Crônica da inocência e da imaginação.

Fui criado com desenhos e animações que marcaram minha infância e reforçaram meu caráter e minha índole. Pode parecer besteira, mas uma infância sem a magia dos sonhos e das crenças no impossível é algo vazio. Crescer antes do tempo não é bom. Vi e li muito sobre contos de fadas. Acreditei de coração no Papai Noel, Coelho da Páscoa, nos personagens do nosso folclore, nas lendas que marcaram gerações. Sonhei que era capaz de voar. Acreditei que a moeda fora dada realmente em troca daquele dente de leite. E querem saber? Viver e crescer em meio à fantasia não me fez mal. Aliás, mesmo sendo um escritor voltado ao terror, sei que muito da inspiração de hoje é fruto das brincadeiras e fábulas do passado. Mas os tempos são outros. Crianças crescem descrentes da magia de criaturas lindas, ainda que assustadoras. O poder do Natal e da Páscoa perdem lugar para o puramente material. Não quero dizer com isso que as novas lendas são ruins. O que acho é que as boas histórias do passado podem coexistir com as de hoje.
Tolkien, Lewis, Martin, Rowling, Lobato, Gaiman, Burton, Vianco, Coelho, Stoker e tantos gênios modernos comprovam que é possível habitar o universo fantástico, mesmo em uma época voltada para a tecnologia. O que falta para retomarmos o encanto de aventuras que estão caindo no esquecimento ou até mesmo sendo radicalmente alteradas? As fábulas foram a força motriz de gerações, inspiraram filmes, quadrinhos, livros, desenhos e músicas. Sendo assim, por que não reacender essa chama?
Então um leitor irá me alertar: – Espere! Você não percebe que isso já está acontecendo com obras como Sandman, Once upon a time, João e Maria e outras?
Sim, respondo. Porém é preciso compreender que essas são produções voltadas para um público já distante da infância. O que ressalto nesta crônica é a necessidade de não crescermos tão rápido. Há muita coisa boa que incorpora lendas do passado, mas fazendo uso de releituras e, quase via de regra, voltada para um grupo mais adulto. Não desmereço esses esforços. O que peço é a simples retomada da inocência de nossas crianças que, infelizmente, terão um futuro com inúmeras complicações, incerto e violento. Há alguém capaz de dizer o contrário? Atentem que não estou afirmando que isso é algo imutável, jamais. Há esperança de dias melhores e é por eles que lutamos. Entretanto, caso a maré fique revolta, certamente será mais fácil encará-la com a base adquirida em uma infância na qual tais problemas eram conhecidos como ‘aventuras’. A imaginação é um porto onde atracamos sempre que a esperança perde um pouco de força.
Que a fantasia molde o homem do futuro, não o temor da violência que cedo é imposta.
Nossas crianças merecem o melhor.

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