Transcendence (2014). Uma obra que irá fazê-los refletir.

Desde que a revolução Industrial ocorreu no século XIX, as máquinas têm sido uma preocupação que atormenta o ser humano. São visíveis os progressos obtidos pela tecnologia, assim como também são notórios os temores diante das inovações.

Isaac Asimov escreveu muito sobre o tema da tecnologia sobrepujando a humanidade. Alguns filósofos meditam acerca do domínio tecnológico, da presença massiva das revoluções industriais que ocorrem a cada novo dia, no nosso cotidiano. O filme Matrix mostrou, ainda que de forma grandiosa, os efeitos de uma sociedade cujos anseios por evolução e comodidade tecnológica podem trazer.  Em o Exterminador do Futuro, as máquinas são o vilão, responsáveis pelo quase extermínio dos humanos.

A teoria da criatura se voltando contra o criador está presente no inconsciente humano, seja por meio de histórias como Frankenstein, seja pelo notório medo do uso da tecnologia para melhorarmos. Células-tronco são uma solução para uma ainda inexplorada gama de males, mas isso não justifica – na visão de uma grande quantidade de pessoas – o uso de tal artifício.

Seja como for, olhe ao redor e confirme uma realidade: a tecnologia e as evoluções (comodidades e benefícios) não podem ser negadas. Também não poderá negar que elas quando mal usadas podem ser ruins. Guerras, desvio de dinheiro público, manipulação de opinião, formação de crenças, criação de doenças, notícias falsas… tudo isso e muito mais fazem parte de uma era digital na qual tudo é possível, inclusive a prática do mal.

Transcendence é um filme diferente, ambientado em um presente cujas novidades tecnológicas unem as pessoas, mas também afastam. A Era Digital é uma realidade onde cada vez mais as pessoas se afastam fisicamente para estar próximas digitalmente. A frigidez diante do próximo virou rotina. O descaso pela vida alheia é notório e preocupante. As pessoas estão mais isoladas, mesmo com incontáveis amigos no mundo virtual. Diante deste quadro sinistro e escondido pelo virtual, um grupo de radicais procura acabar com a possibilidade de criação de uma inteligência artificial incompreensível, capaz de tomar decisões independentes, capaz de se aproximar da consciência humana.

Tal como anunciado em obras de mestres da ficção como Asimov, Transcendence mostra um casal de cientistas que busca o melhor para o mundo através da tecnologia. Will Caster (Johnny Depp) é um pesquisador de grande influência no campo da I.A., apoiado por sua esposa Evelyn (Rebecca Hall). Eles querem usar a I.A. para promover a cura de doenças, a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Suas intenções são as melhores, porém causam desconfiança e medo por parte de um grupo contrário à tecnologia, liderado por Bree (Kate Mara). Em meio a esse cenário, um atentado ocorre e mata um grande número de pesquisadores. Will e Evelyn sobrevivem, assim como seus amigos Joseph (Morgan Freeman) e Max (Paul Bettany). Eles são os mais hábeis em nanotecnologia e inteligência artificial. São o futuro das pesquisas nesses campos.

Entretanto um fato é descoberto. Will foi contaminado por um projétil envenenado com radiação. Sua vida acabará rapidamente, o que leva Evelyn e Max a um ato extremo para salvá-lo: converter sua essência em I.A., mesclando-a a uma poderosa rede de computadores chamada P!NN. Will morre fisicamente, mas sua essência permanece intacta na forma de algo jamais visto, uma forma virtual de inteligência que o trouxe novamente à vida. Will transcendeu a morte através das máquinas.

O que verão a seguir é um notável debate sobre os limites do homem. A que custo os sonhos poderão ser realizados? É ético impor sua verdade sobre a de outros? É ético anular pessoas de suas vontades em prol de um futuro melhor?

Transcendence toca a todo instante nesses detalhes que podem separar um sonhador de um ditador. Will retorna e se aprimora a cada instante. Evelyn é sua parceira e ajuda-o a concretizar algo antes impensável. Mas a cada segundo vocês terão novas cartas à mesa, cada uma delas mostrando que o jogo pode ficar mais perigoso, mostrando que as apostas estão ficando altas demais.

Assim sendo, o filme parte para um conflito filosófico onde as ações de homens e máquinas irão mostrar que os maiores males partem de nossa essência humana.

A utópica vida perfeita pode ser alcançada um dia, desde que seja por vias justas, sem a imposição de ideologias… sem a submissão de pessoas às vontades de outras.

Recomendo Transcendence por mostrar um futuro possível, principalmente diante de nosso descaso e desconhecimento do que ocorre no mundo virtual. Somos alienados que se valem de programas e interfaces fáceis de usar, porém por nós desconhecidas. Transcendence relembra algo muito importante: os maiores males não foram feitos por máquinas; foram feitos por quem as criou e manipulou.

Como disse antes, mais do que um filme, Transcendence é um exercício de reflexão sobre temas controversos como religião, ditaduras, tecnologia e a facilidade com que nós, humanos, nos entregamos a soluções rápidas e fáceis. Somos manipuláveis por conta de nosso egoísmo ou apenas queremos ser felizes?

Que me perdoem os fãs de filmes cuja única finalidade é divertir, já que também gosto desse tipo de entretenimento, mas é bom ter algo na indústria do cinema que fuja da ação sem sentido ou de temas simples. Pôr a mente para refletir, meditar sobre quem somos e o que iremos nos tornar é algo que dever ser feito com mais constância. Esse longa-metragem é uma das ferramentas que pode ser usada para isso.


Dados Técnicos:

Direção: Wally Pfister

Música composta por: Mychael Danna

Roteiro: Jack Paglen

Produção executiva: Christopher Nolan, Emma Thomas, Dan Mintz

Lançado no Brasil em 1º de maio de 2014.

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