Hellboy (2019) – O Inferno retratado como ele deve ser…

Hellboy é um personagem criado em 1991 pelo desenhista Mike Mignola e cujo título próprio surgiu em 1994. Mignola se vale da pesquisa em várias histórias ao redor do mundo, principalmente contos e lendas folclóricas, além de mestres do terror do porte de H.P. Lovecraft. O sucesso ao longo dos anos ampliou e chegamos finalmente aos filmes dirigidos por Guillermo del Toro lançados em 2004 e 2008. As obras de del Toro foram bem recebidas pelo público, porém os fãs mais detalhistas apontaram algumas “liberdades poéticas” que não agradaram tanto.

Após mais de uma década de lacuna, enfim chegamos à estreia de Hellboy, a mais nova empreitada do anti-herói que pode ser – literalmente – a salvação ou o fim da humanidade.

Origem fiel aos quadrinhos.

Esse é um dos pontos altos do novo filme sobre o demônio vermelho: a fidelidade aos quadrinhos. Na verdade, essa obra traz elementos presentes em duas obras lançadas pela Mythos Editora, as edições históricas Sementes da Destruição, O Despertar do Demônio e O Caixão Acorrentado, todas de 2008. Nestas edições é possível ver a origem do herói, seu relacionamento com o pai adotivo, as primeiras missões, o Lagosta, os motivos do ódio do Javali, Baba Yaga e outros seres e histórias fantásticas presente no filme. Tudo foi retratado com o máximo de fidelidade às HQ, fato que me agradou muito, já que é dos quadrinhos que surgiu a legião de fãs do Vermelho.

Outro ponto bastante favorável está na inclusão de elementos demoníacos à altura de um filme sobre um ser capaz de provocar o Apocalipse. Cenas dignas de A Divina Comédia e obras renascentistas que retratavam o inferno estão presentes neste novo longa-metragem e causaram impacto até em espectadores mais acostumados ao terror e sobrenatural.

A trama.

Como já descrito, além da origem do herói, nós nos deparamos com um Hellboy (David Harbour) que oscila entre seu lado humano e o demoníaco, conflito que o atormenta em quase todos os momentos. É possível ver a presença de personagens que estavam no primeiro filme de del Toro e outros que fazem parte dos quadrinhos acima citados.

Hellboy não deveria ser um “herói”, principalmente se levarmos em conta que ele foi invocado por místicos nazistas para provocar o fim do mundo. Entretanto, sob a tutela do professor Trevor Bruttenholm (Ian McShane) ele seguiu um caminho muito diferente e é um dos elementos imprescindíveis para controlar e exterminar criaturas malignas espalhadas pelos cantos da Terra. Bruttenholm e Hellboy compõem o B.P.D.P.

Hellboy é o responsável por salvar a jovem Alice Monaghan (Sasha Lane), uma paranormal que terá destaque neste longa. Ele conta também com o auxílio de Ben Daimio (Daniel Dae Kim) um major com um passado literalmente selvagem.

Ao longo da trama Hellboy e seus amigos estarão frente a frente com seres presentes nas mais diversas mitologias, incluindo Baba Yaga (Emma Tate). Mas o principal inimigo, o centralizador do mal, é na verdade a feiticeira Nimue, a Rainha Sangrenta, interpretada pela sempre linda Milla Jovovich.

Elementos presentes na mitologia do rei Arthur também fazer parte da história e serão imprescindíveis no decorrer da mesma.

Cenas infernais.

Graficamente este é um filme impecável. Com um tom muito próximo do que vimos no primeiro Hellraiser, Hellboy não poupa o espectador da violência gráfica, elementos demoníacos e eviscerações. A reconstrução de Nimue é sinistra e feita com extremo zelo. Já a residência de Baba Yaga é tudo aquilo que os fãs dos quadrinhos gostariam de ver e certamente provocará pesadelos.

O ponto alto da visão “infernal” fica para o conflito entre Nimue e o Hellboy, já que alguns dos demônios são realmente assustadores e lembram cenas da Divina Comédia, de Dante. Não há leveza nessas criaturas e isso pode chocar alguns espectadores.

Direção.

A direção de Hellboy ficou sob a responsabilidade de Neil Marshall (Perdidos no Espaço, Westworld, Hannibal, Game of Thrones e Abismo do Medo). Particularmente gostei do direcionamento do elenco e da história ditado por ele, algo já esperado em função de sua eficiência à frente das série e do filme destacados entre seus trabalhos.

Elenco

O carisma, a interpretação e o humor de David Harbour (o mesmo de Stranger Things) deu ao Hellboy a personalidade que encontramos em suas histórias nos quadrinhos. Ficou realmente muito fiel.

Ter um Trevor Bruttenholm feito por Ian McShane foi um presente. O ator conseguiu se desvencilhar de sua caracterização de Odin em American Gods e nos trouxe um professor e pai convincente. A frieza do personagem é um escudo emocional que só um pai de verdade consegue criar em prol da educação e proteção de um filho.

Nimue (Milla Jovovich) é uma boa vilã e mostra o potencial dos futuros vilões de uma provável franquia. A bruxa é cruel, traiçoeira e movida pela sede de sangue. Seu poder sedutor ganha muito com a beleza de Milla.

A improvável parceria entre Hellboy, Ben Daimio e Alice ganha credibilidade pela atuação competente de Daniel Dae Kim (Lost, Hulk, The Good Doctor). A personagem Alice tem potencial, assim como a atriz Sasha Lane que a interpreta, mas não convence nas cenas de combate.

Beleza. Falou bem do filme, mas… vale a pena?

Primeiro, obrigado por ler até este ponto. Segundo, o filme é muito bom. Alguns sentiram a falta do estilo del Toro, mas creio que não compreenderam que este é um reboot, um reinício da franquia. Com visual impecável, ótimas cenas de combate, enredo que soube compactar bem as tramas presentes nas HQ que citei no início do review, ótimo elenco e uma direção que compreendeu o espírito da história original, resta-me afirmar categoricamente que esse é um filme que vale seu ingresso e prestígio.

Quase esqueci: cenas pós-créditos.

Sim, há mesmo duas cenas pós-créditos que dão indícios de uma continuação da trama e a inclusão de um personagem que muitos queriam ver nesse primeiro filme. Vale aguardar…

O filme estreia hoje em grande circuito e tem distribuição da Imagem Filmes.

 

 

Mais do NoSet