Crítica: Um Tio Quase Perfeito – “É Coisa que Sobrevive?”

Um Tio Quase Perfeito conta a história do ‘malandrão’ tio Tony, interpretado pelo comediante Marcus Majella, (conhecido pelo seu personagem Ferdinando em Vai que Cola) que vai morar por algumas semanas com seus sobrinhos.

No começo da história, é mostrado que Tony é um típico picareta, e, sem muitas explicações, foi despejado de seu apartamento junto com sua mãe Cecília. (Interpretada pela grande atriz Ana Lúcia Torre, que já participou de  filmes importantes como Quanto Vale ou É Por Quilo (2005) e Reflexões de um Liquidificador (2010), se é fã de cinema nacional e ainda não conferiu esses filmes, confira). Eles vão buscar refúgio na casa de Angela, irmã de Tony, que por algumas semanas terá que conviver com seus três sobrinhos que ele não via a algum tempo.

É aí que começa as (não tão) boas aventuras engraçadas e emocionantes do tio com as crianças.

O filme têm o intuito de trazer um bom ‘family movie’ para o cinema nacional. O diretor Pedro Antônio, que tem toda a sua carreira voltada para a comédia, ressalta em várias entrevistas, a importância de abrir o leque de gêneros no cinema nacional, para a gente conseguir realmente ter uma indús…

Mas aí você interrompe  a leitura pra se perguntar: Pera aí, mas se tem um tipo de gênero no Brasil que podemos considerar industrial, são exatamente as comédias, o que esse filme tem de novo?

Exatamente, querido leitor, na visão do diretor, esta vertente ainda não está aberta no nosso país. E, cá pra nós, não está mesmo. A única indústria que temos razoavelmente consolidada no brasil são essas comédias no [risca] pior [/risca] melhor estilo pastelão [risca de novo] sempre que possível protagonizadas pelo Leandro Hassum [/risca]. E, esse filme faz uma comédia completamente diferente do pastel em questão. Mas, apesar da diferença, não faz nada muito diferente do que a gente via nos anos 90, com os filmes do Didi, da Xuxa ou da Sandy&Junior, ou mais recentemente, com Carrossel.

É claro que a película traz uma seriedade um pouco maior em relação a obras como O Noviço Rebelde, e acaba agradando mais a adultos que curtem os filmes do Paulo Gustavo que crianças que gostam dos da Larissa Manoela. Mas ele não sai disso. E acaba ficando num limbo entre algo que as crianças querem ver eque os adultos gostariam de assistir.

Com recursos completamente clichês, como os americanismos de ler histórias para criança na hora de dormir, ou vender curas milagrosas nas calçadas da cidade, o filme não cumpre a sua função desejada. Que era a de elevar o nível dos filmes do gênero no cinema nacional.

O roteiro do é baseado em uma enxurrada de pequenas piadas, que hora ou outra funcionam, ao mesmo tempo que vai construindo o drama água com açúcar familiar que transforma o personagem de Majella daquela forma clichê hollywoodiana em filmes de comédia romântica classe C. Ele começa como um charlatão de carteirinha, e termina o filme como a pessoa mais amável e com o melhor caráter do mundo. O que prejudica muito a atuação do ator, que não consegue repetir cenas engraçadas como seu personagem recorrente em Porta dos Fundos.

Mas se tem uma coisa que o roteiro acerta, é em criar um bordão (bordão aliás, que inspirou o título da postagem):

“É coisa que morre?”

Independente  da mudança repentina de tio Tony, essa expressão, é ressignificada dentro do filme: Se no começo, ele faz seus sobrinhos se perguntarem ‘É coisa que morre?’ antes de fazer algo, mostrando o seu desleixo com as crianças, ao fim do filme, essa expressão se torna uma cativante e corajosa expressão para fazer seus sobrinhos se sentirem mais a vontade com eles mesmo.

A artificialidade do filme, também está nas músicas pop mal inseridas na melhor tentativa de trazer o espectador pra dentro do filme. As cenas não são construídas para que a música brilhe e converse com a situação, mas sim, aparece em alto e bom som para tentar trazer o espectador de volta para tela quando estamos cerca de 3 minutos sem piadas.

Agora, se vai conquistar a bilheteria brasileira, se os pais não vão preferir levar seus filhos pra assistir a já estabelecida comédia que estreia no mesmo dia, entitulada de Meus 15Anos: O Filme, só o tempo dirá.

Mas é fato que a tentativa artística da equipe do filme de trazer o gênero com força para o cinema nacional, e reproduzir a emoção de filmes como Quero Ser Grande, que foi, admitidamente uma grande inspiração para o diretor, não aconteceu.

Como entretenimento o filme é bem assistível, mas como um avanço na história do cinema industrial brasileiro, parece que não, apesar dos esforços.

Nota 4,0/10

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