Eu, Tonya: O subestimado e por que a melhor qualidade do filme é não esperar nada dele

Se alguém disser que o Oscar é a mesma coisa todo ano, a pessoa não está de todo errada, vamos combinar. Quantas vezes por ano nos sentamos nas poltronas dos cinemas para começar a acompanhar uma série de filmes que funcionam dentro do plot “artista/esportista underdog e incompreendido que é muito dedicado está disposto a mudar de vida e impressionar o mundo”?

Nos últimos anos foram Whiplash, Rush: No Limite da Emoção, Foxcatcher, Birdman e tantos outros que se encaixam nessa categoria que podem ser listados facilmente como filmes que, de certa forma e forçando um pouco a barra, são todos a mesma coisa.

Assim sendo, ao chegar em Eu, Tonya, dirigido por Craig Gillespie — diretor do clichê (que até funciona) Arremesso de Ouro e do mal falado A Hora do Espanto — não é difícil não esperar nada do filme porque esse subjetivo monoformato de selecionados ao Oscar apesar dos pesares, funciona. E funciona justamente porque todos nós nos identificamos (ou pelo menos, seus particulares níveis, admiramos) pessoas engajadas com suas próprias causas, pessoas viciadas em trabalho ou pessoas simplesmente determinadas e dedicadas. É por isso que esses filmes continuam saindo e sendo assistidos e aplaudidos — nós gostamos desse tipo de história.

 

A única desvantagem de se enquadrar nesse perfil de filme é estar sujeito a cair no imaginário de que a história que está prestes a ser contada, apesar de engajar o público, não é nada além do que o mesmo já esperava.

Eu, Tonya, por sua vez, acaba com isso logo nas primeiras cenas ao introduzir um mockumentary (um documentário falso, ficcional) à narrativa do filme. E é bem capaz de que essa não seja apenas uma decisão consciente de Steven Rogers (o roteirista do filme), como também de Craig Gillespie, o diretor, principalmente porque Gillespie dirigiu Arremesso de Ouro e sabe exatamente que tipo de filme está fazendo, parecendo aqui buscar perverter as regras de um escopo de história que ele já havia trabalhado.

O mockumentary aparece na história ao lado de recursos como a quebra da quarta parede e o humor ácido e irônico que dá à protagonista uma áurea de anti-heroína injustiçada.

Por falar em protagonista, Margot Robbie é uma estrela que parecia estar prestes a atingir o auge de sua ascensão, mas que prova como Tonya que está bem longe de ter mostrado todo o seu potencial. Seu papel exige não somente um dinamismo humorístico que até então não era conhecido, como também uma mão dramática que dá a personagem a virada de tom necessário em determinado momento da projeção.

Não esperar nada de Eu, Tonya é realmente a sua melhor qualidade. A escolha de não apenas dar risada, mas como também glamorizar o fracasso é um acerto que impede que o filme se torne mais uma Menina de Ouro.

Trailer

Mais do NoSet

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *