Crítica: Ouija – Origem do Mal (2016)

Quando Ouija – O Jogo dos Espiritos estreou em 2014, a recepção da crítica não foi favorável ao resultado do filme. Quase unanimemente os críticos atribuíram o insucesso a um roteiro e à uma atuação falha.

Este novo longa trata-se de uma sequência anterior à referida versão, e como o título já denuncia, ele explora a “origem do mal”.

No início do filme somos apresentados à uma casa de subúrbio no ano de 1967 em Los Angeles, na qual encontram-se um idoso com sua filha reunidos na sala de jantar com a vidente profissional Alice (Reaser), vestida em tons de roxo – afinal o seu trabalho é lidar com a própria morte – para convocar o espírito da saudosa esposa. A sessão estava caminhando bem, até que uma sombra que espreitava a janela ataca as pessoas e as espanta do local.

Mas não era um espírito. Quando Alice retorna a casa descobrimos que se trata de uma farsa elaborada conjuntamente com suas filhas – Lina (Basso), a adolescente, e a caçula Doris (Wilson) – para que os clientes acreditem realmente que estavam na presença de algo sobrenatural. Apesar de sua filha mais velha ser completamente cética e, ainda, pouco levando a sério o trabalho da mãe, Alice acredita realmente estar dando algum tipo de conforto para as pessoas que por ali passam, e, por conseguinte, para que elas encontrem uma paz anterior, por algum eventual conflito não resolvido com os seus parentes falecidos.

À noite, em um ato de rebeldia, Lina sai escondido para encontrar amigos na casa de um deles. Lá, ela encontra o tabuleiro ouija e seus amigos resolvem experimentar o jogo. No entanto, a festa acaba quando a mãe da anfitriã descobre a festa não autorizada, o que leva também à descoberta do ocorrido pela mãe de Lina.

No dia seguinte, Alice se depara novamente com o jogo em uma loja. Acreditando que seria uma contribuição à encenação no seu trabalho, ela decide utilizá-lo como instrumento em sessões com clientes. Ocorre que, ao preparar e organizar a mesa, a fim de poder controlar os movimentos da palheta, Alice acidentalmente convoca Marcus, um espírito maligno que posteriormente possui o corpo da filha mais nova – Doris. A partir daí, os estranhos sinais que ela começa a apresentar despertam a preocupação de Lina, a qual busca auxílio do diretor de sua escola: o Padre Hogen (Thomas).

O interessante é a dinâmica dessa família, a sua história e, principalmente a superação de um evento traumático que o roteiro nos apresenta. Trata-se de algo que a narrativa mesmo se propõe a dar conta, sem utilizar qualquer recurso explicativo. Ela está no dia-a-dia. Este recurso, não somente foi executado para que o espectador identifique e se importe com ela, mas para que a trama como um todo possa ser compreendido e, acima de tudo, ser crível.

Contudo, estamos diante de mais um filme que utiliza a inocência de uma criança para a possessão de um espírito e cada vez mais que a narrativa progride encontramos mais clichês: a coberta que é puxada da cama, a risada infantil que ecoa e os olhares da criança possuída, os pesadelos. Além disso, a trama conta com situações completamente previsíveis que perdem totalmente o fator surpresa e, apesar de alguns sustos pontuais, atenuam as chances de o espectador se manter ansioso com o suspense.

Com referências muito especiais a clássicos, como, por exemplo, Poltergeist Exorcista, o grande mérito desse trabalho, na realidade, está na fotografia, com movimentos de câmara precisos e muito criativos, com jogo de ângulos, travellings, que praticamente não nos deixa desgrudar o olho do tabuleiro, assim como o zoom-in e zoom-out recorrentemente utilizado para ficarmos bem próximo, em primeiríssimo plano, das feições e expressões da talentosíssima atriz Lulu Wilson (Doris). A presença de sua personagem certamente incomoda. Ainda, a competente atuação dos demais atores logrou êxito em preencher o conteúdo das elispes maravilhosamente bem executadas, o que reforça a ideia de que não precisamos de uma obra muito expositiva. Por fim, os altos contrastes e sombras foram muito bem executados para a criação de um ambiente mórbido.

Pode-se dizer que mesmo sem muitas inovações no roteiro, o filme consegue melhorar, e ainda se superar, para entregar um filme de terror muito mais fiel ao seu gênero.

Direção: Mike Flanagan

Roteiro: Mike Flanagan e Jeff Howard.

Elenco: Henry Thomas, Annalise Basso, Elizabeth Reaser, Lulu Wilson, Parker Mack, Kate Siegel, Alexis G. Zall.

Avaliação: 3,0/5,0

Gabriella Tomasi, autora do blog Ícone do Cinema, em coluna para o site Cabine Cultural

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