Portrait of British novelist and essayist Aldous Leonard Huxley (1894 – 1963), dressed in a suit and tie, who leans forward in a chair with his hands clasped together, 1950s. (Photo by Pictorial Parade/Getty Images)

Contraponto, de Aldous Huxley: O conflito entre o fingir e o ser

Contraponto, de Aldous Huxley, é um calhamaço que não enfada o leitor. Já tinha lido alguns contos do autor, mas este romance me surpreendeu. Não há uma história amarrada a ser contada, e não tenho como resumir em poucas palavras do que o livro se trata. Huxley coloca em cena, como se este fosse o diretor de uma grande peça, personagens dos mais variados e até antagônicos. Contraponto é sobre várias pessoas conversando entre si e com o leitor, expondo seus ideais de sociedade, política, religião, amor e tudo o mais.

Os personagens são contrapontos entre si e cada personagem possui um contraponto entre ele mesmo. Explico. Há o materialista, que não acredita nessa visão espiritual das coisas, que pensa como o mundo seria sem a religião e sem Deus, mas há o contraponto entre o falar e o agir. Pois este personagem vive como uma pessoa religiosa, com pudores em relação ao sexo, preservando uma moral judaico-cristã do mundo ao mesmo tempo em que o ataca. Há também a mulher que vive sem regras, que ama sem restrições, que está sempre sendo cortejada por homens e que se diz independente destes seja para o que for, até quando se trata de amor. Mas conforme o autor vai aprofundando mais sobre esta criatura tão livre e sem dependência de tipo algum, notamos o contraponto. Ela não gosta de ficar sozinha, tem pavor da solidão, e todo o seu discurso de ser independente não passa apenas de simples truque para conseguir o que quer e ter alguém sempre ao seu lado.

Há o romântico ingênuo e espiritualista, mas que na verdade é um lascivo. O pervertido, que procura vítimas para realizar os mais loucos sonhos sexuais, mas que nutre uma repulsa latente em relação ao sexo. E assim são todos os personagens deste romance magnífico, que expõe de forma cirúrgica o quanto os seres humanos são contradições ambulantes. Ao menos aqueles que se importam mais com a impressão que deixam aos outros do que ser quem realmente são sem medos ou desculpas.

Ideias, teorias, diálogos refinados e que arrebata o leitor, cenas em que a música pode ser ouvida, a sensação de subir aos céus, a repulsa que sentimos a determinados atos vis e imorais, a tristeza por ver uma criaturinha sofrendo e ao mesmo tempo a esperança de que, no fim das contas, tudo dê certo para ela. O engano, pois ao demonstrar que tudo ficou bem, a reviravolta que causa-nos perplexidade e compaixão.

Aldous Huxley escreve personagens humanos, frágeis, limitados, carentes, necessitados de que algo os salve. Certamente nos identificamos com algum ou outro, concordamos ou não com suas ideias, aceitamos ou não o seu destino. Mas seria o destino predeterminado? Eis uma das perguntas que temos ao ler os diálogos huxleyanos. Capitalismo, socialismo, liberalismo, conservadorismo, todos estes ismos nos levam a algum lugar? E o mais importante é que somos confrontados a analisar nossas vidas, saber quais são os nossos contrapontos, o que precisamos melhorar, como melhorar, será que devemos continuar sendo o que não somos, etc. Contraponto é uma grande obra e sou muito grato por ter esse calhamaço em minha biblioteca, um dos melhores romances que já li.


Tradução: Erico Verissimo

Tradução: Leonel Vallandro

Páginas: 688

Formato: 14cm x 21cm

Data de lançamento: 14/02/2014

ISBN: 9788525056061

Preço: R$ 59,90

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