Crítica: Tinha Que Ser Ele? (2016) | A graça e a vulgaridade andam juntas.

Como o gênero de comédia é controverso. Enquanto muitos apreciam o que chamamos de “comédias besteirol”, outros acham que hoje em dia os filmes do gênero não tem a mesma graça se comparados a 10, 15 anos atrás, pois usam e abusam de conteúdo sexual, atenuado ou explícito. No entanto, o que realmente devemos nos perguntar é: ainda é possível que alguma obra de Hollywood faça o público rir sem apelar pra obscenidade? É aí que em Tinha Que Ser Ele?, novo filme de John Hamburg (Eu Te Amo, Cara),  somos questionados se o longa é uma exceção à regra. Na verdade, ele até tenta não ser “pastelão”, porém todo cuidado é pouco. No fim das contas, será que valeu a pena ou deu pena?

Na trama, Ned Fleming (Bryan Cranston) leva a família inteira para visitar a querida filha Stephanie (Zoey Deutch) durante o feriado do Natal, mas ao encontrá-la, entra em conflito com Laird Mayhew (James Franco), o excêntrico namorado dela que ficou rico por causa da internet. De imediato, podemos compará-lo a Entrando Numa Fria (cujo roteiro também é de John Hamburg), pura e simplesmente porque trata do mesmo tema, mudando apenas alguns detalhes. Apesar disso, não é nenhuma surpresa que volta e meia os produtores inserem elementos deveras exagerados e que não condizem com a realidade. Entretanto, o diretor procurou focar naquela velha história: a filhinha do homem que, desde o nascimento, vira o centro do universo dele. Ao lhe dar amor, a incentivar e a ver se tornar uma mulher forte e confiante, o que mais teme é o fatídico dia em que terá de ficar cara a cara com o amor da vida dela. Como é de se esperar, assim como as sogras não se dão bem com seus genros, o mesmo está propenso a acontecer com os sogros. Fato tal que se reprovado pelo “chefão” da família, digamos assim, pode ir por água abaixo (ou não), onde fugas ocorrem e a “batata esquenta” pra todo mundo. Felizmente não é bem assim que as coisas funcionam aqui. Ainda não.

Dessa forma, o dilema que o protagonista passa a enfrentar com Stephanie é a pergunta que todo pai se faz: por que ele? Em meio a tantos homens que ela poderia ter ficado, escolhe justamente um que de acordo com ele, influenciou a família com comportamentos repreensíveis/não desejáveis. Todavia, o interessante é ver a maneira como a relação entre o sogro e o genro se desenvolve ao longo da projeção – independente da lógica brincar com o espectador o tempo todo. Enquanto seu filho mais novo, Scotty, enxerga Laird como um sujeito “boa pinta” e a própria mulher, Barb, o vê como alguém que combina com a menina, Ned pensa que o pretendente não foi a melhor escolha da filha. Em meio a várias tentativas de conquistá-lo, Stephanie diz que embora tenham 10 anos de diferença, Laird a faz feliz e isso basta. Por conseguinte, o raso roteiro nos prende a atenção do primeiro ao terceiro ato, ainda que recheado de piadas subliminares.

Inclusive, com relação ao humor negro, ele não é tão absurdo assim. Porém, caso peguemos aquelas comédias de 16, 18 anos, essa não acaba sendo a mais inocente de todas. Diria que houve mais um uso de palavrões do que conteúdo sexual em si e isso inclui somente 80 vezes o termo f*ck. Apesar de forçar um pouco a barra nesse quesito, a linguagem apresentada é justificada pelo contexto e não chega a ser extremamente impactante. Logo, as referências implícitas e cenas de insinuações não contêm detalhes fortes ou descrições relevantes, o que as tornam permissíveis para ambos os públicos jovem e mais velho.

Quanto às atuações: a começar pelo sempre ótimo Bryan Cranston (eterno Heisenberg de Breaking Bad). Cranston é com certeza o ponto forte do enredo, tanto nas cenas em que a comicidade reina quanto naquelas que envolvem um clima mais sentimental. Temos ainda James Franco sendo James Franco, incorporando seu personagem de um jeito extrovertido, assanhado e brincalhão. É impressionante o carisma que o ator (que em breve será visto nos cinemas em Alien: Covenant) possui em cada personagem que interpreta, visto que seus últimos trabalhos (vide O Trote, King Cobra e Eu Sou Michael) não sejam os melhores da sua carreira. Já a linda Zoey Deutch (de Academia de Vampiros: O Beijo das Sombras e que em breve estará em Antes Que Eu Vá) não ficou devendo tanto. A atriz faz jus ao papel da jovem que bota toda a sua esperança em seu par, mentindo se necessário e chegando ao ponto de largar a faculdade, o que, por conseguinte, coloca em risco o futuro brilhante que seu pai tinha. Do ponto de vista dele, após tê-la criado com todo amor e carinho, ensinando-a a ser responsável e uma moça virtuosa, eis a questão que vem à tona: se a garota realmente definiu o caminho que pretende seguir para o resto da vida. Quanto ao restante do elenco, está mediano; cada um com sua personalidade peculiar. Destaque para Gustav, o alívio cômico da película incorporado por Keegan-Michael Key (de Keanu e o novo Férias Frustradas), que rendeu boas risadas ao contracenar com Franco.

Portanto, em vista dos aspectos mencionados, esta comédia se encaixa nas raras ocasiões em que você não se arrepende de assistir. No decorrer de 1 hora e 50 minutos de duração, é possível que várias pessoas só de verem o trailer irão comentar: “ah, que filme mais bobo e besta”, mas isso não é motivo para os telespectadores deixarem de ver e tirarem suas conclusões. Ao invés de se deixar levar por críticas que detonem a fita, aconselho que você, caro leitor, confira e tenha a sua própria concepção formada em mente. Afinal, quem nunca gostou de um filme que todo mundo odiou? Ou detestou um longa que a maioria amou? Coloquemos em mente que sim, a divergência de opiniões existe e ocorre tanto que está por aí, “clara como o dia”. A despeito de soar apelativo e não ser o melhor entretenimento do mundo (nem do ano), Tinha Que Ser Ele? é um bom passatempo.

Título Original: Why Him?
Direção: John Hamburg
Duração: 111 minutos
Nota:

Confira o trailer:

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