Dragon Ball Super: Um erro de planejamento.

Obs: O texto contém spoilers de todo o anime. Continue por sua própria conta e risco.

O ínicio

Produzido pela Toei Animation e supervisionado pelo criador da obra original Akira Toriyama, Dragon Ball Super surgiu com a ideia de trazer a série Dragon Ball, iniciada no formato de mangá em 1984 e que recebeu uma adaptação para anime em 1986, de volta para o cenário mundial. Para isso resolveu usufruir de todos os elementos que fizeram a série se tornar popular, mas encontrou problemas em toda a sua trajetória causados tanto por erros do próprio estúdio – que equivocadamente viria a acelerar a produção do anime – , quanto por decisões no roteiro que deixariam evidente a falta de planejamento da obra.

A pressa

Ainda na fase de divulgação, a falta de acabamento e fluidez já preocupava no material publicitário. Mas por causa do crescente hype com o retorno de uma marca que até então era sinônimo de qualidade e entretenimento, ofuscou os problemas na animação que só foram ser notados a partir do episódio de número cinco, onde todo o aspecto técnico falhou. A pressa do estúdio em lançar o quanto antes a obra também prejudicou o roteiro que foi reciclado nas duas primeiras temporadas dos filmes conhecidos no Brasil como A batalha dos deuses e O Renascimento de F o que acabou gerando não só a quebra do hype até então estabelecido como a uma perda de audiência que deixou o anime perto de ser cancelado.

Ao final das duas primeiras temporadas – com o risco de cancelamento e a grande queda de audiência – se tornou necessário fazer mudanças que aconteceriam, mas não de imediato. Antes de tentar criar uma grande virada, os roteiristas cometem mais um erro em apresentar novos e interessantes personagens e resolver os conflitos envolvendo eles usando a maneira mais genérica no universo de Dragon Ball: um torneio de artes marciais, o que ate poderia funcionar se houvesse um melhor desenvolvimento dos conflitos ali existentes. Ao invés disso temos novamente lutas mal animadas e sem peso dramático e quando se torna possível uma grande virada, ela não ocorre.

Outro erro desse arco que viria a ocorrer em todos os arcos à frente e que tem ocorrido frequentemente na industria dos animes  é a criação de personagens tão poderosos que o autor não consegue encontrar uma maneira plausível dele ser derrotado; isto gera ainda mais furos de roteiros e se torna cada vez mais visível a falta de planejamento e a pressa em volta da obra.

A retomada

Depois de 3 erros seguidos (tendo um “respiro” com um leve aumento de audiência no arco anterior), mas ainda com o fantasma do cancelamento na porta, finalmente ocorre o chamado plot twist, a grande virada que mudaria o jogo. Para chamar mais atenção sobre a obra e melhorar a qualidade do conteúdo, os traços na animação passaram a ser revisados e foi composta uma nova trilha sonora para a obra. Caso esses anúncios não conseguissem atrair o publico, o que viria a seguir surpreenderia todos aqueles que acompanham a indústria dos animes. A Toei transformaria o rosto do protagonista de todas as temporadas não só de Dragon Super como de toda as obras feitas até então no principal antagonista do arco a ser lançado.

O anuncio do plot que a nova temporada teria e das mudanças técnicas atraíram olhares do publico que passou a esperar o desenvolver da história, aguardando que ela correspondesse ao hype, algo que com indas e vindas estava acontecendo até os últimos episódios da temporada, onde duas decisões desmereceriam tudo feito até ali, sendo elas: o retorno do recurso da fusão (apresentado durante a saga Boo em Dragon Ball Z) e que se já dividia opiniões sobre ser ou não um recurso usado para corrigir um erro na hora de compor um personagem, aqui já incomodou por outros motivos que estarão ligados diretamente ao fim da luta, onde a fusão que era dita que duraria uma hora se desfaz em dez minutos e se apresenta sem função já que não muda em nada o curso do combate.

A outra decisão tomada logo em sequência é visivelmente uma medida apressada para endeusar um personagem que estava esquecido, mas que é idolatrado pelos fãs mais antigos, fazendo com que o mesmo personagem conseguisse fazer coisas impossíveis para o nível de poder onde se encontrava contra um oponente que era dito ser um Deus indestrutível que nem a fusão dos dois principais protagonistas conseguiu se equiparar.

O fim

Após o fim do seu quarto arco foi decidido pelo estúdio que a obra entraria em hiato no próximo arco, esse que teria maior investimento e deveria fazer valer todo o investimento até ali. Após isso, a melhora tanto da animação quanto de roteiro começou a ser nitidamente percebida. Todos sabiam que ali a obra poderia encontrar seu fim e para tentar adiar o inevitável houve pela primeira vez um planejamento de roteiro que finalmente criaria um perigo real com a ameaça do perdedor ser apagado da existência. Também não haveria pressa nas lutas e se desenvolveria mais os personagens. Para que essa ultima parte fosse melhor percebida, trouxeram de volta um antigo antagonista até então esquecido para o lado dos assim chamados heróis da saga a fim de desenvolver melhor a dinâmica do grupo.

Pela primeira vez Dragon Ball Super mantinha uma qualidade de roteiro, animação e trilha sonora equilibradas e ainda gerava uma expectativa para o que viria a seguir, deixando a luta já antecipada pela abertura para mais à frente, para um possível clímax da histéria, enquanto desenvolvia personagens mais secundários da historia. Mas como tudo tem um porém, um erro antigo retorna em um momento inoportuno a fim de manter o público empolgado. Parte da luta entre o protagonista e um novo personagem é antecipada, o que não deveria ser algo ruim já que apresentaria o novo antagonista e seus poderes. O problema esta nos poderes do mesmo que aparentemente não possuem limites e traria novamente o problema do antagonista forte demais que aparentemente não há como derrotar.

Para contrapor o novo adversário, o protagonista nos apresenta uma nova transformação, algo que é no minimo aceitável no universo de Dragon Ball, a luta então continua e se encerra com a derrota do protagonista por causa da falta de controle da transformação após esse combate que consegue empolgar tanto pela trilha sonora quanto pela animação do combate. Voltamos a ver lutas menores, mas que não podem ser consideradas desnecessárias pois encerram arcos de personagens secundários dando importância a eles e nos preparam para o que está por vir.

Antes do combate final para desenvolver a nova transformação do protagonista, para evitar que ele se tornasse uma espécie de Deus ex machina ocorre uma luta entre os combatentes menores para mostrar o protagonista aprendendo a controlar o novo poder. Finalmente após todos os conflitos serem resolvidos, arcos encerrados e a esperança de que a obra encontraria sua redenção ali, os erros voltam a aparecer. Personagens que tinham aparentemente morrido, durante o mesmo arco, reaparecem e a luta tão esperada consegue empolgar, mas acaba nisso. Não há um peso maior das consequências que aquele combate traria após concretizado. Por poucos minutos já vemos todos os eliminados até então serem revividos logo em seguida,  o que gera uma sensação de decepção no fim de tudo.

Conclusão

Dragon Ball Super falha não só por falta de planejamento na construção de seus personagens e em quesitos técnicos nas suas primeiras temporadas, mas por também não saber aproveitar as oportunidades para obter sua redenção, algo que poderia acontecer desde o penúltimo arco. E se isso não ocorre é por absoluta ausência de coragem de inovar, apostar no novo e insiste em apenas repetir algo já feito anteriormente o que a longo prazo causa desinteresse no que poderia ser algo nostálgico e empolgante tanto para aqueles que viram a serie original quanto para aqueles que estariam iniciando nesse universo por meio dessa obra.

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