Despedida em Grande Estilo e o feliz encontro de três veteranos

Um bom elenco pode fazer maravilhas em um filme. Que o diga o trio escalado para Despedida em Grande Estilo (Going in Style, 2016): Michael Caine, Morgan Freeman e Alan Arkin. Bom para você ou quer mais? Os veteranos deitam e rolam em cena na pele de amigos de longa data vivendo os efeitos colaterais dos muitos anos de vida. Sem nunca perder o senso de humor, é bom que se diga. E as tiradas de cada um sobre dificuldades cotidianas rendem deliciosas gargalhadas. Em parte, também é mérito do roteiro de Theodore Melfi, realizador de longas como Um Santo Vizinho (St. Vincent, 2014) e Estrelas Além do Tempo (The Hidden Figures, 2016). Ele demonstra capacidade de manter o interesse do público em uma trama surrada, em que o diferencial reside em “como” e não em “o que” vai acontecer. De qualquer forma, o roteiro teve por base os escritos de Martin Brest, que também dirigiu o filme homônimo de 1979 e colaborou nessa nova versão. Por sua vez, o argumento de ambos os filmes veio de Edward Cannon. À época, os amigos foram vividos por Art Carney, George Burns e Lee Strasberg.

Na direção, um nome ainda desconhecido para a maioria das plateias: Zach Braff. O quarentão natural de Nova Jersey está em seu terceiro trabalho como diretor e, pela primeira vez, não filma um texto próprio. Sua aposta em uma direção pouco ostensiva é legítima e todo o brilho emana dos protagonistas; também é uma opção esperta, por assim dizer, já que ele sabia muito bem o naipe de intérpretes que tinha sob seu comando. E tudo começa quando Joe (Caine) entra no seu banco e constata que o sistema não coopera em nada com sua saúde financeira, especialmente agora diante de uma iminência de despejo. Do alerta amarelo ao vermelho, poucos dias se passam, e sua lanterna acende quando ele pensa em um meio “fácil” de obter o dinheiro de que precisa. Essa ideia vem justamente nessa visita ao banco, quando uma gangue invade o lugar para um assalto. Parece o plano perfeito, só falta convencer Al (Alan Arkin) e Willie (Morgan Freeman).

O argumento mais convincente para eles, porém, não vem de Joe, mas em forma de péssima notícia: a empresa da qual os três foram funcionários por anos está deixando o país e, com isso, fica isenta de responsabilidades financeiras, deixando os amigos sem chão. Não tendo mais nada a perder, eles se dispõem a mergulhar de cabeça em um plano mirabolante, quintessência do cinema. A gente sabe que colocar a ideia em prática na vida real seria uma loucura, mas embarcar na onda desses amigos é um convite irresistível. Então vamos acompanhando o desenrolar do projeto, que conta com um baixinho de sotaque hispânico para dar as coordenadas do assalto. Os mais atentos podem reconhecer que se trata de John Ortiz, coadjuvante de muitos longas, entre os quais O Pagamento Final (Carlito’s Way, 1993), O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012) e o contemporâneo Kong: a Ilha da Caveira (Kong: Skull Island, 2016). Sua participação decisiva para o sucesso do plano é também mais uma fonte de risadas.

O maior trunfo de Despedida em Grande Estilo, sem dúvida, é seu elenco principal. A nítida sensação que se tem é de que Freeman, Caine e Arkin se divertiram bastante em cena, e tal entrosamento flui para o espectador, que pode acompanhar a sessão com gosto, mesmo constatando aos poucos os rumos previsíveis do enredo. O filme guarda um parentesco com outra obra de seu tempo, o indignado A Qualquer Custo (Hell or High Water, 2016). Como no longa de David Mackenzie, é o sistema injusto dos grandes bancos que desperta o espírito de revanchismo dos amigos. Mas, enquanto os dois irmãos vividos por Ben Foster e Chris Pine trafegam pela via dramática, nosso trio de vovôs caminha pela senda cômica, tirando sarro de si mesmos, sobretudo no que se refere à velhice, como já foi dito antes. E fica difícil não entender ao menos em parte o lado deles, inclusive quando Joe, logo no início da narrativa, joga o gerente no fogo durante o assalto “inspirador”. Por outro lado, a premissa de Despedida em Grande Estilo é mais antiga, o que mostra que a “indústria bancária” faz misérias não é de hoje.

Ainda sobre os coadjuvantes, uma surpresa muito agradável é a presença de Christopher Lloyd, na pele de um simpático idoso acometido pela senilidade. Do alto de seus 78 anos, o inesquecível Dr. Emmett Brown da trilogia De Volta para o Futuro (1985, 1989 e 1990) diverte com suas entradas em cena, sempre fazendo alguma confusão e de posse de um estridente megafone. É a feliz junção de uma lembrança afetiva com a certeza sobre um talento que não envelheceu. Pelo contrário: segue em ótima forma. Esse último aspecto também é notável em Joe, Al e Willie, porque para dar conta de saquear um banco velocidade é característica imprescindível. Teriam eles feito algum tipo de preparo físico para o filme ou já eram mesmo aqueles senhores inteirões que vemos na tela. Seja uma ou outra hipótese, ambas são mérito deles, que fazem valer o ingresso para a sala escura e deixam a respiração mais leve ao final da sessão.

Mais do NoSet

1 Comment

  • Todos os três são excelentes atores, embora o filme seja comédia. Falar do michael caine filmes significa falar de uma grande atuação garantida, ele se compromete com os seus personagens e sempre deixa uma grande sensação ao espectador. É de admirar o profissionalismo deste ator, trabalha muito para se entregar em cada atuação o melhor. Em Despedida em Grande Estilo ele faz um trabalho excepcional que, além de se divertir, se move.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *