Crítica: Os Meninos que Enganavam Nazistas (2017) | Crianças sonham, mas também brincam com o fogo.

Como é de costume citar em minhas críticas, películas estrangeiras não são pra qualquer um, especialmente as francesas. Pura e simplesmente porque tal entretenimento está fadado a agradar cinéfilos que mais apreciam o gênero Cult e são o seu público-alvo. Com ênfase neste conceito é que Os Meninos que Enganavam Nazistas é moldado. Inspirado no livro escrito por Joseph Joffo e lançado pela Editora Vestígio, o longa é baseado em uma emocionante história real, que narra a fantástica jornada de dois irmãos vivendo em meio aos horrores da segunda guerra mundial. Detalhe que o best-seller chega às livrarias neste mês de Agosto, junto ao lançamento do filme, que acontece hoje mesmo nos cinemas de todo o Brasil!

Na trama, durante um período de ocupação nazista na França, os jovens irmãos judeus Maurice (Batyste Fleurial) e Joseph (Dorian Le Clech) embarcam em uma aventura para escapar dos nazistas. Em meio à invasão e a perseguição, eles se mostram espertos, corajosos e inteligentes em sua escapada, tudo com o objetivo de reunir a família mais uma vez.

Bom, primeiramente admito que tenho um fraco por filmes baseados em histórias reais, pois os mesmos mudam totalmente a minha visão quando os vejo, e com este aqui não foi diferente. Claro, não chegou a me emocionar tanto a ponto de chorar litros como ‘Amor e Ódio’ e ‘O Menino do Pijama Listrado’ fizeram – e acredito até que ele bebeu da fonte desses outros 2 -, mas com certeza vale a pena ser visto, uma vez que o realismo e a tensão presente em algumas cenas são constantes, o que pode talvez chocar aos mais sensíveis. Por outro lado, não é à toa que obras francesas são deliciosas de assistir, e neste caso, contamos com a presença de elenco desconhecido, porém plausível, inclusive dos atores que interpretam os protagonistas. De faço, tem horas que as suas ações realmente caminham entre a comicidade e o perigo.

Outro detalhe que convém ressaltar é relacionado ao drama enfrentado pela família. É de agoniar saber que seres humanos como aqueles, como nós, não estão, nem nunca estiveram em paz em lugar nenhum, e viviam de mudando de um lugar a outro, sempre acreditando em um novo começo, ainda que 100% de segurança não estivesse garantida. Então na minha concepção, o desfecho traz ao espectador a seguinte reflexão: “será que de fato a esperança é a última que morre?” No decorrer da obra, o público percebe que quaisquer técnicas ou ferramentas aplicadas pelo diretor, como por exemplo qualquer ação realizada pelos personagens em função dos seus ideais, devem ser consideradas e os desafios que os dois garotos passam são de uma seriedade extrema. Aliás, quão boas foram as performances dos atores mirins!

A ligação fraternal que possuem envolve o público e faz com que o mesmo torça o tempo todo por eles. E isso ocorre frequentemente nas cenas carregadas com mais tensão, onde o telespectador pensa que em meio a todas as possibilidades, sejam elas desfavoráveis ou não, o pior acontecerá na vida real – vide a parte no trailer em que o pai dá um tapa no filho e pergunta se ele era judeu, logo após ordenar que eles nunca devem revelar quem são -; isso serve apenas como um teste, mas que à primeira vista sensibiliza qualquer um. Outro instante que vale citar aqui se trata de uma tomada onde os irmãos literalmente brincam com fogo, e realizam justamente aquilo que o título nacional sugere: “a enganação aos nazistas”. Posso dizer que essa cena, em particular, foi uma das melhores do filme, sendo executada com cautela pelo elenco, composto por Patrick Bruel e Elsa Zylberstein, Christian Clavier e Kev Adams.

Ademais, entre idas e vindas, eis um modesto retrato do que o cinema Francês tem a oferecer. Interessante que tal constatação mencionada acima se justifica assim que percebemos que os garotos não estão sozinhos como imaginávamos, e que, durante essa “longa jornada”, pessoas da mesma crença aparentam estar nos lugares mais improváveis. Aspecto este que favorece a expressão facial de quem se sente inseguro ao estar cercado de gente estranha e inimiga, principalmente se tratando de uma criança inocente. Desse modo, houve ainda um certo equilíbrio entre as dimensões social, emocional e, sobretudo, familiar com os demais figurantes que em nenhum momento param de se preocupar em proteger as suas vidas e a de seus semelhantes. Por fim, tecnicamente falando, a película foi muito bem realizada e, visto que estamos falando de uma obra do gênero dramático, o caminho seguido pelo roteiro fez com que ele, felizmente, despistasse o velho clichê. Logo, concluo dizendo que embora a fé seja o escudo protetor em praticamente toda religião, a paz sempre há de pedir uma nova chance, mas lembre-se: todo cuidado é pouco.

Título Original: Un Sac de Billes (A Bag of Marbles)
Direção: Christian Duguay
Duração: 112 minutos
Nota:

Assista o trailer:

Mais do NoSet

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *