É amor! E agora? – O Encontro!

Você deve se lembrar do último texto que escrevi (Se não leu, leia antes aqui!), quando encontrei o amor num café de Waterloo e me apaixonei por seu sorriso, não é mesmo? Pois bem, hoje vou lhes contar sobre nosso segundo encontro, e, bem, espero que você também não se apaixone por ele…

Já haviam se passado 28 horas desde nosso último e primeiro encontro no Safter`s, quando meu cachecol voou até sua mesa, eu fiz papel de besta, me comportei como um jovem do colegial, e por fim lhe entreguei um cartão com meus contatos. Ele ainda não ligou, não me adicionou no Facebook, não me seguiu no Twitter, e bem, Instagram eu não tenho. Será que ele só tem Instagram? Ai-Meu-Deus!

Mas tudo bem, sou um cara maduro, e não, me recuso a ter o comportamento de um jovem de 16 anos recém saído das fraldas. Aliás, já são quase oito da manhã e preciso ir trabalhar, levar as roupas na lavanderia, comprar um café e, bem, me preparar para mais uma reunião interminável com o pessoal da Nanotron, uma empresa gigante do ramo da nanotecnologia que é cliente do escritório de publicidade onde trabalho. Hoje teremos um dia decisivo, e, bem, preciso estar focado. Dane-se o amor!

Danou-se! Lisa, minha assistente bradou ofegante em meu ouvido, mas para que todos no lugar pudessem ouvir, discreta como um elefante, que “A velha não pôde vir e por isso mandou o filho”, em uma referência a proprietária da Nanotron, uma senhora ranzinza e já de certa idade, de difícil trato, para não dizer, insuportável. Tudo bem, ela não virá, e duvido muito que o filho possa ser ainda pior do que a mãe. Tomo meu café, abro o jornal nas palavras cruzadas, resolvo algumas, estavam difíceis hoje, confiro a previsão do tempo e Lisa me avisa que todos já estão indo para a sala de reunião, vou também.

A “velha” realmente não veio, mandou o amor, quer dizer, o filho! Sim!!! O filho da “velha” é o amor! Não, deixa eu explicar, é que ainda estou em choque com tudo que aconteceu, e não é para menos… Anders, o cara do café, do cachecol, o do sorriso lindo, das mãos doces, o do cartão, das 28 horas, ELE ESTÁ AQUI!!! ELE É O FILHO DA “VELHA”!!! Ai-Meu-Deus!! Recomponha-se, Gustav, recomponha-se!!

Ele estava lá, na ponta da mesa, sentado, com as mãos paralelas uma ao lado da outra, lindas, doces, como eu as vi no café, eu ameacei puxar uma cadeira quando ele me viu, sorrindo, com aquele mesmo sorriso polidental de orelha a orelha que me encantou, fez sinal para que eu me sentasse na cadeira que estava vazia ao seu lado. Ai-Meu-Deus! A essa altura eu já não me lembrava nem mesmo o porquê de estar ali, onde eu trabalhava, eu mal saberia dizer o meu nome se alguém perguntasse. Estava embasbacado, falecido, ou qualquer outra coisa que se preste a me descrever.

Eu me sentei, ele estendeu a mão em minha direção, eu, como um robô enferrujado, lentamente estendi a minha por instinto, e nos cumprimentamos com um aperto de mãos, então ele perguntou como eu estava, eu disse, bem, ele disse que não me ligou pois sabia que nos veríamos hoje, eu disse, como? Você é bruxo, adivinho? Ele me lembrou do cartão que entreguei a ele, tudo fazia sentido, menos meu estado mental de garoto do colegial. Me levantei, disse que havia esquecido uns papéis, e foi o mais lúcido a se fazer, fui andando ainda meio tonto até o banheiro, joguei água no rosto, me refiz, disse a mim mesmo que eu era um adulto, e que deveria agir como tal, que eu voltaria até aquela sala e faria meu papel, de vender nosso trabalho a um alto preço para aquele rapaz e que nenhum sentimento influenciaria o meu trabalho. Eu estava decidido. Preparado. Só que não.

A reunião iniciou e terminou sem que eu dissesse uma única palavra, apenas alguns acenos com a cabeça para concordar ou discordar de algo, eu estava preparado para quase tudo na vida, menos para o amor. Encerrada a reunião ele vem em minha direção, eu só faço reparar em seu sorriso, tão lindo, quando vejo ele já está em minha frente e pergunta se eu gostaria de fazer alguma coisa a noite? Digo que sim, quase que vibrando, SIM!! SIM!! SIM!! Mas com muita naturalidade, sem exaltações… Marcamos de nos encontrar as oito, em um pequeno mas aconchegante restaurante italiano da avenida do parque. Ele disse para que eu fosse de taxi para que depois ele pudesse me levar até em casa. Achei ele rápido demais, mas como eu havia mencionado onde morava, ele logo tratou de dizer que era caminho para sua casa, e que por isso seria mais prático. Tudo bem, nem precisaria ter explicado, se fosse um convite malicioso, eu aceitaria da mesma forma, mas ele era um cavalheiro…

Pedi a Lisa que ligasse na Labyorteaux e conseguisse as roupas do manequim azul que havia visto na vitrine. Uma calça jeans azul que combinava com uma camiseta e um casaco da Dolce & Gabbana, simplesmente lindos, e, bem, a ocasião pedia algo especial, tudo bem que não era a ocasião propriamente dita mas com quem se passaria… Saí do trabalho, peguei as roupas na loja, fui dar uma aparada nos cabelos, e chegando em casa, já quase sete horas, eis que toca a campainha e quando atendo, F-L-O-R-E-S!!! Um lindo arranjo de rosas brancas, com um cartão feito de post-it, que dizia:

“Para os doces olhos que me aqueceram o coração. Anders L.”

