Critica: Em busca de Fellini (2016)- Con amore per Il Maestro

 

Cavaleiro da Ordem do Mérito da República Italiana, Palma de Ouro em Cannes, Quatro vezes vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e um Honorário por sua obra, o diretor e roteirista Federico Fellini mudou o cinema com seus filmes pela combinação única de memória, sonhos, fantasia e desejo numa profunda visão pessoal da sociedade em temas como política, religião, pornografia e o cotidiano, não raramente colocando as pessoas em situações bizarras. Não é a toa que inúmeros cineastas americanos se inspiraram no seu estilo incluindo essa co-produção italo-americana.

Lucy Cunnigham (Ksenia Solo) viveu toda a sua vida numa cidadezinha de Ohio sob a saia da mãe superprotetora (Maria Belo) e os poucos incentivos morais da sua tia, Claire (Mary Lynn Rajskub) contribuindo para a sua imaturidade psicológica e pouca conexão com a realidade. Tudo muda quando uma doença debilitante ataca sua mãe e a força a ir atrás de sua independência. Nessa ida para Cleveland, descobre um festival de cinema gratuito exibindo os filmes de Il Maestro. Foi amor à primeira vista.
Comprou toda a coleção em VHS, assistindo várias vezes e tentou contato com o seu novo ídolo e sentido da sua vida, resultado: conseguiu agendar um encontro com ele em Roma. Dando inicio a uma saga aparentemente dirigida por ele.
O elenco principal formado por mulheres explora temas como a passagem da juventude para a vida adulta e a sutil misoginia social através do absurdo no cotidiano e da vulnerabilidade humana. Lembrando bastante o filme La Strada, traduzido no Brasil como A Estrada para a Vida com ecos de Alice no País das Maravilhas.

Solo, cujos trabalhos incluem Orphan Black e o Cisne Negro, entrega uma personagem sonhadora e temerosa pela limitante realidade cujo crescimento pessoal virá a custa da dura realidade tal qual Gelsomina. Belo representa uma mãe dividida entre a devoção incondicional à filha e o auto-desprezo pelos limites de sua proteção materna ao reconhecer a necessidade do conhecimento do mal, e Rajskub é o apoio moral de ambas meninas crescidas e donas de si.
Embora a direção de Taron Lexton tenha se inspirado na estética felliniana em seu primeiro trabalho no cargo, é possível perceber o uso de muitos planos americanos para focar na protagonista ao invés de explorar o ambiente e o pano de fundo. A homenagem é mais percebível pros entusiastas do diretor pelos personagens de fundo ou as situações enfrentadas. Ou quem já assistiu 8 ½, A Doce Vida e Noites de Cabíria, os mais famosos, saberá as referências escondidas.

   

O roteiro é de Nancy Cartwright compartilhado com Peter Kjenaas, baseado em sua memorável viagem pela Itália e seu grande apreço pelo italiano diretor antes de ser conhecida pela indústria do entretenimento como a voz americana de Bart Simpson, o pestinha primogênito da família amarela de Springfield. Ao misturar lembranças e fantasia, dá o tom felliniesco ao filme.

Em meio a uma bela direção de fotografia e jogos de cores e luzes numa trilha sonora oriunda dos longa-metragens fellinianos e das baladas da década de 90, o drama de amadurecimento e homenagem nostálgica a quem conciliava realidade e fantasia é indicado não somente para quem estuda cinema ou busca inspiração para ganhar futuros prêmios da área. Todos que sonham ou sofrem com as limitações da própria vida irão encontrar inspiração para seguir em frente ao aprender lições sobre o absurdo da vida e o ridículo socialmente aceito. Afinal, o visionário é o verdadeiro realista.

Título Original: In Search of Fellini
Diretor: Taron Lexton
Roteirista: Nancy Cartwright, Peter Kjenaas
Elenco: Maria Bello, Ksenia Solo, Mary Lynn Rajskub, Kim Evans, Enrico Oetiker

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