontecimento, e na busca por mais informações eles irão encontrar o agente Christoph Bruder (Omar Sy, de Intocáveis), o misterioso Harry Sims (Irrfan Khan, de As Aventuras de Pi) e a Doutora Elizabeth Sinskey (Sidse Babett Knudsen, de Westworld), mas eles não sabem em quem realmente poderão confiar.

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A partir daí começa a correria para decifrar as pistas deixadas pelo caminho. A diferença aqui é que, ao meu ver, inseriram muitos personagens e situações para provocar as obrigatórias reviravoltas na trama, e assim, algumas coisas acabaram sendo deixadas de lado, mal explicadas e até mesmo sem nenhum sentido. Dar um exemplo do filme seria obrigatoriamente contar “spoilers” do filme e inevitavelmente estragar as surpresas (mesmo algumas sendo previsíveis), mas é fato que o filme falhou na forma como a trama foi desenvolvida, principalmente na ligação do Inferno de Dante com a trama do vírus, o que ao meu ver seria a principal motivação do filme existir.  O filme consegue se segurar no interesse pelas descobertas de Langdon, mas, talvez por acharem que somente a “brincadeira” de achar pistas não seria suficiente para 121 minutos, ou para justificar partes da história, inseriram elementos desnecessários, deixando o filme confuso em certos momentos.

Lembrando que alguns fatos do livro foram alterados para o filme. É um entretenimento interessante para quem gosta deste estilo de filme de ação, é legal para quem gosta dessa mistura de simbologia, história e literatura e bom para quem curte apreciar paisagens e lugares históricos, mas para quem faz questão de um roteiro amarrado e conciso, sem pontas soltas, com bons personagens e história bem desenvolvida, provavelmente vai terminar a sessão um pouco decepcionado.

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1 Comment

  • Como é bom ler uma crítica bem desenvolvida, parabéns continue com ótimo trabalho, virei seu fã!

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