Eu não acreditei que aquilo estivesse acontecendo!! Como poderia ser real? E meus olhos? O que eles tinham de especial, a final? Seria apenas excesso de cavalheirismo? Mas ele é filho de uma bruxa! Ai-Meu-Deus!! Devo estar ficando louco!! Como é que alguém que até então bradava aos quatro ventos que a felicidade não poderia jamais depender de uma segunda pessoa, que a liberdade é valiosa demais para que nos prendamos a outrem, que… É amor! E a-g-o-r-a?

Vestido, perfumado, quase como um cão que sai do banho em um desses pet-shops de granfino”, eu cheguei pontualmente oito horas ao restaurante que havíamos marcado. Ele já estava lá dentro, sentado a mesa, a melhor mesa do salão, diga-se de passagem, ao lado de uma imensa lareira, onde a lenha fumegante exalava um cheiro de pinho todo especial. Logo que me avistou, levantou-se e me beijando o rosto, puxou a cadeira para que eu pudesse me sentar. Ele estava deslumbrante, vestia uma calça jeans num tom de verde musgo que contrastava com o vermelho carmim de um lindo suéter de lã. Ele elogiou meu casaco, era mesmo lindo (D&G não era pra menos), eu agradeci as flores, ele perguntou se eu o acompanharia no vinho, eu queria responder que o acompanharia até o fim do mundo, mas me limitei a dizer que sim, e que agradeceria se fosse um Alicante Bouschet, um vinho que tem mais cor do que corpo, logo seu teor alcoólico é menor, imagina eu, sóbrio já deslumbrado, bêbado então…

Ele respondeu de pronto que eu não iria ficar bêbado com uma garrafa de Cabernet Franc, acontece que o Alicante é um vinho mais usado em assemblege (mistura de vinhos) para melhorar a cor, no paladar não agrada sozinho a muitos amantes do vinho. Esse, aliás, era mais um ponto a seu favor, ele conhecia vinhos, e, bem, vinho é uma das minhas paixões. Assenti com a cabeça e pedimos o Cabernet Franc. Ele disse que eu estava nervoso demais, e que aquilo não era um encontro, apenas um jantar, será que ele percebeu que eu não estava cabendo em mim de tanta paixão? Será que estou sendo assim, tão transparente? Ai-Meu-Deus!

Falamos sobre muitas coisas, ele me fascinava um pouco mais a cada novo assunto: música, literatura, aventura, culinária, até me belisquei discretamente para ter certeza de que aquilo não fosse um sonho, ou um devaneio qualquer, mas era a mais pura realidade. Quando terminamos a sobremesa, ao que o garçom recolheu todos os pratos, deixando apenas as taças, o vinho e o jarro com água sobre a mesa, de súbito, Anders tomou minha mão, suas mãos estavam quentes, as minhas congeladas, disse que a noite estava sendo magnífica, que ele não poderia imaginar companhia melhor para um jantar, ao que eu apenas me limitava a concordar com um sorriso pueril, perguntou se eu gostaria de andar um pouco, eu disse que sim, a final, quem não gostaria de andar com -8º depois de estar sentado a beira da lareira bebendo vinho?

O frio não impediu que ele me levasse para fora daquele lugar, nem que segurasse forte a minha mão enquanto andávamos em direção ao parque. Eu disse que estava ventando muito, que seria melhor que fôssemos beber em algum lugar fechado, quente. Ele disse que gostaria de conhecer minha casa, e quase gritando disse novamente a frase que havia escrito no cartão: “Onde moram os olhos que me aqueceram o coração?”

Fomos até o carro dele, um compacto? Aquilo não fazia muito sentido, logo ele me explicou que era um veículo movido a eletricidade, um modelo ecológico. Ele queria salvar o planeta, não é lindo? Confesso que eu nunca tive muitos planos para o futuro do planeta, me preocupara mais com as crianças famintas que com as árvores, o carvão e coisa e tal, mas sempre tive certeza de que todos precisamos abraçar com fervor e paixão alguma causa seja ela qual for, e, bem, até nisso ele se encaixava.

Chegamos em casa, pedi perdão pela bagunça, mas não havia bagunça, eu sempre fui organizado, mentira, Márcia minha diarista havia estado ali durante o dia, mas a questão é que o ambiente estava organizado. Quebrei o silêncio com Bob Dylan. Ele sorriu. Eu sorri. Nos beijamos.

Os pássaros já estavam cantando na copa de uma árvore que dava para a janela do quarto quando ele chegou com uma bandeja de café na minha cama. Como? Eu não tinha café em casa! Ele simplesmente havia pensado em tudo! Enquanto tomávamos o café, eu observava seu sorriso, sua doçura, ele então mudou seu semblante para um olhar preocupado, com medo… Foi quando ele disse que tinha algo muito importante para me contar e que poderia mudar tudo o que tínhamos vivido até aquele momento.

Mas essa parte da história, eu só vou contar na próxima semana!

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1 Comment

  • seus textos tem me feito viajar para bem longe são uma delícia…

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